A Europa à deriva!
Por Ricardo Florêncio
“Se não sabe onde quer ir, qualquer caminho serve”
Este pensamento de Lewis Carroll reflecte o que se passa com a Europa. A Europa está à deriva, sem rumo, sem direcção, inclusive com um vazio de objectivos. A Europa sempre desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento do mundo aos mais diversos níveis, desde o económico ao de sociedade, conhecimento ou inovação. Tem representado o equilíbrio entre as diversas forças do mundo e palco de encontro das grandes decisões mundiais. Ao longo dos últimos séculos, tem sido o eixo por onde tem girado a Economia e a Geopolítica. Com uma área que representa apenas 7% de toda a área emersa do planeta, tem 18 países no Top 30 do rendimento per capita mundial. Contudo, hoje a Europa vive uma crise profunda de identidade, de objectivos, de propósitos, de líderes, de “drives” e “drivers”. E os movimentos a que se tem assistido são apenas e só o reflexo disso. Todas estas tendências extremistas, chamadas de populistas, num largo conjunto de países da Europa, são um sinal de revolta das populações. Revolta contra o estado das coisas ou as coisas do Estado. Revolta contra uma política de impostos agressiva. Contra um sucessivo vazio de políticas erráticas. Com decisões que são tomadas ao sabor das contestações, do barulho e de quem faz mais barulho, mas sem objectivos. Revolta contra as posições, discussões e discursos inócuos e redondos dos inúmeros players que conduzem a política de cada País e a da Europa. Basicamente, as pessoas estão fartas, cansadas. E são assim altamente influenciáveis por quem lhes acena um caminho diferente, por um discurso que seja a sua voz interior. São do contra. E o que têm feito a maior parte dos políticos europeus? Ou fingem que não entendem a abrangência de toda a situação e os reais perigos que acarreta, ou acham que são movimentos periféricos e ocasionais. Como se tem constatado nos últimos tempos, estão muito enganados. A Europa precisa de se reerguer e definir objectivos concretos. Como se faz? Começa por eles entenderem e se consciencializarem do quanto têm estado errados. Será que já perceberam?
Editorial publicado na revista Executive Digest nº 153 de Dezembro de 2018