Banco de Portugal pressiona empresas a um esforço de capitalização

O Banco de Portugal publicou esta quarta-feira o boletim económico de maio sobre a evolução da economia portuguesa em 2020, fortemente impactada pela pandemia.

O documento dá conta de que os riscos para a liquidez das empresas foram minimizados pelos créditos e apoios ao financiamento bancário, mas salienta que as empresas que sobreviveram devem agora “efetuar um esforço de capitalização”.

A resposta sanitária obrigou, segundo o Banco de Portugal, ao encerramento temporário da atividade de muitas empresas e a queda abrupta nas vendas, em muitos casos, não foi acompanhada por uma redução dos gastos na mesma proporção, o que representa um risco para a liquidez e, em última instância, para a solvência das empresas.

O banco central refere também que o montante de dinheiro em depósitos à ordem (em caixa), contudo, aumentou na generalidade das empresas em 2020, o que aliviou a situação das empresas e refletiu uma redução significativa dos custos operacionais, em particular com fornecimentos e serviços externos, e do investimento.

Adicionalmente, houve também um aumento do crédito, num contexto em que as empresas beneficiaram de apoios ao financiamento bancário e ao alívio do esforço com o serviço da dívida. Esta evolução compensou a diminuição dos fluxos de caixa associados à margem bruta.

O Banco de Portugal dá também conta de que as empresas que registaram um aumento mais significativo da caixa foram as de menor dimensão, as menos afetadas pela pandemia e as que recorreram a moratórias e linhas de crédito com garantia. Pelo contrário, os fluxos de caixa de financiamento permaneceram relativamente estáveis nas empresas grandes, uma evolução que poderá refletir o facto de as linhas de crédito com garantia pública se destinarem a PME, avança o relatório.

 

Capitalização das empresas

O ano de 2020 foi também marcado pela implementação de importantes medidas de apoio ao financiamento das empresas.

Além das medidas de política monetária e prudencial, estes apoios incluíram o regime de layoff simplificado e o apoio à retoma progressiva da atividade, as moratórias de crédito, a criação de linhas de crédito com garantia pública e outras medidas de apoio fiscal, tais como a suspensão de algumas obrigações fiscais.

Com estas medidas procurou-se assegurar que mesmo as empresas mais afetadas conseguiriam suportar os choques de liquidez sem comprometer a sua viabilidade futura e sem destruir empregos, refere o BdP na sua nota.

Segundo o documento, o dinheiro em caixa aumentou de forma exponencial em todos os grupos de empresas que recorreram a, pelo menos, uma das medidas de apoio.

A incidência de empresas com capitais próprios negativos com atividades de alojamento e restauração antes da pandemia, combinada com a especial gravidade do choque neste setor, implicam que algumas empresas neste setor se devam encontrar descapitalizadas no final de 2021.

Os setores dos transportes e de atividades administrativas, de consultoria e serviços de apoio também sofreram choques significativos. De acordo com o BdP, a maior parte das empresas com situações financeiras frágeis antes da pandemia eram microempresas.

Para as empresas viáveis será agora inevitável, avança o relatório, avançar com um esforço de capitalização. “A acumulação de dívida não permite resolver os desequilíbrios financeiros, pelo contrário, tenderá a agravá-los, a menos que ocorra um aumento significativo da capacidade de geração de fluxos de caixa”, refere o BdP no documento.

A poupança acumulada pelo setor privado durante a pandemia poderá contribuir para este reequilíbrio, bem como os apoios públicos direcionados a esta finalidade.

O desafio prende-se agora com a avaliação de viabilidade das empresas, de modo a otimizar a afetação de recursos na economia portuguesa.

 

Apoio ao mercado de trabalho protegeu o emprego

O boletim do Banco de Portugal dá ainda conta de que o apoio ao mercado de trabalho protegeu o emprego. “As medidas de salvaguarda do emprego contribuíram para conter a sua redução em 2%” e “a taxa de desemprego subiu apenas 0,3 pontos percentuais, para 6,8%”, lê-se no documento.

No caso das empresas, em específico, “as linhas de crédito com garantia pública e o regime de moratórias permitiram suprir as necessidades de liquidez”.