«Uma enorme dor de cabeça». Líderes europeus adiam decisões sobre Natal e Ano Novo na pandemia

Os governos da Europa estão a adiar decisões dolorosas sobre as comemorações do Natal e do Ano Novo, e poucos são aqueles que se mostram dispostos a permitir alguns festejos. Muitos já estão a alertar para que poderá não ser possível celebrar com ‘normalidade’ a quadra festiva que se aproxima, avança o ‘The Guardian’.

Portugal

Em Portugal ainda não existem medidas concretas sobre as festividades deste ano. Para já, a única alusão foi feita pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que disse na semana passada que seria necessário repensar o Natal e mudar o estilo» habitual, em virtude da pandemia.

«É preciso mudar o estilo de Natal que sempre tivemos, reduzir o número de pessoas, dividir o número de pessoas. O Natal este ano é muito longo, porque vai de 24 a 27», disse Marcelo na passada sexta-feira, enquanto falava aos jornalistas no Luso, depois de se ter reunido com empresários do turismo da zona centro.

É preciso «ver como gerir essa realidade. Temos de fixar no horizonte aquilo que os portugueses podem contar em dezembro», disse o responsável na mesma ocasião. «Em tempo oportuno, os portugueses vão saber aquilo que se está a refletir sobre o Natal e fim do ano e com o que podem contar», acrescentou.

Alguns especialistas já indicaram que poderá não ser possível realizar as festividades em segurança este ano. «Todas as festividades ou eventos de convívio entre pessoas não co-habitantes aumentam a probabilidade de contágio e são desaconselháveis», defende Manuel Carmo Gomes, professor de epidemiologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL).

França

«É uma enorme dor de cabeça», disse um ministro do governo francês ao Le Monde, observando a «escolha impossível» entre uma proibição «socialmente insustentável» de reuniões familiares e o imperativo médico de não alimentar ainda mais a disseminação do coronavírus.

Num discurso no final de outubro no qual anunciava o segundo bloqueio de França, o presidente Emmanuel Macron disse que se a pandemia fosse controlada, o governo «veria mais perto se podemos esperar celebrar a época festiva em família». Como acontece com a maioria dos países, esse tempo claramente ainda não chegou.

O primeiro-ministro da França, Jean Castex, disse na semana passada que lojas não essenciais provavelmente reabririam a 1 de dezembro, e as regras de bloqueio deveriam ser relaxadas para permitir de alguma forma passar o Natal em família, embora «certamente não como de costume».

As árvores de Natal, pelo menos, podem começar a ser vendidas a partir de 20 de novembro, anunciou o governo, mas os restaurantes parecem não poder ​​reabrir antes de meados de janeiro e ainda não há certeza de que as igrejas possam realizar a missa de Natal.

As regras de bloqueio em vigor em França não permitem que as pessoas convidem outras para as suas casas. Uma recente pesquisa francesa descobriu que 53% dos inquiridos estavam dispostos a renunciar ao Natal em família para prevenir a infeção, 75% planeavam ver menos pessoas e 70% estavam dispostos a ficar em total bloqueio.

Alemanha 

Quando a Alemanha voltou para uma «luz de bloqueios» no início deste mês, Angela Merkel expressou a esperança de que «seríamos capazes de ter mais liberdade no Natal» se os cidadãos seguissem as regras rígidas ao longo de novembro.

Mas quando a chanceler se encontrar com os líderes dos 16 estados do país na próxima semana, devem chegar a um acordo sobre os novos regulamentos que vão proibir as festas sazonais na noite de 24 de dezembro, quando os alemães tradicionalmente se reúnem para as celebrações do Natal.

«Para ser honesto, não vejo grandes casamentos, aniversários ou mesmo festas de Natal a acontecer em dezembro ou em qualquer altura deste inverno», disse o ministro da saúde alemão, Jens Spahn, recentemente.

Alguns mercados de Natal, incluindo o Christkindlesmarkt de Nuremberg, já foram cancelados, enquanto outros, como o Striezelmarkt de Dresden, estão a trabalhar em planos para permitir que a sua extravagância tradicional de vinho quente e pão de gengibre prossiga de forma mais simples.

Com medo de sobrecarregar hospitais, autoridades de várias cidades e municípios estão a considerar se devem seguir o exemplo da Holanda na proibição de fogos de artifício na véspera de Ano Novo, levando o jornal Die Welt a reclamar que aqueles que exigem uma moratória contra fogos de artifício «estão a ignorar a alma da Alemanha».

Espanha

A Espanha continua em estado de emergência, com toques de recolher noturnos ainda em vigor. O ministro da Saúde, Salvador Illa, convocou uma reunião de especialistas regionais de saúde para traçar planos que permitam tornar o Natal o mais seguro possível, mas alertou a população para que não tenha muitas esperanças.

«Acho que todos os espanhóis sabem que este Natal não será como o anterior», disse o responsável na quarta-feira. «Não podemos continuar como se nada tivesse acontecido», acrecemtou fazendo um apelo às pessoas para que compreendam a sensibilidade da situação.

O governo da região de Madrid está a estudar a opção de usar farmácias para realizar um grande número de testes de Covid antes e depois do Natal, de forma a permitir que as pessoas se reúnam com segurança. Qualquer movimento desse tipo precisaria de ser aprovado pelo ministério de Illa.

Na quinta-feira, o governo catalão anunciou que os bares e restaurantes da região, fechados há um mês, seriam reabertos parcialmente a partir de segunda-feira, e traçou um plano de quatro fases para as próximas semanas.

O toque de recolher da Catalunha das 22h às 6h vai manter-se em vigor durante o Natal e o Ano Novo. No entanto, as famílias podem reunir-se em grupos de até 10 pessoas a partir de 21 de dezembro. As reuniões estão atualmente limitadas a grupos de seis.

Itália

Em Itália , onde os mercados de Natal também foram proibidos e as viagens entre regiões estão fortemente restritas, está a ser preparado um decreto para a época festiva, com medidas possíveis a passar pela reabertura de lojas e restaurantes a partir de 3 de dezembro.

Para além disso o Governo pondera ainda a prorrogação por mais uma hora do toque de recolher noturno nacional, bem como a autorização da realização de jantares de Natal, contudo, apenas com familiares muito próximos.

O primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, garantiu às crianças na semana passada que os seus presentes seriam entregues porque o Pai Natal não tinha nenhuma restrição de viagem.

Mas o Natal «não se trata apenas de fazer compras, dar presentes e impulsionar a economia», disse. Qualquer que seja a religião de cada um, é «certamente também um momento de culto espiritual privado», e não uma «reflexão espiritual com muitas outras pessoas», acrescentou.