O Parlamento Europeu debate e vota hoje uma proposta apresentada pela Comissão Especial para a Luta contra o Cancro, que pede que se incluam avisos de saúde nos rótulos de bebidas alcoólicas. O setor dos vinhos devido receia o aumento dos impostos e da obrigatoriedade das garrafas incluírem avisos nos rótulos.
O relatório em discussão “irá danificar todo o trabalho que este setor tem feito ao longo dos últimos anos”, diz Frederico Falcão, Presidente da ViniPortugal, organização interprofissional do vinho de Portugal, em declarações à ‘Executive Digest’.
“Alguns aspetos deste relatório danificam de forma gravosa a imagem e prestígio do setor vitivinícola a nível nacional e europeu. A cultura do vinho faz parte dos nossos valores enquanto europeus, é uma bebida inserida na dieta mediterrânica e acreditamos que a aprovação deste Relatório, com a atual redação, irá danificar todo o trabalho que este setor tem feito ao longo dos últimos anos”, sublinhou.
A ViniPortugal tem assim algumas preocupações no que concerne a este relatório, como é o caso de este sublinhar que qualquer consumo de álcool é nocivo para a saúde (parágrafos 15 e 44), considerando que o termo “consumo de álcool” deve ser substituído por “consumo abusivo de álcool”.
Outro fator de preocupação é a possibilidade de concretização de incorporação nas embalagens de vinho algumas advertências sobre o impacto do consumo abusivo na saúde. Para Frederico Falcão, “esta medida, para além de denegrir todo o setor e a sua imagem, seria muito injusta por não tomar em consideração as centenas de estudos sobre os efeitos do consumo moderado de vinho na saúde”.
O relatório em discussão inclui ainda o debate sobre a carga fiscal dos produtos vinícolas, ao que o Presidente da ViniPortugal diz que uma “alteração da carga fiscal sobre um produto tão importante na economia regional do interior do nosso país, traria enormes problemas sociais e económicos. “
Ainda no que respeita à questão da tributação, Vasco Croft, arquiteto e mentor da Aphros Wines, sublinha que “o vinho já é taxado, direta e indiretamente de múltiplas formas, igual a todos os produtos agrícolas. Fazer dele uma exceção, sobrecarregando-o com taxas que tenham o objetivo de dificultar e restringir o seu consumo, como se fez (aí justamente) com o tabaco, seria, pelas razões apontadas, um grave erro estratégico e civilizacional.”
O vinho é um problema para a saúde?
Vasco Croft sublinha que a discussão deste relatório “representa uma decadência e um recuo civilizacional, um verdadeiro atentado contra os valores fundamentais da cultura europeia que o Parlamento Europeu tem como missão defender e preservar”.
O criador do projeto de vinhos biodinâmicos sublinha que é reconhecido ao vinho virtudes medicinais desde a antiguidade, hoje comprovadas cientificamente, sendo mesmo recomendado pela organização Mundial de Saúde, desde que tomado com moderação.
“Os benefícios para a saúde incluem a riqueza em antioxidantes, redução de colesterol e excesso de peso, saúde cardíaca, regulação de açúcar no sangue e muitas outras”, sublinha, em declarações à ‘Executive Digest’.
O empresário destaca ainda que o real problema para a saúde na Europa e no mundo são as bebidas açucaradas, as farinhas refinadas, a falta de educação alimentar, entre outros.
“Vinho com Moderação”
O Presidente da ViniPortugal sublinhou ainda que o setor vitivinícola europeu adotou o programa “Vinho com Moderação”, que visa implementar uma contribuição efetiva e específica para a redução dos malefícios relacionados com o consumo abusivo de álcool, apoiado em informação baseada na ciência, educação alargada e autorregulação do setor.
Para Frederico Falcão, esta iniciativa representa uma contribuição do setor para o Fórum da Saúde e do Álcool da Comissão Europeia dentro do enquadramento da estratégia da UE para apoiar os Estados Membros a reduzir os malefícios relacionados com o consumo abusivo de álcool.














