EDP: Trajectória de eficiência

A EDP Brasil apresentou os melhores resultados de sempre, no ano passado, desde a sua entrada naquele mercado há 23 anos: uma subida de 108% face a 2017, que se traduziu em 1,27 mil milhões de reais, quase 300 milhões de euros. Em entrevista à Executive Digest, Miguel Setas, administrador da EDP e presidente executivo da EDP Brasil, explica como a eléctrica portuguesa consolida a sua posição de liderança em terras brasileiras e se tornou numa referência em inovação e sustentabilidade.

A EDP Brasil apresentou resultados históricos. A que se devem estes resultados?

Esses resultados são o culminar de uma trajetória de crescimento e eficiência trilhada há muito pela EDP Brasil. Este foi o ano em que terminámos um ciclo de crescimento na produção hidroeléctrica, com a construção de três centrais na região amazónica, e iniciámos um novo ciclo de crescimento no segmento de transporte, com um investimento de 3,8 mil milhões de reais (850 milhões de euros) em quatro anos. Na área de distribuição também seguimos uma estratégia de investimento assertiva nos últimos anos, tendo duplicado o CAPEX anual para cerca de 600 milhões de reais (mais de 134 milhões de euros) e optando por uma estratégia de crescimento inorgânica que se concretizou com a compra de 23,56% do capital de uma distribuidora no Estado de Santa Catarina, no sul. É ainda de destacar o esforço progressivo de redução de custos, que nos torna uma das empresas mais eficientes do sector eléctrico brasileiro. Por fim, também contribuiu a reciclagem de capital para reinvestir em segmentos estratégicos, com a conclusão da venda da EDP Pequenas Centrais Hidroeléctricas e das PCH Costa Rica e Santa Fé, gerando um ganho de 374,7 milhões de reais (84 milhões de euros).

Qual é a estratégia actual?

Manter a trajetória de crescimento e eficiência, posicionando-nos com liderança no processo de transição energética. Com base nos investimentos já feitos, a nossa expectativa é duplicar a escala da companhia num horizonte de três anos.

O Brasil está a iniciar um processo de transição energética, em que as fontes renováveis estão a ganhar uma importância cada vez maior à escala nacional. Qual tem sido o papel da EDP Brasil neste processo?

Temos como objectivo investir anualmente 100 milhões de reais (22 milhões de euros) em projectos de geração solar, segmento em que a EDP se tornou uma referência. Entre 2017 e 2018, a empresa negociou 15 projectos com cerca de 25 MWp de capacidade contratada. No segundo semestre de 2018, a EDP assinou um contrato para construir uma central com 15 mil painéis fotovoltaicos para 88 agências do Banco do Brasil, em Minas Gerais, que permitirá ao banco economizar cerca de 82 milhões de reais em 15 anos. O projecto também tem grande relevância ambiental, pois, considerando o consumo anual de 11.139 MWh proveniente de energia renovável, a região deixará de emitir mais de mil toneladas de CO2 por ano, o que equivale a mais de 7 mil árvores. Mais recentemente, com o aumento da oferta de linhas de financiamento para a geração solar fotovoltaica no Brasil, criámos a EDP Smart, que reunirá todo o portefólio de serviços para clientes empresariais e residenciais.

Quais os projectos emblemáticos?

Em Junho inaugurámos no norte de Minas Gerais o maior complexo de energia solar já desenvolvido pela EDP no Brasil. Construído para a Multiplan, um dos principais grupos de shopping centers do país, as duas centrais têm uma capacidade de 8,33 MWp e serão responsáveis por 100% do abastecimento energético do VillageMall, no Rio de Janeiro – com 25 440 módulos fotovoltaicos, o empreendimento permitirá poupar 55 milhões de reais ao longo de 10 anos. No último ano, também se destacou a inauguração, com o BMW Group, do primeiro corredor de abastecimento de veículos eléctricos entre o Rio e São Paulo, com 430 quilómetros (km) de extensão.

Qual o portefólio actual?

A EDP Brasil fechou 2018 com um portefólio composto por seis hidroeléctricas e uma termoelétrica, com capacidade instalada de 2,8 GW. Na distribuição, a EDP actua nos estados de São Paulo e Espírito Santo, com 3,4 milhões de clientes, além de ser a principal accionista da Celesc, distribuidora de Santa Catarina. Na área de comercialização, negoceia contratos de compra e venda de energia em todo o país. No segmento de transmissão, a empresa iniciou actividade em 2016 e hoje possui seis lotes, com 1,4 mil km de extensão para construir, sendo que o primeiro, com 116 km, já entrou em funcionamento, no Estado do Espírito Santo, 20 meses antes do prazo regulatório. Através da EDP Smart, a empresa ainda comercializa energia no mercado livre e negoceia projectos de geração solar, eficiência energética, mobilidade eléctrica e outros serviços B2C.

Como tem evoluído a construção da marca e do negócio no Brasil?

A EDP tem consolidado a sua posição como empresa líder no Brasil e é uma referência em inovação e sustentabilidade. Pelo 13.º ano consecutivo estamos presentes no Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da B3 (bolsa brasileira). Também fomos distinguidos como a Melhor Empresa do Brasil na Relação com a Comunidade, pela Exame, e, num estudo do Valor Económico em parceria com a consultora Strategy&, a EDP Brasil foi considerada a segunda empresa mais inovadora do sector. No campo da responsabilidade social, o nosso apoio a grandes causas, como a reconstrução do Museu da Língua Portuguesa, destruído por um incêndio em 2015, e a restauração do Museu do Ipiranga, fechado desde 2013, tem merecido aprovação. Este compromisso com o património luso-brasileiro está alinhado com a nossa identidade e tem-nos diferenciado como uma empresa socialmente responsável.

Quais as previsões de investimento?

Estão previstos cerca de 600 milhões de reais (134 milhões de euros) anuais para a expansão e melhoria das redes de distribuidoras e 3,8 mil milhões de reais (850 milhões de euros) até 2022 para construir 1,4 mil km de linhas e quatro subestações em Santa Catarina, São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo e Maranhão. No campo do solar distribuído estimamos investir pelo menos 100 milhões de reais (22 milhões de euros) por ano. Tal como no ano passado, a EDP continua a avaliar opções de reciclagem de capital, desinvestindo em activos maduros na área de produção para investir em negócios em expansão, como transporte, distribuição e o chamado “new downstream”.

Como se tem conseguido diferenciar num mercado tão competitivo?

A EDP tem-se destacado tanto pelo pioneirismo e inovação como pela consistência e eficiência. Foi por estas últimas que a empresa alcançou em 2018 um resultado recorde, com o lucro a subir 108% para 1,3 mil milhões de reais. No campo da inovação, tem-se diferenciado, por exemplo, pelo ambicioso plano de transformação digital, sendo a primeira empresa do sector a criar um Centro de Excelência em Robotização (CER), que funciona como núcleo de treino para os colaboradores da empresa manusearem sistemas robóticos e detectarem processos viáveis para robotização. Graças a essa experiência, a empresa até já criou novos cargos, como “analista de processos robotizáveis” ou “auditor de robots”, e já realizou mais de 150 processos robotizados. A EDP será ainda pioneira num investimento de 32,9 milhões de reais (7,3 milhões de euros) para instalar 30 estações de carregamento de carros eléctricos no estado de São Paulo, formando um corredor de abastecimento com mais de 2500 km. A rede será iniciada ainda este ano e as primeiras inaugurações estão programadas para 2020. Este é o primeiro e maior projecto da América do Sul de carregadores ultrarrápidos (150kw e 350kw), capazes de reabastecer 80% da bateria de um carro entre 25 e 30 minutos.

Quais têm sido os desafios?

O sector eléctrico brasileiro pode orgulhar-se dos avanços alcançados na última década, em parte justificados pela expansão da produção e do transporte e pela consolidação da fonte eólica. O ambiente regulatório brasileiro é estável e tem atraído investimento estrangeiro. Um ponto onde é preciso avançar é a gestão do risco hidrológico que, pelas regras actuais, onera produtoras e distribuidoras e, no final, o consumidor. Nesse sentido, a EDP tem-se posicionado a favor de um mercado de risco hidrológico: a ideia é transferir esse risco para quem consegue assumi-lo, como as comercializadoras, e reduzir o impacto sobre as distribuidoras. A EDP tem defendido a inserção de centrais térmicas de baixo custo variável na matriz energética brasileira, como forma de compensar o défice de produção hídrica no país.

E que metas para este ano?

A empresa segue em linha com o compromisso de fazer um investimento recorde no país este ano. Prevemos investir cerca de 3 mil milhões de reais, que é o dobro do que realizámos em 2018 e cerca do triplo do nosso investimento histórico anual no Brasil.

A EDP Brasil é referência em inovação, governance e sustentabilidade.

A inovação é um dos pilares estratégicos da EDP, uma alavanca para impulsionar a estratégia e a sustentabilidade do negócio a longo prazo. A EDP Brasil adopta o conceito de inovação aberta através de parcerias e colaboração com outras empresas, instituições académicas e centros de tecnologia, e definiu cinco temas estratégicos de inovação, alinhados com as megatendências de futuro no sector: armazenamento, energias limpas, inovação digital, redes inteligentes e soluções para o cliente.

Que projectos destacaria?

No último ano, a EDP Brasil criou o primeiro veículo de investimentos de capital de risco do mercado eléctrico brasileiro, a EDP Ventures Brasil, voltada para o investimento em startups. Serão destinados inicialmente 30 milhões de reais (7 milhões de euros) para projectos que alavanquem o desenvolvimento de tecnologias no sector eléctrico. O Starter Acceleration Program, programa também voltado para empreendedores com soluções para a energia, tornou-se um programa de aceleração global, com um módulo latino-americano realizado em São Paulo. Somos ainda reconhecidos pelos elevados padrões de governança com vários prémios.

Quais as diferenças no consumo de energia no Brasil e Portugal?

No Brasil o mercado residencial ainda não está liberalizado, ao contrário de Portugal. Mas a EDP Brasil já se prepara há algum tempo para as mudanças regulatórias. Desde 2017 que a EDP está habilitada a actuar como comercializadora “varejista”: foi uma das primeiras a obter a aprovação do órgão regulador.

É uma oportunidade para nos anteciparmos à abertura do mercado livre, garantir a rentabilidade dos investimentos em produção e assegurar o potencial de capilaridade, bem como ampliar a oferta de produtos e serviços.

Quais são as vossas expectativas para 2020?

Com a concretização de reformas estruturais em curso na economia brasileira, como as reformas tributária e da segurança social, espera-se a consolidação de um quadro macroeconómico favorável e o início de um ciclo de aceleração do crescimento económico. Para a EDP esse é um contexto positivo para continuarmos a concretizar os nossos investimentos.

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