Oh My God!
Por Ricardo Florêncio
“Oh my God”, foi uma expressão que se ouviu de um inglês numa reportagem televisiva, no dia 24 de junho de 2016, quando num referendo votaram pelo sim da saída do reino unido da união europeia.
Desde há muito se questiona se os cidadãos sabiam exactamente o que estavam a votar. Mas não deixa de ser curioso que todos os que foram os grandes arquitectos desta proposta de saída e que apregoavam as vantagens que o Reino Unido tinha, já saíram de cena, não fosse alguém exigir as promessas que andaram a vender… Escrevo esta nota no dia em que a Câmara dos Comuns rejeitou o acordo feito pelo governo britânico com a União Europeia. Surpresa? Quase nenhuma! Surpresa é termos chegado a este ponto. E agora? O Reino Unido vai mesmo sair da União Europeia às 23h de dia 29 de Março? Mas sai sem qualquer acordo, de forma desgovernada, em que ninguém saberá o que fazer no dia 30 de Março? O que acontece ao mercado de capitais, às pautas aduaneiras, aos acordos comerciais, às exportações, importações, às empresas? O que acontece ao movimento dos cidadãos? Podem circular livremente? E aos que lá vivem, trabalham e estudam, podem ficar como hoje, ou precisam de autorizações? E qual a situação dos britânicos que trabalham, vivem e estudam na União Europeia? É a loucura completa! E de toda esta loucura, uma das situações mais frágeis é a fronteira entre a República da Irlanda e a Irlanda do Norte, cuja nova situação implica e contradiz os acordos de paz celebrados em Abril de 1998. Agora, a alternativa que se está a colocar é uma saída que afinal não é uma saída. Ou seja, o Reino Unido sai, mas… não sai! Perceberam? Se não, não faz mal, pois ninguém percebe.
O que ninguém percebe é o que Reino Unido espera. Ou melhor, percebe-se que desejava ficar com as vantagens de uma UE e deixar cair as menos boas. Também se percebe que o Reino Unido estava convencido de que conseguiria levar a cabo negociações unilaterais com cada país. O que talvez não estivesse à espera era que a UE reagisse em bloco e as negociações fossem feitas pela Comissão Europeia. Intransigentes? Não! Apenas a defender a UE. Não tenho dúvida que a saída do Reino Unido é má para toda a UE! Mas o mais prejudicado é o próprio Reino Unido!
Editorial publicado na revista Executive Digest nº 154 de Janeiro de 2019