Explorar a “velocidade verde” nas autoestradas portuguesas

Por João Amaral, Chief Technology Officer & Country Manager Portugal da Voltalia

A crescente preocupação com as alterações climáticas estimulou uma transição global rumo a soluções de transporte mais sustentáveis. Os veículos elétricos (VE) surgem como os atores principais neste cenário, oferecendo uma alternativa limpa e eficiente aos motores de combustão interna. Contudo, a simples adoção de VEs não é suficiente, na medida em que é fundamental executar políticas de discriminação positiva que incentivem o seu uso e acelerem a redução das emissões de gases de efeito estufa. Entre essas políticas, a possibilidade de limites de velocidade diferenciados para os VEs nas autoestradas surge como uma ideia inovadora e potencialmente eficaz.

No entanto, antes de abordar a ideia dos limites de velocidade diferenciados, é importante referir os procedimentos habituais de discriminação positiva. Incentivos fiscais, como isenção de impostos e subsídios para a compra de VEs para empresas e particulares, têm-se revelado eficazes. Além disso, benefícios como estacionamento gratuito, acesso a faixas exclusivas e isenção de portagens aumentam a atratividade dos VEs. Estas medidas já demonstraram o seu valor em vários países, mas precisamos de ir além.

Desta forma, a sugestão de introduzir uma “velocidade verde” nas autoestradas, com limites de velocidade diferenciados para VEs, merece uma análise mais profunda, uma vez que esta medida poderia trazer várias vantagens, entre elas valorizar a eficiência energética característica dos VEs. Permitir que estes veículos circulem em velocidade positivamente diferenciada maximizaria a sua eficiência energética de uma determinada via. Os VEs não emitem poluentes diretamente e há que garantir que a produção de eletricidade na origem dos carregamentos é originada em fontes verdes, algo mais provável na matriz energética portuguesa. Portanto, recorrer à eficiência dos VEs contribui indiretamente para a redução das emissões totais de gases de efeito estufa do parque automóvel.

Sabendo que, naturalmente os utilizadores de VE’s já procuram maximizar a vida útil da bateria e reduzir o número de carregamentos, dar a possibilidade de discriminar positivamente os limites de velocidade apenas para VE’s, penalizando os automóveis a combustível, poderá ser um prisma que conduza a uma ainda maior adoção desta forma de locomoção.

Adicionalmente, devemos ainda falar sobre a maior segurança nas autoestradas. Os VEs, sendo geralmente novos e tecnologicamente avançados, possuem sistemas de assistência ao condutor.

Naturalmente, levar a cabo a introdução de limites de velocidade diferenciados para VEs também apresenta desafios. Seria um desafio caso se optasse pela introdução de faixas específicas para “velocidade verde”, que apenas poderiam melhorar a fluidez do trânsito para VE’s. Antes de mais, é fundamental garantir que este tipo de políticas chega a toda a população e não apenas a alguns segmentos. Nesse sentido, são necessários programas mais atrativos de incentivos para tornar os VEs acessíveis a todos os cidadãos.

Sabemos também que qualquer alteração importante nas regras de trânsito deve ser muito bem comunicada e justificada para que esta obtenha o apoio do público. Campanhas de sensibilização são fundamentais para explicar aos cidadãos os benefícios das novas regras e estimular a aceitação das mesmas.

A discriminação positiva dos veículos elétricos pode ser uma estratégia a ponderar de modo a acelerar a transição verde, concedendo-lhes discriminação positiva pela sua capacidade de reduzir as emissões de gases de efeito estufa face a um automóvel comparável. A introdução de limites de velocidade diferenciados, ou uma “velocidade verde”, nas autoestradas é uma proposta que, apesar de apresentar desafios, poderá trazer benefícios em termos de eficiência energética global da frota, redução de emissões e melhoria da segurança na estrada, permitindo assim avançar de forma eficaz na luta contra as alterações climáticas, promovendo um futuro mais limpo e sustentável.