Incêndios: Aljezur teme consequências de chuvas em Odeceixe um mês após fogo
A falta de vegetação nas encostas que rodeiam a vila da Odeceixe e o possível arrastamento de materiais em caso de chuvas é uma das principais preocupações da Câmara de Aljezur, um mês após o incêndio que afetou o concelho.
O fogo, que deflagrou em Odemira (Beja) e se estendeu depois a Aljezur e Monchique (ambos em Faro), atingiu toda e envolvente da vila algarvia e afetou a ribeira de Seixe, colocando agora em risco a “sustentabilidade” de um dos principais “produtos turísticos” do concelho de Aljezur, disse o vereador António Carvalho à agência Lusa.
Ao fazer um ponto de situação dos efeitos do fogo, António Carvalho explicou que, depois de atender às pessoas que tiveram prejuízos imediatos com o fogo, a Câmara depara-se agora com “crescentes pedidos” de apoio para limpeza de terrenos afetados, sendo a paisagem, a sustentabilidade e a contenção do solo algumas das principais preocupações.
“As chuvas podem trazer aqui um problema adicional, muito porque as encostas estão todas despidas e algumas com alguns detritos resultante do fogo”, justificou, alertando que, em caso de chuvas intensas, pode haver arrastamento de madeiras ou pedras para Odeceixe, para pequenos aglomerados populacionais, como a Galé de Baixo, e para a própria ribeira de Seixe.
Quanto aos prejuízos, o vereador que detém, entre outros, o pelouro do Ambiente, lembrou que o apuramento está a decorrer até ao dia 12 de setembro e ainda não há números exatos, mas disse ter conhecimento de estarem em análise pelo menos cinco casas afetadas, embora nenhuma da primeira habitação.
“Temos alguns alojamentos locais, até agora, que tenha conhecimento, somente dois foram afetados, um numa dimensão maior que o outro, e depois há muito prejuízo ao nível daquilo que é a agricultura”, adiantou o vereador daquela Câmara algarvia.
No que respeita à agricultura, o autarca apontou a existência de prejuízos com a destruição de “tubos de rega, vedações e vedações elétricas, depósitos de água e alguns equipamentos de apoio para à criação de gado”, mas sem quantificar.
A alimentação do gado foi, logo após o fogo, distribuída aos produtores afetados, mas a situação encontra-se estabilizada, observou, assinalando que a apicultura também foi afetada, com “imensas colmeias destruídas”, estando a ser estudadas medidas mais “musculadas” para apoiar a atividade.
António Carvalho indicou que a Câmara e outras autoridades estão a preparar intervenções para estabilização das encostas, como a “colocação de redes em alguns locais” da Estrada Nacional 120 “para conter a queda de pedras” e evitar que algumas possam atingir “habitações ou algumas viaturas que se encontram junto a um estacionamento que fica no sopé dessas encostas”.
No entanto, notou, o maior prejuízo é mesmo o coberto vegetal e a paisagem, que “ficou afetada numa das zonas que é um ‘hotspot’ de turismo de natureza e da identidade” do território, lamentou, frisando que Odeceixe e a ribeira de Seixe são um cartão-de-visita do concelho e os efeitos do fogo podem ameaçar a sustentabilidade do turismo nos próximos tempos.
António Carvalho considerou, contudo, que o incêndio e os seus efeitos trouxeram também uma “oportunidade para corrigir algumas das más práticas dos últimos anos na gestão da floresta” e da ribeira de Seixe.
Esta ribeira, apontou, devia ter servido para conter o fogo, mas acabou por ser um condutor do incêndio porque não estava devidamente tratada, nem limpam e os “silvados e [espécies] invasoras como canas foram conduzindo o fogo ao longo da ribeira”.
“E essa é uma preocupação que fica em cima da mesa, sobretudo para o futuro”, reconheceu.
Já o presidente da Câmara de Monchique, Paulo Alves, referiu que o incêndio “não teve grande impacto” ao nível agrícola no concelho, “não havendo nada de significativo que possa ser submetido às ajudas anunciadas pelo Governo”.
Segundo disse à Lusa o autarca, no município arderam cerca de 360 hectares de mato e eucaliptos, “não tendo sido afetadas, de acordo com o primeiro levantamento feito pelos serviços municipais, explorações agrícolas”.
“Estamos a ultimar o balanço no sentido de apurarmos danos na floresta, mas não será nada de significativo em comparação com os danos nos concelhos de Aljezur e de Odemira”, apontou.
De acordo com dados provisórios, o incêndio que deflagrou em 11 de agosto no concelho alentejano de Odemira e que estendeu aos vizinhos algarvios de Aljezur e Monchique, devastou uma área de cerca de 8.400 hectares.
Num perímetro de 50 quilómetros, as chamas afetaram explorações agrícolas e turísticas, principalmente nos concelhos de Odemira e de Aljezur, tendo em Monchique destruído cerca de 350 hectares de mato e floresta.