Subida do nível dos oceanos vai afectar 300 milhões de pessoas. Portugal tem várias zonas em risco
Um estudo prevê que mesmo com cortes drásticos das emissões poluentes a subida do nível das águas dentro de 31 anos põe em risco 300 milhões de pessoas. A Ásia será a zona mais afectada e Portugal terá zonas “vermelhas”
A revista científica Nature Communications publicou o estudo. O autor Benjamin Strauss refere que: “As comunidades humanas concentram-se de forma desproporcionada nas zonas muito baixas da costa”. Até agora, acreditava-se que só 65 milhões viviam nessas zonas; com base em dados mais precisos, o estudo aponta para 250 milhões, ou seja, quase o quádruplo.
A Ásia é indicada como o continente mais afectado, com primazia para seis países: China, Bangladesh, Índia, Vietname, Indonésia e Tailândia. De acordo com o estudo, é aí que reside a maioria dos que ficarão em risco com a subida do nível das águas causado pelo aquecimento global. Dos 300 milhões que se estima estarem em zona de risco de inundação em 2050, aproximadamente 237 milhões vivem nesses seis países. A China, com 93 milhões em perigo, é o país recordista.
Portugal, graças à sua longa costa, tem várias zonas de risco. São várias as zonas “vermelhas” assinaladas: a de Aveiro, do estuário do Tejo (as Lezírias são uma vasta mancha rubra), do Sado, e a Ria Formosa. Aparentemente, nem a Madeira nem os Açores apresentam zonas de risco para 2050. Mas Benjamin Strauss chama a atenção para a necessidade de que governos e empresas aeroespaciais apresentem dados mais precisos sobre a elevação geográfica.
Um dos aspetos mais impressionantes do estudo,, é que, apesar de mostrar vários cenários, dependendo das medidas que sejam tomadas agora e da rapidez do degelo, e, em função dessas variáveis, um maior ou menor aumento do nível do mar e do número de pessoas afectadas, as previsões para 2050 pouco mudam: parece ser já tarde para que o que fazemos hoje mude alguma coisa daqui a 31 anos.
Isto sucede porque o aumento do nível do mar é já uma das consequências irreversíveis das alterações climáticas. Isso deve-se sobretudo ao degelo dos polos, como assegura um relatório recente do painel internacional de cientistas que assessora a ONU nas questões do clima.
Dentro de 50 anos: o que pode ainda ser feito?
É nas projecções para daqui a 50 depois, no final do século, em 2100, que se nota uma grande diferença consoante haja medidas agora ou não, refere ainda o estudo. No cenário mais optimista (uma rápida redução dos gases de efeito estufa e um degelo menos acentuado), estima-se que na zona vermelha de inundações haverá 340 milhões de pessoas.
Na pior das previsões, com incremento das emissões e portanto um nível de degelo alto, o número de pessoas em risco aumenta para 480 milhões.
Estas projecções baseiam-se no entanto na população actual. Ou seja, não têm em conta as possíveis variações no número de pessoas a viver nas zonas em causa.
Os autores do estudo deixam um aviso: se se quer limitar este impacto é preciso fazer alguma coisa. Para começar, cumprir o Acordo de Paris, que estabelece como objectivo que o aumento da temperatura média do planeta não ultrapasse um aumento de dois graus em relação ao nível pré-industrial e, idealmente, abaixo dos 1,5 graus de diferença.