Prioridade à sustentabilidade

A galp convidou grandes energéticas mundiais e instituições internacionais para a sua conferência anual de sustentabilidade. o objectivo do encontro foi debater as estratégias para a descarbonização da economia

O mundo está a mudar. As alterações climáticas e o aquecimento global terão consequências que poderão pôr em causa a vida no planeta Terra tal como a conhecemos. O Acordo de Paris, assinado em 2016, prevê a adopção de medidas para travar o aquecimento do planeta. Estes objectivos pressupõem a alteração de comportamentos da sociedade civil, o que passa pela concretização de metas sustentáveis pelas instituições internacionais, governamentais, empresas e consumidores, que terão o objectivo comum de contribuir para a descarbonização. Este foi o ponto de partida para a 4.ª edição do Galp Sustainability Day, um evento que juntou em Lisboa, na Estufa Fria, algumas das mais relevantes personalidades internacionais do sector energético.

O enquadramento foi feito na sessão de abertura por Carlos Costa Pina, Chief Sustainability Officer da Galp, e por Tae-Yoon Kim, analista da Agência Internacional de Energia (IEA), que revisitou os cenários de evolução da oferta e procura das fontes de energia. De acordo com o mais recente World Energy Outlook da Agência Internacional de Energia, a transição para as energias renováveis não é suficiente para assegurar as necessidades da procura e travar o aquecimento global.

Para tal, é necessário adoptar uma estratégia energética mais inclusiva, passando pelo desenvolvimento de tecnologias baseadas em hidrogénio, a melhoria de eficiência energética e a implementação de tecnologias que consigam mitigar os malefícios dos gases com efeitos de estufa. Descarbonizar Portugal e o mundo é o grande desafio.

O Acordo de Paris trouxe várias metas a atingir até 2050. A transformação para reduzir as emissões já começou e representa, por si só, uma resposta concreta às alterações climáticas. O Plano Nacional Energia e Clima garante que em apenas uma década seja possível que o País sofra uma descarbonização profunda. A descarbonização «não é fácil, mas é possível», garantiu Carlos Costa Pina para quem «as empresas devem dar o seu contributo e fazer o trabalho de casa» de forma a acelerar este processo.

A visão do Estado português foi apresentada por Nuno Lacasta, director-geral da Agência Portuguesa do Ambiente, que sublinhou que até 2050, «é possível, técnica e economicamente, descarbonizar a economia portuguesa», referindo que a estratégia para este desafio está definida no Plano Nacional de Energia e Clima que «explica em que medida é que isto é possível, já na próxima década». Um processo que envolve o investimento anual de cerca de 900 mil milhões de euros entre 2020 e 2050, o equivalente a cerca de 30% do produto interno bruto. A dimensão da tarefa de reduzir as emissões para metade até 2050 é ciclópica, tendo em conta que, no mesmo período, a população mundial vai aumentar em cerca de um terço, para nove mil milhões de pessoas e a procura de energia aumentará em um terço, dois factos sublinhados por John MacArthur, Shell VP Group Carbon – e chairman do OGCI Climate Investments.

A Shell pretende reduzir não só a sua pegada carbónica, como a dos seus produtos, em 20% até 2035, e em 50% até 2050. A BP, segundo Kathrina Mannion, directora do programa de baixo carbono da BP, investe 500 milhões de dólares por ano em actividades ligadas à redução da pegada de carbono, incluindo o investimento em start- -ups e novos modelos de negócio. Já a Petrobras aposta na redução da libertação de gases nas suas operações e está a estudar o aproveitamento da infraestrutura logística que tem ao largo da costa brasileira para desenvolver uma área de geração eólica offshore, revelou Rafaela Guedes Monteiro, economista-chefe da Petrobas.

O painel foi moderado pelo vice-chairman da Galp, Miguel Athayde Marques, que sublinhou o paradoxo de difícil resolução em termos de financiamento da transição quando uma das consequências directas da transição será a redução drástica do consumo de combustíveis líquidos, que hoje geram cerca de 8% de toda a receita fiscal portuguesa. Carlos Gomes da Silva, CEO da Galp, sublinhou a urgência de lançar mãos à obra neste processo de mudança: «Temos que actuar hoje, tendo em mente o futuro», frisou, referindo que a indústria energética e a sustentabilidade são indissociáveis.

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