Nova SBE: Acelerar a competitividade da economia portuguesa

Em entrevista à Executive Digest, Joana Belo Costa, directora executiva da Iniciativa VOICE Leadership e head of Custom Programs e Carla Figueiredo, head of Portfolio Management & Open Programs da Nova SBE, explicam qual a missão da instituição em contribuir para o crescimento e prosperidade do País.

O que motivou a criação do movimento VOICE Leadership Initiative na Nova SBE?

Joana Belo Costa (JBC): Através da investigação desenvolvida pelo professor Francisco Queiró da Nova SBE, compreendemos que existe uma correlação entre o nível de escolaridade dos gestores e a produtividade das empresas. As estatísticas mostram-nos que se Portugal tivesse a distribuição de educação dos gestores dos EUA, a produtividade aumentaria 20% (Entrepreneurial human capital and firm dynamics, The Review of Economic Studies 2022).

Em paralelo, Portugal continua a registar uma das taxas de crescimento do PIB per capita mais baixas da Europa e a economia precisa de crescer quase 10 pontos percentuais (dados: PT 17%, UE 25%) para convergir com a média da União Europeia. O tecido empresarial português é maioritariamente constituído por PME centradas em bens não transaccionáveis e com pouca capacidade de escala.

É perante este cenário que a Iniciativa VOICE Leadership surge. Enquanto escola, tendo como missão contribuir para o crescimento e prosperidade do País, entendemos que podemos apoiar no aumento da competividade e produtividade das empresas portuguesas, através da capacitação dos seus gestores. O foco desta iniciativa recai sobre as PME, pois representam mais de 90% do tecido empresarial português e portanto onde se situa o maior potencial de crescimento e mudança.

Quais os principais objectivos da VOICE Leadership Initiative?

JBC: O principal objectivo do VOICE Leadership é ter um impacto positivo de 2% no PIB português até 2026, através da capacitação de gestores e decisores de 5000 PME, acelerando a competitividade global da economia portuguesa através de um programa nacional de formação e mentoria. Pretendemos transformar as pequenas empresas em médias empresas e as médias em grandes. Apostar na transformação de empresas de bens não transaccionáveis em empresas de bens transaccionáveis e impactar a economia portuguesa, criando valor real para o nosso país.

Como é que o VOICE Leadership se diferencia de outras iniciativas de liderança?

JBC: A iniciativa VOICE Leadership é diferenciadora porque oferece às PME um programa de formação em gestão composto por 80 horas, num formato online e presencial, no qual serão trabalhadas diferentes áreas específicas da gestão, como Crescimento e Internacionalização, Gestão Sustentável do Negócio e Transformação digital, e em complemento um programa de mentoria único em Portugal, em que as PME poderão usufruir de mais de 12 horas de mentoria por parte de um grupo de mais de 300 mentores especializados. Para além disto, esta iniciativa oferece ainda conteúdos complementares em áreas de conhecimento diversificadas de consumo fácil e rápido associados às rotinas diárias de gestão, bem como um calendário de eventos temáticos e sectoriais que pretendem dinamizar a rede de PME e as oportunidades de crescimento e sinergias.

Em suma, esta é uma iniciativa bastante diferenciadora de um programa de liderança, pois tem como grande objectivo capacitar os gestores e decisores com ferramentas de gestão que possam aplicar de forma ágil no dia-a-dia, tornando os resultados mais rápidos e eficazes.

Quais os principais desafios enfrentados pelo VOICE Leadership e como estão a ser abordados?

JBC: A rede de PME portuguesas é bastante diversa e granular, sendo acima de tudo composta por micro e pequenas empresas, em que o principal decisor desempenha diversos papéis em simultâneo e, por isso, o grande desafio é conseguir o compromisso de participação sem que este prejudique o dia-a-dia da empresa, dado que requer tempo de investimento por parte da PME.

Desde a sua fundação, a Iniciativa VOICE Leadership construiu uma forte rede de parceiros composta por grandes empresas do sector Bancário, Retalho, Comunicações, entre outras, mas também contamos com o apoio dos grandes pólos associativos do País, como a CIP, IAPMEI e AICEP, que conseguem através das suas redes dispersas pelo País chegar mais próximo das PME. É através desta rede de parceiros e de todos os membros activos da comunidade, como os mentores e formadores, que iremos incentivar a participação neste ecossistema de crescimento.

Quais os resultados ou impactos esperados por esta iniciativa?

JBC: Ao longo desta iniciativa iremos conduzir dois estudos focados no impacto da formação e da mentoria e um estudo focado no impacto da transição energética na competitividade das PME, que se irão focar na medição de KPI financeiros, mas também no acompanhamento da aplicação de diferentes práticas de gestão. Esperamos impactar 5000 PME portuguesas, não apenas na melhoria da sua produtividade e aumento da sua competitividade, mas também na transformação dos seus negócios e da sua liderança enquanto gestores. Não passará apenas pelo crescimento financeiro destas PME, mas também pela sua transformação e modelos de negócio. Será muito relevante para nós que o tecido empresarial entenda a importância da formação e o impacto que a mesma pode ter no dia-a-dia das empresas.

A Nova SBE prepara-se para lançar novos programas ligados à IA. Qual a motivação por trás do desenvolvimento desses novos programas?

Carla Figueiredo(CF): Existem várias razões estratégicas importantes subjacentes a essa decisão. Em primeiro lugar, há uma procura crescente no mercado por profissionais com competências em inteligência artificial (IA), que é transversal a todas as indústrias e áreas funcionais dentro das organizações. Ao criar uma nova suite de programas de IA no nosso portefólio, reforçamos a nossa posição como uma instituição na vanguarda, que procura estar próxima dos seus parceiros e empresas clientes, dando resposta aos desafios que vão sentindo nas suas organizações. Num ambiente educacional competitivo, é crucial que nos mantenhamos actualizados com programas que são tanto relevantes, quanto desafiadores, que permitam a aquisição de conhecimento mas também formem líderes conscientes e responsáveis, que entenderão o impacto de suas decisões tecnológicas na sociedade.

Em segundo lugar, o nosso objectivo é que os novos programas preparem os participantes para serem líderes em ambientes de negócio em constante transformação, onde estarão preparados para liderar inovações, entender os dados e aplicar a IA de maneiras que impulsionem o sucesso dos negócios e a inovação sustentável.

Atendendo ao actual contexto, qual a importância destes novos programas para os líderes?

CF: No actual contexto de rápida transformação tecnológica e digitalização, a importância de programas focados em IA para líderes é imensa. Podemos destacar cinco pontos cruciais:

O primeiro está relacionado com a tomada de decisão. A IA permite analisar grandes volumes de dados rapidamente, o que ajuda líderes a tomar decisões mais informadas e estratégicas.

O segundo está relacionado com a inovação. Líderes que entendem IA estão melhor preparados para implementar soluções que podem transformar os negócios, criar novos modelos de negócio e manter as suas organizações competitivas.

O terceiro, refere-se aos desafios éticos. Líderes informados sobre IA são cruciais para garantir que a sua implementação seja feita de forma responsável, considerando as implicações sociais e morais.

O quarto ponto refere-se à mudança organizacional onde líderes preparados podem guiar as suas equipas através das transições digitais, mitigando resistências e maximizando o potencial da tecnologia.

Por último, mas não menos importante, traduz-se na preparação para o Futuro do Trabalho. À medida que a IA redefine os papéis no local de trabalho, é essencial que os líderes estejam prontos para integrar essas tecnologias de maneira que optimize a eficiência e melhore as condições de trabalho para as suas pessoas.

Quais os principais desafios e oportunidades que a IA apresenta para os líderes empresariais?

CF: Os líderes empresariais enfrentam vários desafios e oportunidades ao integrar a IA nas suas organizações. Em Portugal, a maior parte do tecido empresarial é composto por PME, conforme descrito na primeira parte da entrevista pela minha colega Joana Belo Costa. A IA apresenta uma complexidade tecnológica na sua compreensão e gestão, pelo que é necessário dotar os líderes de conhecimento técnico ou acesso a especialistas que possam interpretar e implementar soluções de IA adequadamente.

Adicionalmente, a IA traz consigo questões éticas significativas, como viés algorítmico e privacidade de dados. É necessário que, durante a sua implementação, sejam assegurados padrões éticos e legais, evitando a discriminação e protegendo a privacidade dos dados dos clientes.

Um terceiro desafio está relacionado com o custo de implementação e ROI. O investimento inicial em IA pode ser significativo, e nem sempre é fácil medir o retorno sobre esse investimento. Cabe aos líderes avaliar os custos e os potenciais benefícios para justificar o investimento em tecnologias de IA.

Entramos agora nas principais oportunidades trazidas pela IA. Em primeiro lugar, a IA pode automatizar processos rotineiros e optimizar operações, libertando os colaboradores para tarefas de valor acrescentado, o que pode aumentar a produtividade e a eficiência organizacional.

Em segundo lugar, a IA permite analisar grandes volumes de dados para fornecer insights que agilizam a tomada de decisão, permitindo desenvolver novos produtos e melhorar os existentes com funcionalidades inteligentes, oferecendo uma vantagem competitiva no mercado. Adicionalmente, permite ainda a personalização de serviços e marketing em escala, melhorando a experiência do cliente.

Em suma, apesar da IA apresentar desafios significativos, as oportunidades que oferece podem transformar profundamente as capacidades estratégicas e operacionais de uma empresa, posicionando-a para sucesso no ambiente competitivo actual.

Como a Nova SBE planeia manter os programas actualizados e relevantes numa área em constante evolução como a IA?

CF: É uma excelente pergunta. Na Nova SBE Executive Education promovemos uma cultura de Infinite Learning, que se traduz na diversidade de conhecimentos, experiências e perspectivas, reconhecendo que a aprendizagem é um processo colaborativo e social que não deve ter barreiras nem físicas, nem temporais. A interacção com diferentes pessoas, culturas e disciplinas enriquece o processo de aprendizagem, fomentando a inovação, a criatividade e a capacidade de resolver problemas complexos, permitindo às organizações prepararem-se para o futuro, investindo no desenvolvimento contínuo do capital humano, na adaptabilidade e na resiliência.

Para manter os programas actualizados e relevantes numa área tão dinâmica como a IA, a Nova SBE Executive Education tem vindo a associar-se a reputados parceiros especialistas na área para a co-construção dos seus programas, permitindo que o currículo dos programas esteja alinhado com as práticas e tecnologias mais recentes do mercado. A título exemplificativo, destaco como parceiros o GroupM no programa AI for Marketing Excellence e a LTP & LLYC no Programa Generative AI: Innovation Sprint.

Adicionalmente, a Nova SBE está a desenvolver uma parceria com o Data Digital and Design (D3) Institute at Harvard com o intuito de desenvolver estudos e projectos que vão ajudar a preparar a nossa sociedade, incluindo as organizações públicas e o nosso tecido empresarial, para um mundo em que a inteligência artificial será omnipresente.

Este artigo faz parte do Caderno Especial “Empreendedorismo e apoio a startups”, publicado na edição de Maio (n.º 218) da Executive Digest.

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