Transição energética: Venda de carros a gasóleo cai e atinge mínimo histórico

A transição energética em Portugal tem registado um aumento significativo na procura de energia elétrica para carregamento de veículos, com um aumento de 66% nos primeiros nove meses de 2024 face ao mesmo período de 2023. Segundo a Mobi.E, durante este período foram realizados mais de 4,3 milhões de carregamentos, utilizados por mais de 200 mil utilizadores. No entanto, o consumo de combustíveis tradicionais também cresceu, com a gasolina 95 e o autogás (GPL) a registarem subidas de 5% e 30%, respetivamente, embora o gasóleo tenha tido uma ligeira quebra, com menos 125 mil toneladas vendidas.

De acordo com dados da Associação Automóvel de Portugal (ACAP), cedidos ao Jornal de Notícias, entre janeiro e setembro deste ano foram matriculados apenas 13.784 veículos ligeiros a gasóleo, representando 8,7% das vendas. A título de comparação, em 2018, antes da pandemia, o gasóleo representava 53,3% do mercado. Apesar da diminuição da venda de novos veículos a diesel, o seu consumo mantém-se estável, o que, segundo especialistas, se deve ao envelhecimento da frota automóvel portuguesa e à importação de viaturas usadas, maioritariamente com mais de sete anos de idade. Estima-se que cerca de 20% dos veículos em circulação tenham mais de 20 anos, o que contribui para consumos mais elevados de combustíveis fósseis, ressalta Helder Pedro, secretário-geral da ACAP.

Helder Pedro sublinha que uma frota envelhecida é prejudicial às metas de descarbonização e critica a falta de incentivos governamentais para o abate de veículos antigos. A ACAP propôs um programa de incentivo de 129 milhões de euros, que permitiria a renovação de 40 mil veículos, mas, segundo Pedro, o Governo tem limitado os incentivos à aquisição de veículos elétricos, com um orçamento de apenas 20 milhões de euros, insuficiente para as necessidades do setor.

A escassez de veículos diesel recentes no mercado de importação é uma preocupação para o presidente da Associação Portuguesa do Comércio Automóvel, Nuno Silva. Esta falta de oferta afeta especialmente quem precisa de percorrer grandes distâncias e prefere veículos a diesel como alternativa mais económica. Por outro lado, Silva observa que a procura por veículos elétricos continua a crescer à medida que os preços se tornam mais acessíveis ao mercado português.

A Associação Portuguesa das Empresas de Combustíveis e Lubrificantes (EPCOL) salienta que, embora o consumo de gasóleo tenha caído 4% este ano, a procura por gasolina e GPL aumentou. A EPCOL defende a diversificação dos vetores energéticos, uma vez que a eletrificação não é uma solução viável a curto ou médio prazo para os transportes pesados, a aviação e o transporte marítimo. Para estes setores, a EPCOL propõe o uso de biocombustíveis e combustíveis sintéticos com baixos teores de carbono, que podem ser utilizados nas infraestruturas já existentes.

A descarbonização estende-se a setores como o transporte rodoviário de mercadorias e passageiros, bem como à navegação marítima e à aviação. Estes setores, responsáveis por elevadas emissões de CO2, estão a adotar tecnologias alternativas. A EPCOL sugere combustíveis produzidos a partir de biomassa, resíduos agrícolas e florestais, hidrogénio verde e CO2 capturado, como alternativas viáveis para reduzir as emissões nos próximos anos.

Para o transporte marítimo, a energia eólica está a ganhar força como opção de propulsão alternativa. Recentemente, um cargueiro francês atravessou o Atlântico utilizando, quase inteiramente, a força do vento. Esta abordagem, além de reduzir as emissões, apresenta-se como uma possibilidade de redução de custos e de aumento da eficiência energética.

Este cenário de aumento dos consumos elétricos e de combustíveis reflete as complexidades da transição energética, com vários setores ainda dependentes de fontes fósseis, mas a explorar alternativas que possam, em conjunto, reduzir a pegada carbónica. A adaptação do mercado e a criação de incentivos apropriados serão essenciais para acelerar a mudança e alcançar as metas de descarbonização propostas pela União Europeia.

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