Explicador: Taxas de juro vão voltar a subir? Ou vão manter-se? O que esperar da reunião do BCE? Isto é o que dizem os especialistas

O Banco Central Europeu (BCE) senta-se hoje à mesa na última reunião de política monetária do ano com uma grande questão em cima da mesa: As taxas de juro vão subir ou vão manter o pé no travão?

A expectativa da generalidade, senão mesmo de todos os analistas, aponta para que o BCE mantenha as taxas de juro inalteradas.

“Com a queda da inflação a uma ritmo mais alto do que era esperado, a pressão tem crescido sobre o banco central para começar a telegrafar a intenção de baixar as taxas de juro. No entanto, apesar de os mercados, neste momento, anteciparem que o próximo movimento será um corte, e que ele ocorrerá antes do fim do primeiro semestre de 2024, Christine Lagarde e seus pares têm evitado alimentar o otimismo, mantendo uma postura hawkish. Depois de ter conseguido controlar a inflação, baixando-a dos 10.6%  em outubro de 2022, para os atuais 2.9%, o BCE quer agora assegurar-se que evitará uma segunda ronda de subida dos preços”, explica Ricardo Evangelista, Diretor Executivo da ActivTrades Europe.

Face a este cenário, o especialista espera a continuação da prudência e a ausência de qualquer indicação de que um corte estará para breve.

“O BCE irá com certeza mencionar o desemprego na zona euro, que continua no nível historicamente baixo dos 6.5%, bem como o crescimento dos salários que ocorre ao ritmo mais alto de sempre. Outro fator que também deverá merecer uma menção, e ajudar a explicar a falta de pistas para o timing do primeiro corte, será o da inflação no setor dos serviços, que se mantém nos 4%”, destaca.

Henrique Tomé, analista da XTB corrobora com a opinião e sublinha que não se espera que o BCE aumente os juros, sendo que os investidores vão estar mais concentrados nas declarações de Lagarde após a decisão do banco central.

“Os comentários de Lagarde deverão trazer períodos de maior volatilidade para os índices bolsistas, bem como o euro. Espera-se que seja um discurso cauteloso, sobretudo porque a inflação continua em níveis muito acima dos desejados pelo banco”, afirma.

Já David Brito, Diretor-Geral da Ebury considera igualmente que “o BCE deverá manter-se estável na sua reunião de dezembro, na quinta-feira. Os mercados aumentaram a probabilidade de um corte nas taxas de juro já em março, resta saber se as comunicações do BCE vão em linha com esta ideia”.

O especialista sublinha ainda que, “embora seja muito mais cedo do que as expectativas de cortes de outros bancos centrais, as más notícias económicas parecem justificar uma política cautelosamente dovish do BCE, desde que a tendência desinflacionária continue”.

“No final desta semana, deveremos ter uma ideia muito mais clara das tendências económicas, inflacionistas e monetárias para 2024”, acrescenta.

O BCE colocou o pé no travão na reunião de outubro, pela primeira vez desde julho de 2022, decidindo não aumentar as taxas de juro de referência para a Zona Euro. Assim, a taxa de facilidade de depósito mantém-se em 4%, a taxa de juro das principais operações de refinanciamento em 4,50%, e a taxa de juro aplicável à facilidade permanente de cedência de liquidez em 4,75%.

Recorde-se que, antes desta paragem, o BCE jaumentou os juros num total de 450 pontos-base (p.b.) desde julho de 2022.