O que mudou depois do atentado de 11 de setembro? As feridas que permanecem 23 anos depois

Hoje, quarta-feira, marca-se o 23º aniversário dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, um dos eventos mais marcantes e devastadores da história contemporânea. Passadas mais de duas décadas, o impacto dos ataques ainda reverbera, moldando a política global e a segurança internacional, alterando a perceção das ameaças terroristas e redefinindo as estratégias de combate ao terrorismo.

O 11 de Setembro: O Dia que Mudou o Mundo
Na manhã de 11 de setembro de 2001, quatro aviões comerciais foram sequestrados por 19 terroristas da Al-Qaeda. Dois dos aviões colidiram deliberadamente contra as Torres Gémeas do World Trade Center, em Nova Iorque, resultando na morte de todos os passageiros a bordo e de muitos trabalhadores nos edifícios. Os arranha-céus desmoronaram horas após o impacto, destruindo edifícios adjacentes e vitimando ainda mais pessoas. Um terceiro avião atingiu o Pentágono, sede do Departamento de Defesa dos EUA, enquanto o quarto avião, com destino provável a Washington, D.C., caiu num campo em Shanksville, Pensilvânia, depois dos passageiros tentarem retomar o controlo da aeronave.

As imagens dos aviões a embaterem nos edifícios e o colapso subsequente das Torres Gémeas chocaram o mundo. Ao todo, quase 3.000 pessoas perderam a vida neste ataque coordenado, que expôs de forma brutal a vulnerabilidade dos Estados Unidos e da sua infraestrutura.

A Resposta Americana: A “Guerra ao Terror”
Imediatamente após os atentados, o então presidente dos EUA, George W. Bush, declarou guerra ao terrorismo, prometendo levar os responsáveis à justiça. Esta “Guerra ao Terror” levou à invasão do Afeganistão em outubro de 2001, com o objetivo de derrubar o regime talibã, que oferecia refúgio à Al-Qaeda e ao seu líder, Osama bin Laden, apontado como o cérebro dos ataques.

Dois anos depois, em 2003, os EUA invadiram o Iraque, sob a alegação de que o ditador Saddam Hussein estaria a desenvolver armas de destruição massiva e a apoiar redes terroristas. Embora as alegações de armas de destruição massiva nunca tenham sido confirmadas, a invasão resultou na captura e eventual execução de Saddam Hussein.

O Afeganistão e o Iraque tornaram-se os principais palcos da guerra prolongada contra o terrorismo, onde milhares de vidas, tanto militares como civis, foram perdidas. As operações militares nesses países continuaram por muitos anos, com tropas americanas a permanecerem no Iraque e no Afeganistão durante mais de uma década após as invasões iniciais.

A Caça a Osama bin Laden
Durante quase uma década, os EUA perseguiram Osama bin Laden, o líder da Al-Qaeda, que se escondeu em diversas regiões montanhosas, até ser localizado e morto em maio de 2011, numa operação conduzida por forças especiais americanas no Paquistão. O então presidente Barack Obama anunciou a morte de bin Laden num discurso televisivo, descrevendo-a como um momento de justiça para as vítimas dos atentados de 11 de setembro.

O Impacto Global: Mudanças na Segurança e Vigilância
Os atentados de 11 de setembro não mudaram apenas a política externa americana; tiveram também um impacto profundo na segurança interna. Logo após os ataques, foi aprovada a USA Patriot Act, legislação que ampliou os poderes das agências de inteligência para monitorizar e investigar indivíduos suspeitos de envolvimento em terrorismo. Este aumento da vigilância incluiu a interceptação de comunicações sem necessidade de autorização judicial, o que gerou críticas significativas de grupos de direitos civis.

A Patriot Act foi renovada várias vezes e, em 2015, foi substituída pela USA Freedom Act, que manteve algumas das suas provisões, mas com restrições ao uso de dados pessoais. Este conjunto de medidas tornou-se objeto de debate, com críticos a apontarem para o seu impacto nas liberdades civis e para as revelações de vigilância global, nomeadamente após as divulgações de Edward Snowden, ex-funcionário da Agência de Segurança Nacional (NSA), em 2013.

Mudanças na Política Internacional
As guerras no Afeganistão e no Iraque e a resposta americana ao terrorismo tiveram repercussões a longo prazo. Muitos analistas apontam que as invasões e ocupações exacerbaram a instabilidade no Médio Oriente, criando um terreno fértil para o surgimento de novos grupos extremistas, como o autoproclamado Estado Islâmico (EI), que prosperou no caos resultante da guerra civil na Síria e da fragilidade política no Iraque.

O confronto entre o Ocidente e o mundo árabe intensificou-se, e várias nações da Europa também foram alvo de ataques terroristas, muitos deles reivindicados por grupos inspirados pela Al-Qaeda ou pelo Estado Islâmico. O legado de 11 de setembro inclui também um debate contínuo sobre a ética e a eficácia da intervenção militar no estrangeiro e o papel das grandes potências na estabilização (ou desestabilização) de regiões sensíveis.

Memórias e Homenagens
Em Nova Iorque, o local onde antes se erguiam as Torres Gémeas é hoje o Ground Zero, um memorial que homenageia as vítimas dos ataques. Todos os anos, cerimónias solenes relembram aqueles que perderam a vida, e o impacto emocional e psicológico deste dia continua a ser sentido por sobreviventes, familiares das vítimas e por toda a sociedade americana.

A data serve não só para recordar o horror dos ataques, mas também para refletir sobre as profundas transformações que moldaram o mundo no período pós-11 de setembro. Como afirmou Richard Fadden, antigo conselheiro de segurança do Canadá, “antes do 11 de setembro, o terrorismo já era uma preocupação, mas o mundo mudou na sua essência” após os ataques.