Biden: O Presidente que quer sarar feridas e unir o país
Joe Biden entrou na corrida à Casa Branca acusando Donald Trump de ter endossado a violência da extrema-direita e vai tomar posse esta quarta-feira como 46º Presidente dos EUA prometendo “sarar feridas” e unir um país dividido.
Aos 78 anos, com uma vida marcada por tragédias familiares, Biden vai colocar à prova a sua imagem unificadora de um país profundamente dividido e agora abalado pelo ataque ao Capitólio, na semana passada, por apoiantes de Donald Trump.
Depois de duas primeiras tentativas presidenciais fracassadas, uma campanha agressiva ensombrada pela pandemia de covid-19 e uma vitória obscurecida pelas alegações infundadas de fraude, lançadas pelo rival republicano, Biden cumpre na quarta-feira o sonho de abrir de novo as portas da Casa Branca, desta vez com o fato de Presidente.
Para já, Biden pode reivindicar o lugar nos livros de História como o homem que derrotou Donald Trump, mas o seu objetivo declarado é conseguir unir o que o Presidente cessante ajudou a dividir e trazer calma a um país que está a sofrer violentamente o impacto da mais grave pandemia das últimas décadas e uma crise económica de dimensões brutais.
Após o ataque ao Capitólio e no meio de uma escalada do número de mortes diárias com covid-19, Biden promete aos norte-americanos ajudá-los a superar as dificuldades.
“Vamos sobreviver juntos. Mas não o poderemos fazer num país separado e dividido”, disse Biden numa recente mensagem ao país, na qualidade de Presidente eleito.
Joe Biden começou a sua carreira política nacional aos 29 anos, quando foi eleito senador pelo estado de Delaware, em 1972, um mês antes de a sua mulher e a sua filha de um ano de idade terem morrido num acidente de automóvel, que deixou também outros dois filhos feridos.
Este drama, seguido pela perda do seu filho mais velho, em 2015, alimenta a empatia que ele oferece aos norte-americanos e que o ajudou a sedimentar a imagem de um político marcado pela tragédia, mas sem nunca perder a esperança.
Aos 77 anos, os adversários acusaram-no de não estar na posse de todos os atributos físicos e mentais para uma dura campanha eleitoral e, entre os seus conselheiros, não faltou o receio de erros, gafes e quedas que o pudessem impedir de conseguir derrotar Trump.
Donald Trump, 74 anos, colocou-lhe o epíteto de “dorminhoco” (‘Sleeping Joe’), criticando a sua gaguez e acusando-o de ser “senil”, mas Biden foi desmentindo todas as versões de que não estava preparado para o cargo e foi angariando apoios decisivos durante as eleições primárias do Partido Democrata, até que uma decisiva vitória na Carolina do Sul ditou o seu avanço para a corrida à Casa Branca.
Ao contrário do que tinha acontecido com Hillary Clinton em 2016, Biden conseguiu juntar a ala moderada com a ala progressista do partido, movidas pelo mesmo objetivo: derrotar o populismo de Donald Trump.
Falta agora saber se manterá essas duas fações unidas, contando em grande parte com a ajuda da sua vice, Kamala Harris, para manter a diversidade de ideias dentro do seu programa eleitoral, equilibrando as suas propostas mais moderadas com o que ele disse querer ser a “agenda mais progressista” da história política norte-americana.
Ao fim de uma carreira de 35 anos como senador, Biden conhece bem o Capitólio e pode beneficiar do domínio democrata em ambas as câmaras do Congresso (com a câmara alta dividida a meio, o privilégio do voto de desempate é da vice-Presidente, Kamala Harris) para fazer impor algumas das suas mais urgentes reformas e programas, como conseguir fazer vacinar 100 milhões de pessoas contra a covid-19, nos primeiros 100 dias de Governo.
O novo Presidente dos Estados Unidos terá ainda de provar que não guardou ressentimentos contra Trump e contra os apoiantes do Presidente republicano, que ainda hoje não aceitam a derrota eleitoral em 03 de novembro.
A sua preocupação inicial parece ser a de constituir uma equipa muito diversa, com figuras que simbolicamente representam ruturas com a tradição de Washington, como acontece com Kamala Harris, que é será a primeira mulher na vice-presidência.
Mas Biden também não pode arriscar escolher um executivo inexperiente, à luz dessa diversidade, e foi recuperar vários nomes ligados à presidência de Barack Obama (de quem foi vice-Presidente) e mesmo de Bill Clinton, que esteve na Casa Branca nos anos 1990.
Por outro lado, tem de fazer esquecer alguns episódios da sua vida política de que hoje parece arrependido, como o voto a favor da guerra do Iraque, em 2003, ou o seu veemente apoio a uma lei criminal de 1994, considerada responsável pelo aumento de número da população prisional, incluindo uma grande parte de afro-americanos.
“Foi um erro. Saberei viver com ele e admitir que o cometi”, disse Biden, que logo contrapõe o seu apoio a uma outra reforma legislativa: uma lei contra a violência contra as mulheres, de que se diz “muito orgulhoso”.
Em 2017, Biden uniu forças com a sua amiga Lady Gaga na luta contra o assédio sexual, e é esta cantora que interpretará o hino nacional na cerimónia de tomada de posse do 46º Presidente dos Estados Unidos, cujo discurso, dizem fontes do Partido Democrata, insistirá na ideia de unidade do país.