Mais de metade dos ucranianos já defende “paz o mais rapidamente possível” com a Rússia. Sondagem destaca “fadiga” com a guerra

A mudança de opinião na Ucrânia não ocorre isoladamente. Dados recolhidos pelo projeto PULSE mostram que, em muitos países europeus, cresce a preferência por pressionar por negociações em detrimento do apoio militar. Em Portugal, apenas 42% da população apoiava, no início do verão, um reforço militar à Ucrânia, uma posição que reflete um equilíbrio delicado entre apoio à resistência ucraniana e um desejo crescente por uma solução diplomática.

Pedro Gonçalves
Dezembro 6, 2024
11:33

Uma sondagem recente do Instituto Gallup, realizada em novembro, revela uma mudança significativa na opinião pública ucraniana sobre a guerra com a Rússia. Segundo o estudo, 52% dos ucranianos agora preferem alcançar a paz o mais rapidamente possível, enquanto 38% continuam a apoiar a luta até à vitória. Esta tendência marca um contraste claro em relação ao ano passado, quando 63% defendiam a continuidade da guerra e apenas 27% consideravam prioritárias as negociações de paz.

O analista Benedict Vigers, do Instituto Gallup, contextualiza os resultados na “fadiga evidente de uma guerra que já dura mil dias”. Vigers destaca que a preferência por negociações para pôr fim ao conflito é agora majoritária em todas as regiões da Ucrânia, incluindo as áreas mais afetadas pelos combates. Este cenário reflete, segundo o relatório, uma resposta às dificuldades enfrentadas pelas forças ucranianas no terreno e à perceção de um progresso limitado na frente de batalha.

Os resultados também estão alinhados com uma sondagem anterior do Centro Razumkov, realizada em outubro, que indicava que um em cada três ucranianos já via com bons olhos as negociações de paz – uma proporção que tem vindo a aumentar desde 2023, quando apenas 20% partilhavam dessa opinião.

Opiniões divididas na Europa
A mudança de opinião na Ucrânia não ocorre isoladamente. Dados recolhidos pelo projeto PULSE mostram que, em muitos países europeus, cresce a preferência por pressionar por negociações em detrimento do apoio militar. Em Portugal, apenas 42% da população apoiava, no início do verão, um reforço militar à Ucrânia, uma posição que reflete um equilíbrio delicado entre apoio à resistência ucraniana e um desejo crescente por uma solução diplomática.

Na Europa de Leste, países como a Bulgária (61%), Grécia (59%) e Itália (57%) têm demonstrado, desde o início do conflito, uma preferência clara por negociações. Por outro lado, na Estónia (68%) e Suécia (54%), a maioria ainda apoia o auxílio militar à Ucrânia. Polónia e Reino Unido mostram divisões internas, com metade da população polaca a apoiar as operações militares e 46% dos britânicos a favor de reforçar os esforços armados.

A mudança nas opiniões públicas também tem impacto político. Governos como o da Hungria e, mais recentemente, da Eslováquia, têm pressionado consistentemente por negociações, muitas vezes recorrendo a discursos alarmistas sobre o risco de uma Terceira Guerra Mundial. Robert Fico, primeiro-ministro eslovaco, utiliza frequentemente este argumento para justificar a sua oposição ao apoio militar direto à Ucrânia.

AO mesmo tempo, na República Checa, a população está dividida: 46% apoiam a pressão diplomática e 43% defendem o aumento do envio de armas. Curiosamente, apesar destas divisões, dois terços dos checos continuam a culpar a Rússia pelo conflito e mantêm uma atitude maioritariamente antirrussa.

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