Randstad Insight: Aprender a reaprender

Por José Miguel Leonardo | CEO Randstad Portugal

A transformação das organizações não é um botão. muito menos uma moda. Não se aplica apenas a uma área, todos estão envolvidos e todos são afectados.

A transformação das organizações é um processo doloroso do que sabemos hoje, do que fazemos hoje, para um amanhã, menos definido ou com outra forma de abordar. Nem o CEO escapa. Digo muitas vezes que fui ensinado a só “atirar” quando tivesse a certeza que acertaria no alvo, mas hoje estou a aprender a “simplesmente” atirar, testar, fazer acontecer e a esquecer modelos GANTT para ser mais agyle. Esta necessidade de transformação não é compatível com a resistência, o inconformismo ou o sentimento de nostalgia. É inevitável e não é consequência de uma decisão mas da sustentabilidade das organizações nas suas áreas de actuação. Muito menos está relacionado com a idade, falamos de mindset. Ainda hoje partilhavam comigo a insatisfação na mudança de um processo nos últimos três anos e como o ideal seria ser sempre igual e não ter feito nada de diferente. Mantermo-nos fechados na nossa zona de conforto, sem risco e balizados por um fazer que é sempre igual, dia após dia. Esta é a verdade das máquinas mas não da humanidade e a tecnologia veio potenciar a nossa versão humana nas empresas, obrigando-nos a ser mais pessoas e a ir mais longe.

Neste processo de transformação, onde fica a aprendizagem? Do que nos vale o que aprendemos na escola? As cadeiras da faculdade, os cursos de formação? Essa é a pergunta que cada vez mais alunos fazem quando têm de “decorar” conhecimento que está à distância de um clique ou quando abordagens teóricas e generalistas ainda são parte integrante dos programas escolares. Quantas vezes a sua chefia o obrigou a citar sem nenhum erro ou em segundos para reflectir uma definição de um conceito ou uma corrente artística ou até os reis de Portugal?

Não quero com isto dizer que o conhecimento deixou de ter lugar no ser humano e passou a estar apenas na Internet, muito menos desvalorizar o mesmo. Mas o que trazemos da escola para a nossa vida é educação e aprendizagem. Educar é mais do que o que está nos livros, está relacionado com o meu eu individual e social, assim como a minha aprendizagem não se limita à matéria dada, mas ao quanto os meus professores me obrigaram a pensar, a desenvolver competências. E nesta área assistimos as novas correntes que já incluem no ensino básico apresentações de produções, planos individuais de trabalho e uma nova forma dos alunos se relacionarem com a matéria. Mas será que chega?

Todos os dias temos candidatos que não passam a fases seguintes do processo por falta de confiança, incapacidade de comunicação e limitações de competências que hoje são fundamentais no desempenhar de funções. Ao mesmo tempo, nas nossas organizações e, em especial, em processos de transformação profundos assistimos a momentos de falta de inteligência emocional e de barreiras que se caracterizam pela “incompetência” nestas chamadas soft skills.

Num mundo cada vez mais moderno e em transformação, a educação, o ensino não se pode resumir à greve e ao tempo de serviço dos professores, deve ir mais longe questionando os programas e os modelos de ensino. Alinhando com as empresas as competências chave e reconhecendo como ambas as partes podem ainda [beber] da experiência de cada uma. Hoje e amanhã são as pessoas que fazem a diferença, é o eu pessoal e social. Uma responsabilidade que é de todos e que está longe de estar resolvida.

Artigo publicado na Revista Executive Digest n.º 148 de Julho de 2018.

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