Mais de um terço dos advogados e juristas não voltaria a exercer a profissão, revela estudo

Mais de um terço (35%) dos advogados em Portugal não voltaria a escolher a profissão, segundo revelou esta quarta-feira um estudo da Associação Direito Mental: a maioria reconheceu que as exigências e obrigações da advocacia interferem na sua participação em atividades familiares, além de que 34% foi diagnosticada no passado por um profissional de saúde com alguma perturbação de saúde mental.

O estudo sobre a saúde mental e o impacto da profissão no bem-estar e na vida de juristas, estagiários, advogados e advogados in-house foi desenvolvido em colaboração com o ProChild CoLAB e o Centro de Investigação em Psicologia da Universidade do Minho, e contou com a participação de 823 profissionais de todo o país.

“Este estudo expõe claramente o panorama organizacional jurídico e é um marco importante no caminho para a promoção da saúde mental dos profissionais de Direito”, declarou a diretora-executiva da Direito Mental, Raquel Sampaio. “Ao reconhecermos estes desafios, podemos criar um ambiente mais saudável para todos. Queremos sinalizar aos nossos colegas que os ouvimos e demonstrar o nosso compromisso em tomar medidas eficazes para auxiliar quem precisa.”

Os profissionais que se mostraram mais insatisfeitos com a sua vida profissional deram sinais de níveis mais elevados de sintomas de depressão, ansiedade e burnout – em sentido contrário, aqueles que expressaram maior satisfação com a sua carreira apresentaram níveis mais baixos de sintomas.

Mais de metade dos inquiridos (55%) reconheceu que as exigências e obrigações da sua profissão os privam de participar em atividades familiares. Nesta linha, cerca de um terço (34%) referiu já ter recebido um diagnóstico de uma perturbação psicológica, com a depressão, a ansiedade e a síndrome de burnout a figurar como as mais mencionadas. Adicionalmente, 36% dos profissionais da área do Direito relataram ter vivido pelo menos um evento negativo com impacto significativo na sua vida nos últimos dois anos, incluindo situações como doenças familiares, desemprego e o impacto da pandemia da Covid-19.

“Estes resultados são um alerta claro para a necessidade de sensibilização e apoio à saúde mental nesta comunidade. O estudo revela um quadro preocupante e evidencia a importância crucial de implementar estratégias de apoio eficazes, baseadas na evidência empírica, para promover a saúde mental e o bem-estar dos profissionais do Direito”, concluiu Marlene Sousa, psicóloga e investigadora no Laboratório ProChild.