Grandes espaços comerciais apostam em entretenimento e mobilidade
postar em novidades no parque de lojas e na oferta gastronómica tem sido, nos últimos anos, o caminho dos grandes espaços comerciais, nomeadamente no pós-crise. Mas há que ir mais longe e ver as tendências que se perfilam no horizonte: conceitos de bem-estar e alimentação saudável, oferta desportiva, entretenimento e soluções de mobilidade. Estes foram os temas fundamentais do mais recente pequeno-almoço do sector que se realizou no Hotel Vila Galé Ópera, em Alcântara. Presentes na conversa estiveram Manuel Paula (El Corte Inglés), Manuela Calhau (Sonae Sierra), Margarida Romão (Mundicenter) e Paulo Alves (Multi Portugal).
Ficou claro entre os participantes que se a marca corporativa é muito importante no B2B, já numa perspectiva de B2C pouco importa ao consumidor se está num espaço da Soane Sierra da Mundicenter ou gerido pela Multi Portugal. Até porque cada activo tem o seu próprio DNA, a sua identidade, personalidade e proposta de valor, por isso tem a sua marca. Cada um deles tem a sua área de intervenção bem demarcada. Na verdade o Vasco da Gama é concor- A rente do Colombo e são ambos da Sonae Sierra. E ambos concorrem também com um Amoreiras (da Mundicenter) e com o El Corte Inglés. «Achamos que assim potenciamos o activo de cada uma das marcas», comenta a responsável da Soane Sierra justificando o facto de para o consumidor não se apresentar a referência à empresa-mãe. Apesar de não existirem sinergias de marca, existem sinergias de negociação, garante a responsável. Porque quando se negoceia, seja com fornecedores, media ou outros é a Sonae Sierra quem está a negociar. Ou a Mundicenter…
Os últimos 12 meses têm sido bastante bons para as empresas presentes à mesa do pequeno- -almoço. Um resultado que tem sido não apenas ao nível das taxas de ocupação das lojas, mas também ao nível das vendas dessas mesmas lojas. Na verdade, «o tráfego aumentou de forma significativa», ouve-se dizer. Uma realidade mais evidente nos espaços que sofreram algum tipo de intervenção ao nível de obras de melhoria do espaço. Os foodcourts são disso um exemplo funcionando como âncora. «Sempre que introduzimos alguma inovação mais estruturante, sentem-se os resultados.» Daí que tenha havido uma consistência no crescimento quer dos diferentes espaços quer das diferentes áreas de negócio.
E se é verdade que houve uma certa retoma das compras por parte dos clientes nacionais – comparando com outros anos em que eram os visitantes estrangeiros os protagonistas –, também o é que continuamos a ser dos países onde a taxa de promoção face às vendas totais continua a ser mais alta.
No caso do El Corte Inglés, com o Espaço Gourmet, conseguiu captar um tráfego mais upscale e diferenciado face àquilo que é o tráfego normal que já é médio-alto alto. «É mais uma loja de lifestyle.» Uma nova crise económica pode, no entanto, estar à espreita na Europa e, por isso, há que manter todos os sentidos em alerta.
Ao circular nos espaços comerciais, por vezes, encontramos algumas lojas fechadas e desocupadas. Mas fique a saber que em alguns dos casos se trata de estratégia. Tratando-se de um puzzle, se a administração pretende ter determinadas lojas que precisam de mais espaço, há que guardar lojas que sabem que vão servir daí a uns meses. Isso porque, dessa forma, conseguem negociar com os novos parceiros que podem precisar de uma espaço com uma área maior. Noutros casos esses espaços vazios podem estar inseridos numa estratégia de reorganização da categoria dentro do espaço comercial.
Uma categoria que está, claramente, a conquistar mais espaço é a da restauração. E a própria categoria está a ser contaminada por outras adjacentes que podem fazer dessa área uma área de fruição e não apenas de comida. Também em crescimento está toda a área de saúde e bem-estar, quer do ponto de vista de farmácias, de clínicas ou de lojas de alimentação saudável (fruta, verduras, diatéticos, alimentos para atletas). Tudo isto tem a ver com o envelhecimento da população europeia e portuguesa também. Por outro lado está intimamente ligado à pirâmide de Maslow já que as necessidades básicas estão satisfeitas e, assim, procura-se satisfazer as necessidades mais ligadas ao bem-estar. Na crise de 2008-12 os portugueses aperceberam-se que não se podiam dar ao luxo de adoecer já que isso os impedia de poder trabalhar e portanto de auferir o seu rendimento na totalidade. Tornou-se claro que o investirmos em si próprios é um dos investimentos mais importantes que podem fazer, quer do ponto de vista de educação quer do ponto de vista de bem-estar.
Outra categoria que tem estado a crescer tem a ver com o entretenimento e formatos de lazer fora do foodcourt. Os cinemas são muito utilizados com tecnologias de que o IMAX é um exemplo de entretenimento pago. Começam também a aparecer espaços de vídeo gaming, de realidade aumentada e virtual pagos. E depois há um entretenimento não necessariamente pago que são os indoor playgrounds e as exposições de arte. Mas nestes casos há que ter em consideração que o entretenimento rivaliza com a comercialização do espaço para lojas e é um equilíbrio que tem de ser muito bem gerido de maneira a que se consiga, de facto, obter rendimento do entretenimento. É um desafio porque a introdução de inovação é sempre um risco. «As administrações e as empresas de financiamento privilegiam conceitos que estão testados e que acreditam que têm um cash flow sustentado no tempo», asseguram. Inegável é que nos centros que têm bom desempenho há sempre falta de espaço e uma fila de espera.
Também o desporto está a ganhar protagonismo. Tanto o equipamento para a prática desportiva como a integração de peças desportivas no outfit diário, seja com ténis ou tshirts de desporto. Nos equipamentos para a casa nota-se a procura de colchões, electrodomésticos, têxtil-lar que teve um boom importante bem como o acesso imediato ao luxo. E não esquecer que quando vão a um centro comercial os consumidores querem serviços e querem resolver situações de forma conveniente.
UMA PREOCUPAÇÃO REAL?
Programas sérios de responsabilidade social do ponto de vista de sustentabilidade, health&safety e de ligação com a comunidade estão na base de funcionamento dos players deste sector. Uma preocupação, de resto, que se estende aos fornecedores havendo o cuidado de trabalhar com fornecedores certificados ao nível do que são as matérias, condições de trabalho das pessoas que empregam.
A guerra ao plástico que está a ser travada em tantos sectores também se instalou nos grandes espaços comerciais onde, por exemplo, foram introduzidas alternativas ao plástico como sacos de ráfia. E as redes sociais têm sido as armasa usar para comunicar estas preocupações e alterações. Há também a preocupação destes espaços em devolver à sociedade uma parte do que ela lhes dá. Por exemplo, o El Corte Inglés dá cursos aos seus consumidores, outros doam dias pagos aos trabalhadores que podem ser dedicados a limpezas de praias ou a reabilitação de casas em bairros degradados.
APOSTA NA MOBILIDADE Uma área de que se tem falado pouco diz respeito à mobilidade. É um tema que está a impactar e vai impactar ainda mais a vida de todos e também a dos centros comerciais. Estamos a assistir à entrada dos veículos eléctricos e à entrada de novos meios de locomoção, nomeadamente o crescimento das motorizadas, bicicletas e trotinetes. Acresce ainda os modelos de carpooling e carsharing.
São alterações às quais se está já a assistir de forma marcada em Lisboa e não ainda tanto no Porto. Há espaços de alguns dos operadores que começam a apresentar carregadores eléctricos e estão a ser lançados contratos com empresas de carsharing. O Colombo é já um ponto de depósito e de partida destes veículos e, a título de exemplo, na primeira semana da introdução dessa opção 70% da frota da DriveNow passou por este centro comercial. No Norte do País a Sonae Sierra está a chegar a acordo com a Tesla e no Centro a pilotar a instalação de cacifos para capacetes e casacos dos donos das motos. «Há que acompanhar as mudanças», ouve-se entre dois goles no chá. E se dúvidas houvesse quanto a esta tendência, os números estão cá para ao demonstrar. É que a venda de trotinetes eléctricas e de bicicletas é já uma realidade em crescendo.