As delegações da Ucrânia e da Rússia voltam a reunir-se esta quarta-feira, em Istambul, para uma nova ronda de conversações de paz. O anúncio foi feito pelo presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, numa declaração transmitida na noite de segunda-feira, através das redes sociais.
“Discuti com Rustem Umerov, secretário do Conselho de Segurança e Defesa Nacional, a preparação de uma nova reunião na Turquia com o lado russo. Umerov informou que o encontro está agendpara quarta-feira”, declarou Zelensky, sem revelar muito mais detalhes.
A reunião marca o terceiro encontro direto entre as duas delegações em menos de dois meses, após as rondas anteriores de 16 de maio e 2 de junho, também realizadas em Istambul. Estes contactos surgem após mais de três anos sem negociações formais e têm sido promovidos sob forte incentivo diplomático do presidente norte-americano Donald Trump.
Apesar do retomar do diálogo, as posições entre Kiev e Moscovo permanecem largamente inconciliáveis. A Rússia voltou a apresentar exigências máximas na última ronda, incluindo o reconhecimento da anexação da Crimeia (em 2014), a cedência pela Ucrânia de quatro regiões atualmente sob ocupação russa, a renúncia a qualquer ajuda militar do Ocidente e o compromisso de nunca aderir à NATO.
Zelensky classificou estas exigências como “ultimatos” e reafirmou que a Ucrânia não aceitará a capitulação da sua soberania territorial. No entanto, o líder ucraniano continua a defender a via diplomática, desde que esta inclua compromissos sérios com a paz e respeito pelos princípios internacionais.
“A nossa agenda é clara”, escreveu Zelensky na rede social X (antigo Twitter). “É evidente para todos que negociações verdadeiramente eficazes só podem ocorrer ao mais alto nível de liderança nacional.” O presidente ucraniano voltou a insistir na necessidade de discutir temas humanitários prioritários como a libertação de prisioneiros de guerra, o regresso de crianças deportadas pela Rússia e a preparação de uma futura cimeira de líderes.
Moscovo mantém postura inflexível e exclui Putin das negociações
Do lado russo, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, confirmou ontem, que Moscovo está disponível para continuar as conversações. No entanto, rejeitou que haja qualquer data formalmente acordada e deixou claro que a composição da delegação russa não sofrerá alterações.
“Não haverá mudanças na delegação russa”, afirmou Peskov, acrescentando que continuará a ser liderada por Vladimir Medinsky, assessor de confiança de Vladimir Putin. Altos responsáveis como o ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergey Lavrov, continuarão ausentes do processo, o que ilustra a relutância de Putin em envolver-se diretamente nas negociações.
O presidente russo tem recusado participar pessoalmente nas conversações, preferindo delegar a tarefa a representantes de segundo plano. Esta abordagem contrasta com a vontade expressa por Zelensky em avançar para um encontro direto entre líderes, que, segundo fontes diplomáticas, está a ser discretamente preparado por Ancara.
Erdogan tenta intermediar cimeira entre Zelensky, Putin e Trump
O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdoğan, confirmou em 26 de junho que o seu governo está a trabalhar na possibilidade de uma cimeira envolvendo Zelensky e Putin, com eventual participação de Donald Trump. Ancara tem desempenhado um papel central como mediador entre as duas partes, procurando relançar canais de diálogo num momento crítico.
A mais recente pressão sobre Moscovo vem precisamente de Washington. A 14 de julho, Donald Trump declarou que impôs um prazo de 50 dias para alcançar um acordo de paz e ameaçou impor “tarifas severas” à Rússia caso o conflito não termine dentro desse período. Paralelamente, os EUA anunciaram um novo pacote de apoio militar a Kiev, reforçando a sua posição negocial.
Durante as duas rondas anteriores, a Ucrânia propôs um cessar-fogo incondicional de 30 dias, medida apoiada formalmente pelos Estados Unidos. Contudo, a proposta foi recusada por Moscovo, que mantém os seus objetivos militares inalterados. “Os nossos objetivos permanecem os mesmos e serão alcançados no campo de batalha”, reafirmou Peskov a 20 de julho, sublinhando a lógica de força que continua a reger a posição russa.
Com as negociações desta quarta-feira, permanece a incógnita sobre se o encontro servirá apenas para abordar questões humanitárias ou se abrirá espaço para avanços reais em direção à paz. Para já, o simbolismo da mesa de negociações, por mais frágil que seja, contrasta com o ruído constante das armas no leste da Ucrânia.














