O “Relatório Draghi” e as “amarras” da Europa!

Por Ricardo Florêncio

O tão esperado e anunciado Relatório Mário Draghi foi apresentado no início do mês de Setembro. Alguma surpresa no seu conteúdo? Para os mais atentos, talvez não. Apenas, e não é nada pouco nos tempos que correm, colocar por escrito, de uma forma “nua e crua”, uma série de factos, do muito que se vem falando, mas pouco fazendo. Há muito que a Europa tem vindo a perder a sua influência política no Mundo. Mas tinha influência económica. Situação, e poderio, que veio a cair ao longo das últimas décadas. A sua influência nas políticas comerciais globais foi-se desvanecendo. O nível de investimento, a capacidade de inovação, os custos (nomeadamente de matérias-primas e energia) que são praticados na Europa versus os seus “concorrentes”, entre outros factores, levam a uma perda de competitividade. A Europa, hoje, está altamente dependente de outros mercados no que respeita à produção, pois os níveis de investimento na indústria foram caindo, o que, aliado a custos de mão-de-obra e outros recursos mais baixos, as deslocalizou para outras geografias. E se a curto prazo pareceu até ter alguns resultados positivos, hoje conclui-se os efeitos devastadores que traz. E agora, pois agora, e segundo este mesmo relatório, serão necessários 800 mil milhões de euros de investimento anual. Atendendo a que, na verdade, em muito poucos casos, se assistiu a um verdadeiro mercado único europeu, atendendo à diversidade e complexidade dos países que compõem a União Europeia, não será nada fácil quer disponibilizar essas verbas, quer conseguir uma decisão unânime sobre quais os caminhos a percorrer. E, para além de tudo isto, ainda existe uma outra questão que “amarra” a Europa: os níveis de regulação são muitas vezes tão apertados, tão exigentes, que condicionam e fragilizam o tão necessário desenvolvimento. É óbvio que tem de haver regras, mas…

Editorial publicado na revista Executive Digest nº 222 de Setembro de 2024