O que esperar de 2024?: José Soares de Pina, CEO da Altri

Testemunho de José Soares de Pina, CEO da Altri

1. Que alterações perspectiva que possam vir a impactar o seu sector em 2024?

O sector da pasta e papel experienciou desde o final de 2022 e grande parte de 2023 um processo de ajustamento do ciclo do mercado. Enquanto a China manteve uma política de COVID Zero durante um período prolongado, com impacto na procura global, a Europa e os EUA entraram, no pós-pandemia, num período de destocking que levou a uma quebra na procura por fibras celulósicas e, consequentemente, a uma redução expressiva dos preços nos mercados internacionais num período de inflação nas matérias-primas.

Este cenário começou a inverter-se nos últimos meses, com destaque para a evolução positiva registada na China que deverá continuar a impactar decisivamente todos os mercados no próximo ano. No caso da Europa, a expectativa é de alguma recuperação na procura, reflexo de alguma recuperação económica na Europa central e do fim do processo de destocking que trará uma normalização na procura. No global, no Grupo Altri antecipamos assim uma maior estabilidade no sector, tanto a nível de volumes como de preços.

2. E para a sua empresa em particular, quais os maiores desafios?

Temos assistido a uma redução gradual dos custos variáveis durante 2023 como consequência, em grande medida, da normalização dos preços de electricidade e gás natural, mas diria que o contexto continua a ser desafiante. Neste sentido, o foco nos custos terá de prosseguir em 2024, ao mesmo tempo que continuaremos o trabalho de melhoria de eficiência das operações nas nossas três unidades produtivas em Portugal. Apontaria também como desafio a optimização da capacidade que já temos instalada, assim como o de maximizar a disponibilidade de energia térmica e eléctrica da nova caldeira da Caima.

Ao mesmo tempo, o Grupo Altri terá algumas de decisões importantes para tomar durante o próximo ano, em particular sobre o Projecto Gama. Continuamos a trabalhar neste projecto que prevê a construção de uma unidade industrial de raiz na Galiza, em Espanha, com uma capacidade produtiva anual de 200 mil toneladas de pasta solúvel e 60 mil toneladas de fibras têxteis sustentáveis, sendo que a intenção é a de anunciar a decisão final de investimento a curto prazo.

3. Atendendo ao actual contexto, que expectativas a nível macroeconómico para Portugal?

Apesar de um contexto de instabilidade geopolítica actual, o arrefecimento das economias e a inflação elevada já se fizeram sentir em 2023. As perspectivas para 2024 na Europa são de alguma melhoria económica, com o contributo importante da Alemanha, e de alguma contenção generalizada da inflação.

Depois de 2023 a crescer acima da UE, Portugal deverá abrandar em 2024, mas ainda assim a manter um nível de crescimento ligeiramente acima da EU, de acordo com as previsões da Comissão Europeia. Esse crescimento, embora inferior ao registado em 2023, é extremamente importante para o clima de negócios e investimento, ainda para mais, sendo atingido num contexto de equilíbrio orçamental. Será importante conseguir uma clarificação da situação política em Portugal com uma solução estável e que incentive o investimento no nosso país.

Testemunho publicado na revista Executive Digest nº 214 de Janeiro de 2024