Empreendedorismo sim… e a gestão?
Opinião de Nelson Pires, General Manager da Jaba Recordati
Tenho acompanhado algumas start ups com capacidades e projectos fantásticos de I&D, ideias que podem resultar em produtos inovadores e talvez no próximo unicórnio que tanta falta faz à economia portuguesa. Conseguimos criar este espírito inovador e empreendedor na academia. Mas para além de um elevado conhecimento, uma network entre investigadores notável, uma capacidade de implementação inicial, não tem algo fundamental para fazer vingar o seu projeto: capacidade de gestão e capital. Julgo que devemos ter dos melhores investigadores do mundo. Mas quando falamos de potencial de mercado, avaliação do valor do projeto em cada uma das suas frases, SiFIDE, “time to market”, EBITDA, “peak of sales”, mercados de entrada com KPIs definidos e cronogramas, fontes de “seed capital”…. Não sabem responder e muitas vezes, nem existe um business plan sequer. Mas não tem de existir, pelo menos feito pelos empreendedores e investigadores. As universidades não lhes dão estas competências, pois não incluem cadeiras de gestão nos cursos e doutoramentos. Mas já basta fazer um pós-doutoramento numa área científica, não vamos pedir para tirarem um MBA de gestão a seguir… Só que também não são apoiados posteriormente de forma adequada pelos “hubs” de start ups, que tentam, mas não conseguem, pois não têm know-how prático de negócio. Não se trata de dinheiro mas conhecimento e facilitação do processo de I&D. Temos também, como sociedade, exigir e “obrigar” os institutos públicos a acelerar (não a facilitar) processos, prestar apoio e isentar de taxas as start-ups. Algo que vai reter talento, inovação e investimento no nosso país. Impedir que os nossos cérebros “fujam” para os EUA, Europa e mesmo China, onde estas comunidades já existem. Nas mais reputadas do mundo, qualquer projeto de investigação que se inicie e seja financiado publicamente, tem de dar origem a uma “spin-off” de uma “start-up”. Se não, ou é considerado investigação básica patenteável e útil para a cadeia de valor de processos de outras empresas, ou nem sequer é considerado para estar a investigar nesta instituição. Em Portugal, os estudos por iniciativa do investigador são muitos, financiados publicamente pela FCT (e bem) ou outra instituição, mas sendo investigação básica o objetivo é publicar “papers” científicos. Atividade muito relevante, mas que se trata apenas do início da cadeia de valor. Parar aí, é “matar” o processo criativo dum país. Mas não continuar, é também “matar” a economia futura dum país.
Temos, portanto, para aproveitar estas competências e conhecimento magnífico, de criar comunidades de conhecimento integrado, com centros de mentoria nas universidades, nos centros empresariais, nos organismos públicos que permitam que os investigadores apenas façam aquilo que fazem melhor: investigar e produzir resultados! Não podem também procurar investidores, pensar na gestão ou nas restantes tarefas que um negócio que está a nascer implica. Criar um ambiente de inovação intenso implica investimento de tempo dos gestores seniores e de toda a comunidade empresarial para apoiar estes investigadores. Investidores, mentores e gestores precisam-se!