Moscovo prepara-se para fortalecer os laços estratégicos com as nações africanas para uma nova ordem internacional emergente conforme Vladimir Putin prepara a receção da maioria dos líderes do continente numa cimeira que vai decorrer esta semana – a reunião dos líderes políticos ocorre por entre as acusações do Ocidente de que o Kremlin está a ‘armar’ a exportação de alimentos.
“A Rússia tem relações ricas e duradouras com os países africanos”, apontou Anatoly Antonov, em declarações à revista ‘Newsweek’. “Pretendemos dar um impulso adicional a esses laços e elevá-los a um novo patamar.”
Este é o conceito que, para o embaixador russo, “está por trás da 2ª Cimeira Rússia-África, que vai acontecer entre 27 e 28 de julho, em São Petersburgo – a primeira reunião decorreu em outubro de 2019, em Sochi. Desde então, Moscovo manteve relações robustas em grande parte de África, apesar dos esforços do Ocidente em isolar a Rússia do cenário mundial.
A próxima cimeira é encarada como uma oportunidade para o Kremlin exibir o poder de permanência nessa parte do globo, apesar das mudanças amplas na geopolítica global. “Esperamos desenvolver uma parceria estratégica mutuamente benéfica com os países do continente num momento em que uma ordem mundial multipolar está a tomar forma”, referiu Antonov.
Muitas nações africanas têm sido impactadas diretamente pela guerra: a Rússia e a Ucrânia respondem, em conjunto, por um terço das exportações globais de grãos críticos, como trigo e cevada, cujas entregas foram interrompidas devido à invasão da Ucrânia por Moscovo.
A Rússia não prolongou o acordo de cereais celebrado com a Turquia e as Nações Unidas e Vladimir Putin garantiu que a iniciativa “acabou por ser usada descaradamente apenas para o enriquecimento de grandes empresas americanas e europeias que exportavam e revendiam grãos da Ucrânia” em vez de servir o seu propósito humanitário. O líder russo prometeu ainda substituir o abastecimento ucraniano pelas próprias exportações da Rússia. “Quero dar garantias de que o nosso país é capaz de substituir o grão ucraniano tanto de forma comercial como gratuita, especialmente porque esperamos outra colheita recorde este ano”, garantiu Putin. “Apesar das sanções, a Rússia vai continuar os seus esforços enérgicos para fornecer grãos, produtos alimentares, fertilizantes e outros bens para a África.”
Por último, o presidente russo referiu ainda ao surgimento “de uma nova ordem mundial multipolar”, que considerou ser “mais justa e democrática”. “Não há dúvida de que a África, assim como a Ásia, o Médio Oriente e a América Latina vão ocupar o seu lugar digno e finalmente libertarem-se do legado amargo do colonialismo e do neocolonialismo, rejeitando suas práticas modernas”, finalizou.













