O mundo entra em 2026 marcado por transições políticas, incertezas económicas e rivalidades geopolíticas que se cruzam com fatores novos, desde eleições contestadas a rearranjos regionais, criando condições para um agravamento da instabilidade em várias zonas estratégicas. A avaliação baseia-se nos dados do ACLED, um projeto global de monitorização de violência política, que identifica os pontos mais vulneráveis à escalada no próximo ano, sublinhando como conflitos enraizados, Estados fragilizados e atores não estatais altamente adaptáveis podem moldar a segurança internacional.
De acordo com a revista ‘Newsweek’, estas dinâmicas têm efeitos que ultrapassam fronteiras, interferindo com fluxos comerciais, energia, migrações e equilíbrios regionais, num contexto em que grupos armados descentralizados, alianças voláteis e táticas assimétricas tornam as crises mais imprevisíveis. Para Governos, organizações internacionais e entidades humanitárias, antecipar estas tendências é crucial, já que a instabilidade num único território pode produzir impactos em cadeia.
O relatório destaca dez regiões sob pressão crescente, começando pela América Latina, onde vários países enfrentam um reforço das políticas de segurança, com militarização crescente e risco de abusos, enquanto a situação no Equador se torna um indicador das dificuldades em travar a criminalidade organizada. A intensificação da violência no país resulta da resistência das redes criminosas às reformas prisionais, dos ataques com motivação política e da pressão dos conflitos nos países vizinhos, num ambiente em que as respostas militarizadas não têm conseguido conter a insegurança.
Na Europa, a Ucrânia enfrenta uma fase crítica do conflito, com a Rússia a intensificar ofensivas e ataques de longo alcance, enquanto Kiev lida com tropas sobrecarregadas e sistemas de defesa pressionados. O realinhamento da política dos EUA e o esforço do Kremlin para dividir o Ocidente reforçam o peso geopolítico desta guerra, que pode redefinir a segurança europeia.
Na Ásia, Mianmar permanece num ciclo de instabilidade, apesar das tentativas de Pequim para legitimar um Governo civil através de eleições. A impopularidade da junta, a coerção exercida sobre civis e a resistência armada elevam o risco de violência generalizada, enquanto as detenções associadas à nova lei eleitoral e os bloqueios à votação expõem a fragilidade do processo político. No Paquistão, a ameaça persistente de militantes, a permeabilidade da fronteira com o Afeganistão e a ausência de um diálogo político eficaz aumentam a probabilidade de novos focos de violência que podem atingir centros urbanos.
O Mar Vermelho surge como outro ponto crítico, apesar das tréguas recentes entre Israel e o Hamas e da pausa nos ataques dos Houthis. A crescente coordenação entre grupos militantes na região, aliada às rivalidades entre potências do Golfo, Etiópia e Eritreia, deixa o corredor marítimo vulnerável a escaladas repentinas e perturbações no comércio global. No Sahel, a fusão de conflitos no Mali, Burkina Faso, Níger e norte da Nigéria alimenta um teatro de guerra cada vez mais complexo, onde grupos afiliados à Al-Qaeda e ao Estado Islâmico exploram Estados frágeis e alianças instáveis.
O Sudão mantém-se como um dos conflitos mais mortíferos do continente africano, com as forças rivais a disputarem território em Darfur e Kordofan, apoiadas por milícias e com aumento do uso de drones, enquanto os esforços diplomáticos continuam sem tração. No Médio Oriente, Israel enfrenta pressões simultâneas em múltiplas frentes, da Palestina ao Líbano, Síria e Irão, num cenário em que períodos de calma disfarçam tensões profundas e onde a situação humanitária em Gaza deverá permanecer crítica.
A Síria encerra o panorama com um alerta para a fragilidade persistente de Estados marcados por guerra prolongada, onde tensões sectárias, dificuldades económicas e células ativas do Estado Islâmico continuam a ameaçar a estabilidade.
O conjunto destas regiões evidencia um ambiente global em que alianças instáveis, territórios fragmentados, atores armados flexíveis e redes criminosas com grande capacidade de reorganização podem transformar crises localizadas em instabilidades regionais. A pressão sobre populações em fuga, a necessidade de sistemas de alerta precoce e a urgência de respostas diplomáticas coordenadas deverão marcar 2026, num cenário internacional cada vez mais volátil.














