Lagarde volta a insistir: “inflação vai abrandar abaixo dos 2%” e salários vão aumentar

A presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, voltou a insistir, contra as observações de alguns dos membros do seu Conselho, que a  que a inflação na zona euro vai abrandar à medida que as economias recuperam, recuando abaixo do objetivo de 2% a médio prazo.

“À medida que a recuperação continua e a crise nas cadeias de abastecimento recua, podemos esperar que a pressão sobre os preços dos bens e serviços normalize”, disse Lagarde durante um discurso no Parlamento Europeu, esta segunda-feira.

“Vemos um crescimento salarial em 2022, ligeiramente superior a este ano”, acrescentou Lagarde.

Relativamente ao fim do programa de emergência de compra de ativos, que poderá terminar em março de 2022, e sobre o qual haverá uma decisão na próxima reunião do BCE marcada para dezembro, a líder da instituição financeira frisou que “mesmo depois do fim da pandemia, continuará a ser importante que a política monetária — incluindo a calibração adequada das compras de ativos — apoie a recuperação em toda a área do euro e o retorno sustentável da inflação ao nosso objetivo”.

“O desafio ainda não acabou”, lembrou Lagarde. “Não é só curso da pandemia que irá determinar o rimo da recuperação, mas também as decisões tomadas pelos decisores políticos”, frisou a antiga ministra das finanças.

O Banco Central Europeu (BCE) está a viver uma batalha histórica contra a inflação, na zona euro, como não era visto desde a década de 1990, no entanto, para o BCE o aumento do índice de preços é “temporário”, como já anunciou Christine Lagarde.

Em entrevista ao jornal espanhol ‘El País’, o economista chefe da instituição financeira, Philip Lane, previu também que  “haverá um forte crescimento em 2022”.

“A inflação está bastante alta agora, mas achamos que vai cair no próximo ano. E se olharmos para a situação de médio prazo, a taxa [de inflação] ainda está muito baixa, abaixo da nossa meta de 2%”, defendeu o especialista.

Para Lane o aumento do índice de preços é explicado pela força da recuperação económica global e sublinha: “a situação em que nos encontramos agora é muito diferente da dos anos 70 e 80″.

Confrontado com o atraso dos países do sul, como Espanha e Portugal, e com a crise das cadeias de abastecimento, Lane mantém a perspetiva positiva e lembra que “se espera uma boa temporada turística em 2022” e que a escassez nas cadeias “acabará por terminar no próximo ano”.

“Nos próximos anos, o alto investimento público e privado  apoiará particularmente os países como Espanha e Itália. Desta vez, a situação é totalmente diferente de há 12 anos [onde se verificou um crescimento a duas velocidades depois da crise financeira]. Talvez estejamos a correr a velocidades diferentes, mas a Europa vai recuperar bem ao longo do próximo ano”, acrescenta o economista-chefe do BCE.

No que toca às cadeias de abastecimento, Lase defendeu que “a rápida recuperação também fez com que as previsões sobre a procura de energia tenham ficado aquém do esperado. Essa situação pode agora durar mais do que gostaríamos, mas essas dores de cabeça não vão eliminar o dinamismo básico da recuperação”, frisou o economista-chefe.