Vale de Judeus: Guardas supervisionados por outro guarda devido a falta de chefes no momento da fuga de reclusos
No passado sábado, 7 de setembro, cinco reclusos conseguiram escapar da cadeia de Vale de Judeus, em Alcoentre, numa operação que revelou graves falhas na estrutura de comando da prisão. Na altura da fuga, a prisão estava a ser supervisionada por um guarda, devido à falta de chefes no estabelecimento prisional. Esta situação foi confirmada por dois sindicatos do setor, que destacam a escassez crítica de chefias nos serviços prisionais.
Hermínio Barradas, presidente da associação sindical de chefias, detalhou ao Correio da Manhã (CM) a gravidade da situação. “O quadro de chefes prevê 526 posições, mas apenas 260 estão atualmente ao serviço”, explicou Barradas, sublinhando que a idade média dos chefes em atividade ronda os 57 anos. No dia seguinte à fuga, a cadeia continuou a ser liderada por um guarda, em vez de um chefe, evidenciando a contínua carência de recursos humanos qualificados para assegurar a gestão de situações complexas como a ocorrida.
A Polícia Judiciária (PJ) esteve ontem em Vale de Judeus para realizar diligências no local, investigando os contornos da fuga. Um dos focos da investigação foi o guarda que conduzia a carrinha da prisão e que foi o primeiro a dar o alerta sobre a evasão dos cinco detidos. A PJ está a investigar as circunstâncias em que ocorreu a fuga e está a recolher testemunhos que possam esclarecer a sequência dos acontecimentos.
Em paralelo, a PJ tomou a iniciativa invulgar de recorrer às redes sociais para pedir informações que possam levar à captura dos reclusos evadidos. A publicação, uma medida rara para o órgão de investigação, reforça a urgência em localizar os fugitivos, dada a gravidade da situação.
Além dos interrogatórios e do apelo público, a PJ também conduziu uma análise minuciosa às instalações da prisão. Um dos locais inspecionados foi o ginásio do estabelecimento, onde, segundo informações apuradas pelo CM, terá desaparecido um gancho, alegadamente furtado por Fábio ‘Cigano’, um dos reclusos que conseguiu fugir. Acredita-se que este gancho tenha sido utilizado pelo grupo para escalar o primeiro muro da prisão, facilitando a sua evasão.
A fuga dos cinco reclusos trouxe novamente à tona o problema crónico de falta de chefias nos estabelecimentos prisionais em Portugal. Segundo Hermínio Barradas, a situação em Vale de Judeus não é única e reflete uma realidade vivida em várias prisões do país, onde a escassez de chefes se tem tornado um desafio crescente para a segurança e funcionamento eficiente do sistema prisional.
Os sindicatos do setor têm vindo a alertar as autoridades competentes para a necessidade urgente de renovação dos quadros de chefias, bem como para a necessidade de melhorar as condições de trabalho dos guardas prisionais. Com uma idade média elevada, muitos chefes estão próximos da reforma, o que agrava a situação, deixando lacunas significativas na liderança das operações diárias nas prisões.