XV Conferência ED: Quais os limites da Inteligência Artificial?

Se a tecnologia blockchain ainda é um território desconhecido para grande parte das multinacionais em Portugal, já a Inteligência Artificial (que começou a ser desenvolvida nos anos 1950) é algo que faz parte da vida de muitas destas empresas, que procuram assim optimizar processos de gestão e desenvolver produtos e serviços inovadores. É o caso da Altice (dona da Meo): «Estamos ainda a estudar esta área do blockchain para definir os use cases que poderá ter e em que novos negócios e serviços poderá ter um contributo. Estamos muito mais atentos à Inteligência Artificial», desvendou esta manhã Frederico Vaz (director da Altice), durante a XV Conferência da Executive Digest.

O gestor foi um dos intervenientes na primeira mesa redonda da conferência, que contou ainda com Francisco Duarte (coordenador Indústria 4.0 da Bosch), João Pedro Machado (director da Fidelidade), José Ataíde (director da The Navigator Company) e moderação de Miguel Correia (professor do Instituto Superior Técnico). Num painel dedicado ao tema “Inteligência Artificial e Blockchain: Os últimos desenvolvimentos e qual o limite?”, ficaram evidentes as diferentes aplicações que a Inteligência Artificial (em particular) pode ter para as empresas.

O director da Altice deu o exemplo da nova box Sophia, da Meo, lançada recentemente, que já integra um certo nível de Inteligência Artificial (IA) e recomenda conteúdos ao utilizador com base nos seus gostos e hábitos de consumo. «Temos estado a trabalhar muito na parte preditiva da IA, na antecipação de problemas. O mundo tradicional das telco como o conhecíamos há 10 anos tem tendência a desaparecer, fundindo-se com IA», reiterou Frederico Vaz.

Já a Bosch tem vindo a trabalhar a Inteligência Artificial aplicada a diferentes áreas de negócio, desde a condução autónoma – no desenvolvimento de um conjunto de algoritmos que têm como objectivo substituir o condutor humano – aos processos industriais – validação de lotes em fábricas -, passando pela indústria aeroespacial – desenvolveu um sistema que capta os sons no interior da Estação Espacial Internacional para perceber se há alguma anomalia técnica. «Estamos em todo o lado», frisou Francisco Duarte. O coordenador Indústria 4.0 da Bosch garantiu ainda que, mais do que «substituir humanos», a Inteligência Artificial é vista na Bosch como uma ferramenta para «estender humanos». «Tudo o que fazemos em termos de engenharia de software é estender a capacidade dos seres humanos», reiterou.

A condução autónoma é também, naturalmente, uma das áreas de interesse da seguradora Fidelidade, que tem vindo também a investir em Inteligência Artificial mas também noutras tecnologias que poderão vir a ter impacto no futuro do sector segurador. De acordo com Pedro Machado, para a Fidelidade, a adopção de inovações tecnológicas é sempre analisada com base em 3 “e’s”: Engagement (o envolvimento e a vontade do cliente), Explore (explorar novos modelos digitais) e Enablement (explorar tecnologias que ainda não têm aplicação, mas terão no futuro). E é neste último prisma que se insere o blockchain. «Olhamos para o blockchain para perceber que use cases serão possíveis no futuro», revelou o director da Fidelidade, dando ainda os exemplos de outras tecnologias de futuro, como a computer vision (visão computacional), que poderá vir a ter aplicação na identificação de fotografias de sinistros e aprovação de processos «em poucos segundos».

Por sua vez, José Ataíde lembrou que a The Navigator Company tem integrado cada vez mais tecnologia na sua fábrica para melhorar a eficiência, detendo actualmente «a máquina de papel mais avançada da Europa», com capacidade para produzir papel a 100 km/h. Além disso, a multinacional portuguesa produz o papel com a taxa de reciclagem mais alta (70%) de toda a União Europeia.

Mas será que a Inteligência Artificial tem limites? Na opinião de Francisco Duarte, «tudo aquilo que um humano pode fazer, a Inteligência Artificial também poderá». Já Pedro Machado referiu que, mesmo que não haja limite tecnológico, há «três limites: regulatório (que tem sempre uma cadência diferente da inovação tecnológica), moral e emocional (por mais tecnologia que haja, há decisões que passam sempre pelas emoções)».

Texto de Daniel Almeida

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