A Ucrânia acusou esta terça-feira a Índia de contribuir indiretamente para o esforço militar russo, ao permitir que componentes fabricados em território indiano estejam a ser utilizados em drones de ataque russos. A denúncia foi feita por Andrí Yermak, chefe da administração presidencial ucraniana, que utilizou o seu canal de Telegram para expor publicamente a situação.
“Infelizmente, nos drones de ataque russos aparecem componentes indianos. São drones que estão a ser utilizados na linha da frente e contra civis, em particular os Shahed-Geran”, escreveu Yermak, citado pela agência EFE.
Estes drones, de fabrico iraniano mas montados e modificados na Rússia, tornaram-se uma das armas mais utilizadas nos ataques às infraestruturas energéticas e cidades ucranianas. Os Shahed-Geran são regularmente usados em missões noturnas contra alvos civis, causando destruição generalizada e instabilidade na rede energética do país.
As declarações de Yermak surgem num contexto de crescente tensão comercial entre Washington e Nova Deli, depois de Donald Trump — que cumpre actualmente o seu segundo mandato como presidente dos EUA — ter ameaçado impor tarifas adicionais à Índia, acusando o país de financiar o esforço de guerra russo através da compra massiva de petróleo a Moscovo.
“A comunidade internacional deve limitar a possibilidade de que a Rússia receba componentes de outros países”, sublinhou Yermak, numa mensagem clara dirigida não apenas à Índia, mas também aos aliados ocidentais.
Segundo Kiev, o volume de importações energéticas indianas provenientes da Rússia representa uma fonte vital de financiamento para a máquina militar de Vladimir Putin, permitindo ao Kremlin sustentar a sua ofensiva militar prolongada, iniciada com a invasão em fevereiro de 2022.
Neste contexto, a Ucrânia espera que os avisos de Trump se traduzam em sanções concretas, nomeadamente na forma de medidas secundárias que limitem o comércio internacional de petróleo russo. Nova Deli tem sido um dos principais compradores do crude russo desde o início do conflito, aproveitando os descontos oferecidos por Moscovo após as sanções impostas pela União Europeia e pelos Estados Unidos.
Esta não é a primeira vez que Kiev tenta tirar partido das rivalidades internacionais dos EUA para pressionar os aliados de Moscovo. Durante o auge da guerra comercial entre Washington e Pequim, as autoridades ucranianas já haviam chamado a atenção para o envolvimento da China no fornecimento de componentes para drones e outros materiais industriais utilizados pela Rússia, esperando que isso motivasse a Casa Branca a endurecer a sua posição.
Agora, a Ucrânia vira-se para a Índia, num momento em que Putin e o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, fortalecem os seus laços bilaterais no seio dos BRICS — grupo que junta Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Na última cimeira, realizada em Kazã, Rússia, em outubro de 2024, os dois líderes mostraram uma forte aproximação estratégica e económica.














