Há quase um milhão de animais nas ruas em Portugal. Todos os anos são recolhidos pelas autoridades cerca de 40 mil

A falta de condições económicas e os despejos são apontados como os principais motivos para o abandono de animais em Portugal. Atualmente, estima-se que existam 931 mil animais nas ruas do país, sendo os gatos mais numerosos que os cães. Na Casa dos Animais de Lisboa, o centro de recolha oficial do município, já foram acolhidos 321 animais apenas este ano.

Revista de Imprensa
Julho 16, 2024
12:22

A falta de condições económicas e os despejos são apontados como os principais motivos para o abandono de animais em Portugal. Atualmente, estima-se que existam 931 mil animais nas ruas do país, sendo os gatos mais numerosos que os cães. Na Casa dos Animais de Lisboa, o centro de recolha oficial do município, já foram acolhidos 321 animais apenas este ano.

“Infelizmente, ainda se nota um grande número de abandonos”, lamenta Sofia Baptista, veterinária e chefe de divisão da Casa dos Animais de Lisboa, ao Diário de Notícias. “Muitos dos casos de tentativa de abandono, ou mesmo de abandono, ocorrem por dificuldades económicas. Acontece quando os tutores enfrentam situações de vulnerabilidade económica, despejos ou internamentos compulsivos”, explica a responsável.

A crise económica e a crise imobiliária têm contribuído significativamente para o aumento do abandono de animais nos últimos cinco anos. “Temos assistido a picos de abandono, resultantes da crise económica e da crise imobiliária. Tem sido brutal”, afirma Margarida Saldanha, responsável pelo abrigo da União Zoófila, em Lisboa.

Além das dificuldades económicas, Margarida Saldanha destaca questões de índole pessoal dos tutores como uma causa adicional para o abandono. “Há pessoas que têm uma crise de valores tremenda. Não têm qualquer afeto pelo ser vivo, adotam por motivos impulsivos e sem ponderação”, acrescenta.

No abrigo da União Zoófila, encontram-se cerca de 400 cães e 160 gatos. “No caso dos gatos, muitas pessoas abandonam-nos em colónias, mas isso equivale a condená-los à morte”, alerta Margarida Saldanha. “Um gato doméstico não está preparado para sobreviver nas ruas. Está sujeito a atropelamentos, ataques de outros animais e maldade humana”, explica.

O Censo Nacional de Animais Errantes 2023, elaborado pela Universidade de Aveiro e pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), indica que há mais de 930 mil animais errantes em Portugal. O Relatório Anual de Atividade dos Centros de Recolha Oficial 2022, também do ICNF, revela que foram recolhidos 41.994 animais em todo o país no último ano, uma ligeira redução face aos 43.603 de 2021. Contudo, desde 2018, o número de recolhas aumentou 17,52%.

Abandonar animais é um crime punível com pena de prisão até seis meses. Sofia Baptista sublinha que “há sempre soluções, só não há solução para a morte”. A veterinária apela à responsabilidade dos tutores, frisando que adotar um animal é um compromisso para a vida.

Para prevenir o abandono, existem programas de apoio. O protocolo com a Ordem dos Médicos Veterinários oferece o “cheque-veterinário” para tutores em dificuldades económicas. “Os tutores podem solicitar o cheque-veterinário por email à Casa dos Animais de Lisboa, apresentando comprovativo da sua situação económica”, explica Sofia Baptista. Este cheque permite acesso a tratamentos, vacinações, desparasitações, cirurgias e esterilizações sem custos.

Além disso, a Casa dos Animais de Lisboa colabora com a associação Animalife, que fornece alimentação, produtos de higiene e serviços de saúde animal a famílias carenciadas. “A esterilização é crucial para controlar a população animal e evitar abandonos”, enfatiza Sofia Baptista.

Enquanto alguns abandonam os seus animais, outros chegam a “humanizá-los demasiado”, observa Pedro Serra, proprietário da creche canina Tails by Petmais, em Lisboa. “Aqui, os cães convivem, brincam e são treinados diariamente”, explica. A creche recebe cães de todas as raças, com tarifas que podem chegar aos 320 euros mensais.

“Os tutores que utilizam este serviço são aqueles que amam verdadeiramente os seus animais e querem proporcionar-lhes uma vida ativa e socialmente enriquecedora”, diz Pedro Serra. As atividades incluem brincadeiras com garrafas recicladas e até festas de aniversário caninas.

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