O erro grave

Opinião de Nelson Pires, General Manager da Jaba Recordati

O remédio para baixar a inflação é o aumento da taxa de juro. O crédito à habitação aumentou mais de 80% desde que o BCE começou a aumentar a taxa de juro até aos 4,5%. São níveis históricos em que cada 0.25% de aumento da taxa de juro significa muitos milhões de euros diários para os lucros dos bancos. Será que a inflação não tem outro remédio? A inflação implica perda de rendimento e esta já cortou 2 salários às pessoas (cerca de 15% acumulado), pelo que tem de ser combatida. O governador do BP e o Ministro das finanças não concordam com as subidas das taxas de juro, mas só se manifestam na televisão. Quando chegam à reunião com Lagarde, não se manifestam e são solidários com o BCE. Depois limitam-se a oferecer aos jovens a possibilidade de ir passar uns dias em pousadas da juventude. Para combater este colete de forças, o estado não pode andar a brincar com os cidadãos. Os apoios sociais são necessários e devem dirigidos a quem precisa. Só que quem precisa são 50% da população portuguesa. Será que conseguimos apoiar ou temos de andar a anunciar medidas “às pinguinhas” que nada resolvem.
Em 14 meses o BCE aumentou 10 vezes a taxa de juro com a sua política monetarista clássica para travar o crescimento da inflação. A causa segundo o mesmo, é o sobreaquecimento da economia e em consequência da procura. Mas o BCE não entendeu que aqui não há um aumento da procura mas um problema da oferta. Causado pela disrupção das cadeias de abastecimento, globalização da economia e o impacto do aumento de custos da energia e da redução da oferta de algumas commodities alimentares. Portanto a solução não pode ser a clássica pois o problema não é clássico. Pelo contrário, pode impactar na economia e criar a recessão, como se vê já na Alemanha.
A solução tem de passar pela atuação na oferta. Ao nível de criar uma alternativa energética à tradicional, incluindo a nuclear de forma temporária. A criar acordos glocais de fornecimento de commodities e estímulo à produção no espaço Europeu (Portugal poderia ser o “celeiro” da Europa). Ou a estimular a criação de novas empresas que dinamizem a economia, reindustrializando o bloco europeu. Assim como reduzir a carga fiscal dos cidadãos mas também das empresas que não especulam, como muitas que se aproveitam deste movimento inflacionista. E como o lucro da taxa de juro está a passar para a banca, exigir que esta contribua extraordinariamente para a dinamização da economia através de taxas especiais.
Portanto os nossos decisores políticos e financeiros estão a cometer um erro grave: estão a matar a economia e a empobrecer os cidadãos que já eram pobres.


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