Aproveitar o tempo na praia para pensar em poupanças? Coach financeiro dá conselhos e sugestões para trabalhar a literacia financeira durante as férias
Pode parecer um contrassenso, mas a verdade é que as férias de verão, quando estamos mais descansados, ‘folgados’ e de cabeça limpa, podem ser a melhor altura para começar a trabalhar em incrementar a sua literacia financeira, e adotar comportamentos que se podem revelar essenciais para ter uma vida futura mais confortável.
Quem o diz é Luís Lourenço, coach financeiro da Paynest que, em entrevista à Executive Digest, explica porque aproveitar este período de descanso para pensar em ‘coisas mais sérias’ e deixa alguns conselhos para quem quer começar a introduzir-se ao mundo das finanças pessoais.
“O verão é sempre um momento em que temos mais alguma paz de espirito, saímos da azafama do dia-a-dia e de todas as coisas para fazer, e temos mais tempo para refletir e pensar em algumas coisas que, normalmente, pensamos menos. É claro que o verão também é altura em que procuramos esquecer a quantidade de problemas que temos no resto do tempo, e às vezes pensar em dinheiro parece que pode não ser muito apropriado, para esta altura”, admite o especialista. No entanto, sublinha, é necessário primeiro perceber a importância de dedicar tempo a este tema.
“Todos nos sabemos a importância do dinheiro, mas, muitas vezes, não consciencializamos, digamos assim; porque se conseguirmos projetar a nossa vida no futuro, a 5, 10, 15 ou mais anos, conseguimos perceber melhor a importância de realmente conseguirmos chegar a estas alturas e ter uma vida financeira tranquila”, assinala o coach financeiro.
Qual o primeiro passo?
Segundo Luis Lourenço, o primeiro passo a dar é “procurar entender qual a importância do dinheiro na nossa vida”. “Basta pensar que, desde que nos levantamos até que nos deitamos à noite, tudo custa dinheiro, menos respirar”, brinca.
A necessidade começa realmente a manifestar-se “se tivermos determinados tipos de projeto para o futuro, por exemplo, quem tem filho e gostaria de proporcionar-lhes educação num determinado sítio, ou se quisermos adquirir casa, comprar ou mudar de carro”.
Tendo esta consciência, “podemos mais facilmente aproveitar o tempo menos pressionado do verão para dedicar realmente então alguma atenção a este tema, poder aprender sobre ele, refletir e começar a desenvolver algumas ações ou tomar decisões sobre o que podemos fazer na nossa vida financeira”.
Conselhos e ideias práticas
“Muitas vezes digo, por ser esta altura do verão: até em família e amigos, muitas coisas que se podem fazer que ajudam a introduzir de forma acessível, didática e divertida, questões de finanças pessoais”, indica o coach financeiro à Executive Digest.
Temos mais tempo para ver séries, filmes e ler livros… Porque não que sejam sobre o tema das finanças? “Há muitos conteúdos em várias plataformas e formatos que podemos ver sozinhos ou em família, num ambiente descontraído”, indica.
Filmes e séries recomendados:
- “Como lidar com o dinheiro”: este documentário, com cerca de 90 minutos, reúne um conjunto de consultores financeiros que partilham conselhos simples sobre como gastar menos, poupar mais e começar a investir.
- “Como ficar rico”: também do género documentário, esta minissérie de oito curtos episódios expõe a vida e decisões financeiras de diferentes pessoas, que são acompanhadas pelo especialista em finanças pessoais Ramit Sethi.
- “O mago das mentiras”: o filme sobre o consultor financeiro Bernard Madoff e sobre como funcionava o Esquema Ponzi, a maior fraude financeira da história dos EUA.
Se é mais de leituras de verão, Luís Lourenço destaca que , na gestão do dinheiro, “é sempre importante dominar tema da psicologia”. Segundo explica, fazer um orçamento e calcular as receitas e despesas não chega. “As pessoas têm de ter a psicologia correta, o mindset e mentalidade certos. Só as técnicas não bastam”. Assim, é recomendado o livro “A Psicologia do Dinheiro”, da autoria de Morgan Housel, “um livro que cabe em qualquer mala de praia e que pretende ajudar a compreender o dinheiro e as questões financeiras, através de 19 histórias diferentes”.
Jogos, mealheiros e compras. Envolver os mais novos nas decisões financeiras familiares é essencial
Para miúdos e graúdos, pode também ser interessante ir buscar o velho tabuleiro de Monopólio lá de casa. Se por um lado ajudará a perceber alguns conceitos (e a redescobri-los) se olhar além do jogo, também permitirá que os mais novos comecem a ter algumas noções de finanças pessoais, e de uma maneira divertida e descontraída.
“Podemos criar pequenos desafios que se podem fazer no verão ou qualquer altura do ano. Por exemplo, poupar um euro por dia este mês, e fazer disto uma espécie de jogo com amigos, família, ou sozinho. No fim do mês podem ser só 30 euros, mas ficou um hábito e, continuando o mesmo, no fim de um ano temos 300 ou 400 euros e depois já ficamos com vontade de investir esse dinheiro e multiplicá-lo”, exemplifica.
A chave, reforça, “é criar e desenvolver um mindset da importância do dinheiro”.
Também, indica Luís Lourenço, deve procurar integrar-se crianças e adolescentes nas decisões sobre o orçamento familiar, e também nestes ‘jogos’ de poupança. “Não necessariamente a pouparem um euro por ia, mas a funcionarem como ‘árbitros’, dando-lhes uma responsabilidade, ou até a participarem nas decisões sobre as compras a fazer, onde ir de férias, o que fazer no fim de semana, gerir uma determinada quantia de dinheiro para uma refeição…”, exemplifica.
“É importante que se sintam integrados no projeto familiar e ao mesmo tempo informados sobre o tema da gestão do dinheiro, que é absolutamente crucial”, resume.
Assim, deve-se criar um “objetivo” de família, e juntar os esforços de todos nesse sentido.
Caso não seja um hábito seu preparar financeiramente as férias, e criar um orçamento, saiba que já vai tarde, mas nunca tarde demais. Segundo o coach financeiro, deve dividir o dinheiro que quer gastar pelos dias que lhe restam de férias e usar isso como ponto de partida para começar a preocupar-se mais com as suas finanças pessoais. “Em vez de ir jantar fora, podemos organizar um jantar com amigos. Em vez de gastarmos dinheiro a passear no fim de semana, devemos aproveitar os eventos e festas gratuitas, que agora há por todo o País. Basta consultar as agendas culturais!”, aconselha.
“As pequenas coisas podem mesmo ser passos de gigante” na altura de trabalhar para uma melhoria da nossa vida financeira, termina Luís Lourenço, em declarações à Executive Digest.