“Um dia destes, há uma dúzia de malucos que fazem uma asneira”: militares não querem ser “o fim da linha para tudo”
Há estudos que apontam que os “militares das Forças Armadas, em média, ganham menos 20% do que a GNR e a PSP. Se vierem a ter a atualização do subsídio de risco, que tem um valor substancial, ficaremos a ganhar entre 27% e 30% menos do que eles”, indicou esta terça-feira António Mota, presidente da Associação de Oficiais das Forças Armadas (AOFA), em declarações ao ‘Diário de Notícias’.
Desde 2011, o setor perdeu um terço dos efetivos, devido à baixa atratividade da carreira. “Se continuarem as políticas a seguir os mesmos caminhos, nós perdemos mais efetivos”, garantiu o responsável, acrescentando que em 2023 os três ramos das Forças Armadas perderam 980 militares face ao ano anterior. “A malta prefere ir para o Mercadona porque ganha mil euros, em vez de estar a ganhar o ordenado mínimo.” Segundo dados da AOFA, entre 2011 e 2023 as Forças Armadas perderam 32,44% dos efetivos, enquanto a PSP, no mesmo período, perdeu 4,61%. Já a GNR aumentou as suas fileiras em 0,46%.
A insatisfação dos militares já fez avançar a possibilidade de manifestações nas ruas – um hipótese que Helena Carreiras, ministra da Defesa, criticou: “Não é aceitável”, frisou. A mesma opinião do chefe do Estado-Maior da Armada, o almirante Gouveia e Melo, que considerou “inadmissível”.
“Os militares não fazem manifestações, nós não andamos na rua, não subimos as escadarias da Assembleia da República e descemos a brincar”, referiu António Mota, admitindo que os militares têm “canais próprios de tentativa de influência”. “Nós falamos com muita frequência com a Presidência da República, por exemplo. Falamos com muita frequência com a ministra da Defesa, e com os partidos políticos e com os chefes militares. Portanto esse é o nosso caminho”, frisou.
No entanto, apesar dos canais de comunicação, o presidente da AOFA lembou que “nada impede os militares de fazerem manifestações”, desde que sejam seguidos “determinados critérios”. “Não vou dizer que não vamos fazer, porque se continuarem a não dar resposta nenhuma aos militares e derem apenas – e têm toda a justiça – aos polícias, aos professores, aos médicos, nós às tantas vamos dizer ‘espera aí, estão a brincar connosco’. Quer dizer, nós somos o fim da linha para tudo. Então aí a malta vai fazer barulho, só que aí é muito grave, porque uma manifestação de militares das forças armadas, institucionalmente tem um peso que não tem uma manifestação nem dos polícias”, indicou, garantindo: “Os militares juram guardar e fazer guardar a Constituição, se necessário, e dar a própria vida para o país, e não resolvem as coisas com berraria na rua”.
Ainda assim, se as coisas não se resolverem “um dia destes, há uma dúzia de malucos que fazem aí uma asneira”.