A Ag-Tech de Agri-PV

Por Luís Gil, Membro Conselheiro e Especialista em Energia da Ordem dos Engenheiros

Ficou baralhado e curioso com o título? Não fique. Não sabe o que são essas siglas? Já vai saber.

Uma das definições de Ag-Tech é que esta se trata de uma tecnologia agrícola ou agrotecnologia ou ainda que é o uso de tecnologia na agricultura, horticultura e aquicultura com o objetivo de melhorar o rendimento, a eficiência e o lucro. Assim existem muitos tipos de Ag-Tech entre as quais a Agri-PV.

E o que é a Agri-PV dirão os leitores? Bem, é uma nova “revolução” que associa um tipo de energia renovável com a produção agrícola, com vantagens mútuas. Por isso esta tecnologia tem que ser projetada para maximizar o rendimento da colheita em conjugação com a otimização do aproveitamento da produção de energia.

Muitos são os fatores, como as alterações climáticas, a procura de alimentos a preços acessíveis, o aumento dos custos da energia e outros, que estão a fomentar a implementação da utilização da energia solar fotovoltaica no setor primário, nomeadamente em estruturas agrícolas. Assim, a Agri-PV mais não é do que a coexistência de instalações fotovoltaicas (daí o PV do inglês PhotoVoltaic) com atividades agrícolas, de forma viável e sustentável, sem prejuízo da produção agrícola e/ou de gado e de energia. Que começa a dar os primeiros passos no nosso país, embora dados de 2021, a nível global, apontem já para 14 GW de capacidade instalada.

Casos concretos de aplicação, demonstram que não só se produz energia renovável e se descarboniza a atividade agrícola como também se diminuem drasticamente os custos de aquisição eletricidade aumentando, ao mesmo tempo, o rendimento das colheitas e a poupança de água necessária. Este método, quando aplicado corretamente tem resultados de assinalar.

Por um lado, o sombreamento das culturas por baixo da estrutura fotovoltaica, reduz o stress térmico no verão e no inverno e a perda de água, devido às temperaturas mais baixas sob os painéis, com reduções de até 50%, sendo também benéfico para o gado. Por outro lado, os painéis solares fotovoltaicos assim colocados, beneficiam também da menor temperatura, tendo um maior desempenho e assim uma maior produção de energia elétrica. Acresce ainda que os módulos solares elevados podem reduzir o impacto do granizo, vento e chuva forte.

Os principais contratempos, no ponto de vista agrícola, da conjugação destas atividades referem-se à falta de luz para as plantas o que se pode traduzir numa diminuição da produção agrícola. Por isso, a escolha do tipo de cultivo será fundamental para a obtenção dos melhores rendimentos agrícolas – existindo estudos que falam em aumentos de produção de 20 a 60% – nomeadamente culturas tipicamente cultivadas e colhidas manualmente ou com pequenas máquinas, por exemplo, ervas aromáticas e medicinais, canteiros, viveiros e árvores frutíferas ou arbustos de pequena estatura, além de hortaliças, plantas forrageiras e gado de pequeno a médio porte. Portanto, analisar as diferentes opções de cultivo e pecuária para as propriedades agrícolas será o primeiro e mais importante passo na hora de pensar em combinar as duas atividades. Por exemplo, ao combinar a criação de ovelhas com a energia solar, o design da instalação não difere muito de um projeto apenas com energia solar, mas combinar energia solar com frutos silvestres pode exigir estruturas mais altas, que precisarão ser mais robustas para lidar com ventos mais fortes e, portanto, afetar diretamente os custos da instalação.

Acresce ainda, por outro lado, que a presença de algumas das referidas plantas, é estratégica porque ajuda a criar habitats favoráveis a insetos polinizadores que, graças à sua ação, trazem vantagens a todo o ecossistema agrícola, atuando na proteção da biodiversidade.

Para além dos já apontados, como benefícios da colocalização energia solar fotovoltaica/agricultura ou pecuária, podem ser apontados os seguintes: Custos de instalação reduzidos, aumento do desempenho fotovoltaico, aceleração da transição energética, independência energética, riscos reduzidos, boa imagem para um público preocupado com a sustentabilidade, custos de eletricidade diminuídos, diversificação das receitas, benefícios aditivos e sinérgicos devidos ao sombreamento, revitalização da atividade agrícola.

Temos então um conjunto de razões para nos levar a considerar este conceito e a promovê-lo, nomeadamente no nosso país, em que a independência energética e a independência alimentar ainda estão longe de atingirem níveis adequados.

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