Rússia oferece liberdade a assassinos e traficantes de droga em troca de combates na Ucrânia

Promessas de liberdade e riqueza chegam aos presos nas celas superlotadas das prisões russas. Há telefonemas entre familiares e prisioneiros que consideram a oferta. De seguida, estes desaparecem, deixando a família a vasculhar os relatos dos feridos que chegam aos hospitais.

Segundo uma investigação da ‘CNN’, esta cena repete-se em prisões em toda a Rússia. Com um exército regular esgotado após quase seis meses de uma sangrenta e desastrosa invasão da Ucrânia, há evidências crescentes de que o Kremlin está a tomar decisões horríveis na guerra e a recrutar prisioneiros da Rússia para lutar.

Ao longo de uma investigação de um mês, a CNN conversou com prisioneiros envolvidos no mais recente esquema de recrutamento da Rússia, em conjunto com as suas famílias e amigos.

Ativistas acreditam ter contactado centenas deles em dezenas de prisões em toda a Rússia, de assassinos a presos por tráfico de drogas. Dezenas de mensagens analisadas pela estação, detalham as recompensas tentadoras oferecidas por combates na Ucrânia, onde o risco de morte é alto.

Um dos presos por tráfico de droga falou à ‘CNN’, sob condição de anonimato usando um smartphone contrabandeado – uma ocorrência bastante comum no sistema prisional russo – para descrever as condições oferecidas.

“Eles (Rússia) aceitam assassinos, mas não violadores, pedófilos, extremistas ou terroristas”, disse. “Uma amnistia ou perdão é oferecido em seis meses. Alguém fala em 100 mil rublos por mês, outros 200 mil . Tudo é diferente”, contou.

O homem disse que a oferta foi feita quando indivíduos não identificados, que se acredita serem parte de uma empresa militar privada, chegaram à prisão na primeira quinzena de julho.

A aceitação no programa levaria a duas semanas de treinos na região de Rostov, ao sul da Rússia. Embora tivesse dois anos de serviço no Exército, o prisioneiro explicou que os recrutadores não pareciam insistir na experiência militar.

“No meu caso, se for real, tudo bem para mim”, disse. “Para mim pode fazer uma verdadeira diferença: estar preso durante quase uma década, ou sair em seis meses, se tiver sorte. Mas isso se tiver sorte. Só quero chegar a casa das crianças o mais depressa possível. Se esta opção é possível, porque não?”, relatou.

O recluso disse que 50 presos já tinham sido selecionados para recrutamento e colocados em quarentena na prisão, mas soube que 400 se candidataram. Ativistas de direitos humanos que trabalham no sistema penitenciário russo disseram que desde o início de julho foram inundados com relatórios de toda a Rússia de familiares ansiosos, preocupados com o destino dos presos.

“Nas últimas três semanas [em julho], houve uma grande onda desse projeto para recrutar milhares de prisioneiros russos e enviá-los para a guerra”, disse à ‘CNN’ Vladimir Osechkin, diretor do Gulagu.net, um grupo de defesa de prisioneiros.

O responsável revelou que alguns receberam a promessa de um pagamento às suas famílias, no valor de cinco milhões de rublos se morressem, mas as recompensas financeiras completas podem nunca ser realizadas. “Não há garantia, não há contrato real. É ilegal”, sublinhou.

Osechkin especulou que os prisioneiros foram efetivamente usados ​​como isco, para atrair fogo das posições ucranianas e permitir que o exército regular russo respondesse com precisão.

“Eles vão primeiro, e quando o exército ucraniano os vê, eles atacam. Então os soldados russos veem onde os ucranianos estão e bombardeiam o local”, explicou, citado pela estação.