O grande silêncio: apenas 4 em 10 mil galáxias podem hospedar alienígenas inteligentes, aponta estudo
A vida alienígena capaz de comunicar através do espaço interestelar pode não ser capaz de evoluir se o seu planeta natal não possuir placas tectónicas, para não mencionar apenas a quantidade certa de água e terra seca. De acordo com um estudo publicado na revista ‘Scientific Reports’, as placas tectónicas são absolutamente essenciais para a evolução da vida complexa, segundo explicam os autores Robert Stern, da Universidade do Texas, e Taras Gerya, da ETH Zurique, na Suíça.
Na Terra, a vida multicelular complexa apareceu durante um período conhecido como explosão cambriana, há 539 milhões de anos. “Acreditamos que o início das placas tectónicas de estilo moderno acelerou enormemente a evolução da vida complexa e foi uma das principais causas da explosão cambriana”, refere Gerya, em declarações ao ‘Space.com’.
As placas tectónicas descrevem o processo das placas continentais, que são sustentadas por um manto derretido, deslizando umas sobre as outras, levando a zonas de subdução e montanhas, vales em fendas e vulcões, bem como terramotos.
A forma moderna de placas tectónicas, dizem Stern e Gerya, só começou há entre mil milhões e meio mil milhões de anos, numa era geológica conhecida como Neoproterozóico. Antes disso, a Terra tinha o que é conhecido como tampa tectónica estagnada: a crosta terrestre, chamada litosfera, era uma peça sólida e não estava dividida em placas diferentes. A mudança para as placas tectónicas modernas só aconteceu quando a litosfera arrefeceu o suficiente para se tornar suficientemente densa e forte para ser capaz de ser subduzida – isto é, ser empurrada para outras partes da litosfera por um período significativo de tempo antes de ser reciclada de volta à superfície.
As tensões ambientais que as placas tectónicas modernas colocam na biosfera podem ter instigado a evolução da vida complexa há pouco mais de meio bilhão de anos, quando a vida de repente se viu num ambiente onde foi forçada a se adaptar ou morrer, criando um pressão evolutiva que impulsionou o desenvolvimento de todos os tipos de vida que existiam nos oceanos e na terra seca associada às placas continentais.
“A coexistência duradoura dos oceanos com a terra seca parece crítica para a obtenção de vida inteligente e de civilizações tecnológicas como resultado da evolução biológica”, sustenta Gerya. “Mas ter continentes e oceanos não é suficiente por si só, porque a evolução da vida é muito lenta. Para acelerá-la, são necessárias placas tectónicas.”
No entanto, há um problema. A Terra é o único planeta do sistema solar que possui placas tectónicas. Além do mais, os modelos indicam que as placas tectónicas podem ser raras, especialmente numa classe de exoplanetas conhecidas como super-Terras, onde a configuração da tampa estagnada pode dominar.
Ter oceanos é crucial porque há fortes suspeitas de que a vida na Terra começou no mar. A terra também é crítica, não só por fornecer nutrientes através da meteorização e facilitar o ciclo do carbono, mas também por permitir a combustão (em conjunto com o oxigénio) que pode levar à tecnologia quando aproveitada pela vida inteligente.
Se planetas com placas tectónicas, bem como a quantidade certa de água e terra, são raros, então a vida alienígena tecnológica, comunicativa também pode ser rara.
Os cientistas estimaram que apenas 17% dos exoplanetas possuem placas tectónicas, e a proporção com a quantidade certa de água e terra é provavelmente ainda menor – entre 0,02% e 1%. Ou seja, o número de civilizações extraterrestre está entre 0,0004 e 20.000. “Um valor de 0,0004 significa que pode haver apenas 4 civilizações por 10.000 galáxias”, sublinha Taras.
Se Stern e Gerya estiverem corretos, então poderíamos muito bem estar efetivamente sozinhos no universo. Se for esse o caso, temos uma enorme responsabilidade a assumir. “Devemos tomar todos os cuidados possíveis para preservar a nossa – muito rara! – civilização”, indica Gerya. Caso contrário, poderíamos nos matar e extinguir a única vida tecnológica em nossa galáxia, a Via Láctea.