Presidenciais: Marques Mendes anuncia candidatura já em fevereiro e prepara saída da SIC
Luís Marques Mendes deverá anunciar oficialmente a sua candidatura à Presidência da República em fevereiro. A decisão, que já estava em fase final de reflexão, foi confirmada no início deste ano e marca o início de uma nova etapa na carreira do comentador e conselheiro de Estado, segundo informações apuradas pelo Público.
Com a declaração formal da sua candidatura, Marques Mendes deixará o espaço de comentário político que ocupa há anos na SIC aos domingos à noite. O próprio considera “antiético” manter o papel de comentador político em canal aberto, sobretudo tendo em conta a elevada audiência do programa, num contexto em que se aproxima a campanha eleitoral para as presidenciais.
Esta postura contrasta com a adotada por Marcelo Rebelo de Sousa em 2016. Na altura, Marcelo manteve-se como comentador da TVI até ao anúncio da sua candidatura, feito em outubro, três meses antes das eleições. Marcelo chegou a revelar a intenção de concorrer no próprio programa, antes de uma formalização oficial em Celorico de Basto, terra da sua avó.
Marques Mendes escolheu o atual momento político como ideal para avançar, numa altura em que o Partido Socialista (PS) ainda não apresentou um candidato oficial. António Vitorino, o favorito da direção do PS, permanece em reflexão, enquanto António José Seguro já declarou publicamente que não está condicionado por qualquer apoio do partido. Seguro afirmou, em entrevista à CNN, que não tem “prazos” nem “depende de ninguém”, deixando claro que a eventual candidatura de Vitorino não o demoverá de avançar.
A fragmentação no PS sobre o tema presidencial foi reconhecida pelo próprio secretário-geral, que, em entrevista ao Expresso, reforçou a importância de uma única candidatura socialista: “É importante que haja apenas uma candidatura do nosso campo”. No entanto, a tradição de múltiplos candidatos na área socialista pode repetir-se.
Neste cenário, o PSD, liderado por Luís Montenegro, demonstra total alinhamento com a candidatura de Marques Mendes. Montenegro, durante um encontro de autarcas do partido em Ovar no passado dia 11 de janeiro, com Mendes presente na primeira fila, afirmou: “Não é assunto para nos preocupar. Não é assunto para provocar, aqui, nenhuma intranquilidade. Sabemos que a solução está perto”.
O modelo de presidência que Marques Mendes ambiciona seguir é inspirado em Jorge Sampaio. O antigo Presidente da República, militante socialista, destacou-se pela sua capacidade de promover “consensos discretos” e construir “pontes de entendimento” entre os principais partidos, como o PS e o PSD.
No seu percurso político, Marques Mendes já demonstrou uma aptidão semelhante. Enquanto líder parlamentar durante o Governo de António Guterres, negociou a revisão constitucional de 1997. Posteriormente, como presidente do PSD, acordou com o executivo de José Sócrates um pacto para a justiça e a lei de limitação de mandatos autárquicos.
Embora reconheça que a fragmentação política atual seja maior do que no tempo de Sampaio, Marques Mendes pretende replicar a abordagem de diálogo e consensos que marcou aquele período.