DISCIPLINA FINANCEIRA, APOSTA TECNOLÓGICA E ROTAÇÃO DE ACTIVOS DEFINEM A ESTRATÉGIA DA EDP PARA OS PRÓXIMOS TRÊS ANOS.
EDP prepara-se para investir cerca de 12 mil milhões de euros no triénio 2026-2028, num plano de negócios que coloca as energias renováveis e as redes eléctricas no centro da sua estratégia de crescimento. Uma fonte oficial da companhia explica que este investimento as- senta em critérios claros de rentabilida- de, crescimento sustentável e alinhamen- to com a transição energética, procurando garantir «um sistema energético mais limpo, mais seguro e mais competitivo».
Do montante global previsto, cerca de 7,5 mil milhões de euros serão canaliza- dos para o desenvolvimento de energias renováveis, com destaque para projectos eólicos, solares e sistemas de armazenamento de energia em baterias. A EDP pri- vilegia mercados estratégicos de eleva- do potencial e contratos de longo prazo, sendo que os Estados Unidos absorverão aproximadamente 60% deste investimento em renováveis. A empresa aposta numa estratégia de expansão focada em geografias que oferecem maior visibilidade e retorno, consolidando a sua presença em mercados onde as condições regulatórias e os mecanismos contratuais asseguram estabilidade aos projectos.
As redes eléctricas, por seu turno, receberão cerca de 3,6 mil milhões de euros, sendo dois terços desta verba aplicados na Península Ibérica. Este investimento visa reforçar a infra-estrutura existente e garantir maior capacidade de integra- ção de energias renováveis, ao mesmo tempo que se procura aumentar a flexibilidade operacional do sistema. A EDP sublinha que a estratégia inclui ainda uma componente de reciclagem de capital, com alienações e rotação de activos que deverão liberar cerca de cinco mil milhões de euros, assegurando discipli- na financeira e capacidade para investir nos mercados mais promissores.
A aposta na modernização tecnológica constitui outro pilar fundamental do plano estratégico da empresa. A EDP con- sidera que a tecnologia não é apenas uma ferramenta, mas sim «o motor que permite fazer mais, melhor e com maior segurança». Neste contexto, a automação, a robotização e a inteligência artificial surgem como instrumentos essenciais para aumentar a eficiência operacional, reduzir custos e reforçar a segurança nas operações do grupo.
Estas tecnologias já estão integradas em áreas críticas da actividade da EDP, desde a manutenção preditiva à gestão inteligente das redes e à optimização dos processos comerciais. Um exemplo concreto desta aplicação é o sistema PREDIS, baseado em inteligência artificial, que prevê a carga eléctrica em todos os nós da rede, permitindo uma gestão dinâmica que reduz restrições e facilita a integração de volumes crescentes de energia renovável. Nos parques solares, a robotização já apoia tarefas pesadas, como a movimentação de painéis, e per- mite a realização de inspecções automatizadas, o que aumenta a segurança e reduz riscos, libertando simultaneamente as equipas para actividades de maior valor acrescentado.
A EDP refere que a automação contribui também para criar ambientes de trabalho mais seguros e para gerar ganhos contínuos de eficiência, enquanto a hiperautomação e a análise preditiva suportam decisões estratégicas e melhoram a experiência do cliente. Com estas iniciativas, a empresa prevê manter o OPEX nominal estável e garantir um rácio OPEX/Margem Bruta competitivo, reforçando a sua liderança na digitalização do sector energético.
O reforço das redes eléctricas na Península Ibérica assume particular relevância num contexto de aceleração da electrificação da economia e de crescimento exponencial da procura energética. A EDP considera este investimento decisivo para acompanhar o aumento da procura impulsionado por sectores de elevada intensidade energética, com destaque para os centros de dados. Estes hubs digitais, segundo a empresa, podem representar até 20% da procura eléctrica nacional em alguns cenários, o que exige infra-estruturas «mais robustas, flexíveis e inteligentes, capazes de garantir estabilidade e integrar volumes crescentes de energias renováveis».
Os 3,6 mil milhões de euros previstos para a modernização e digitalização das redes visam reforçar a capacidade de interligação, mitigar riscos de congestionamento e assegurar uma resiliência acrescida do sistema eléctrico. Fonte da EDP afirma que estas redes terão também um papel fundamental na integração de soluções de armazenamento e na gestão dinâmica da procura, aumentando a eficiência e garantindo um fornecimento seguro e sustentável. A empresa é peremptória ao afirmar que «sem redes fortes, não há transição energética possível – são elas a espinha dorsal da economia eléctrica do futuro».
No plano financeiro, a EDP antecipa um crescimento sustentado dos resultados e uma melhoria do perfil de risco, apesar do volume significativo de investimento previsto. A companhia identifica vários factores críticos para garantir estabilidade e solidez financei- ra num contexto de forte transformação do sector energético. Entre estes facto- res destacam-se a disciplina na alocação de capital, privilegiando projectos com retornos atractivos e contratos de longo prazo, a rotação de activos para gerar liquidez e reduzir a exposição ao risco, e a manutenção de um balanço robusto, com dívida líquida controlada e rating de crédito estável.
A empresa explica que o seu objectivo passa por crescer «com ambição, mas avançar com rigor», considerando que a solidez financeira é o que garante que cada passo da transição energética é seguro e sustentável. Neste sentido, a EDP prevê reduzir a dívida líquida para cer- ca de 15 mil milhões de euros até 2028, ao mesmo tempo que projecta aumen- tar o EBITDA para cerca de 5,2 mil mi- lhões de euros e o resultado líquido para 1,3 mil milhões de euros. Este crescimento deverá ser impulsionado pelo aumento das actividades reguladas e pela expansão das energias renováveis.
A gestão activa do risco, combinada com a digitalização e a eficiência ope- racional, reforça a capacidade da EDP para enfrentar a volatilidade do merca- do e sustentar um perfil financeiro resiliente e competitivo.
Este artigo faz parte da edição de Novembro (n.º 236) da Executive Digest.














