Filhos de “El Chapo” reconstroem império com droga que está a ‘varrer’ os EUA, 50 vezes mais potente do que a heroína

A sua aposta inicial no fentanil, um opioide sintético 50 vezes mais poderoso do que a heroína, ajudou a impulsionar uma epidemia de opioides nos Estado Unidos, responsável pela morte de quase 200 americanos diariamente, que os colocou diretamente na mira dos agentes antinarcóticos americanos

Francisco Laranjeira
Maio 9, 2023
16:11

Janeiro de 2017: dias depois de o México ter extraditado o notório traficante de drogas Joaquín “El Chapo” Guzmán para os Estados Unidos, vários polícias em Sinaloa, o seu estado natal, foram atacados – nos meses seguintes, foram assassinados 13 polícias.

Este foi um sinal de que o cartel de Sinaloa de Guzmán iria sobreviver sem o seu líder. Agora no comando estavam os quatro filhos de “El Chapo”, mais conhecidos como “Los Chapitos”.

Conhecidos como “Los Chapitos”, ou “os pequenos Chapos”, os quatro irmãos já foram ridicularizados por adversários como ‘príncipes titulados’, mais preocupados em exibir a sua riqueza no Instagram do que no trabalho sujo de transportar toneladas de cocaína para os Estados Unidos. No entanto, os irmãos ressuscitaram um império de drogas que vacilou depois de o seu pai ter ido parar a uma prisão americana e diversificaram o negócio, adotando uma nova linha de drogas sintéticas.

A sua aposta inicial no fentanil, um opioide sintético 50 vezes mais poderoso do que a heroína, ajudou a impulsionar uma epidemia de opioides nos Estado Unidos, responsável pela morte de quase 200 americanos diariamente, que os colocou diretamente na mira dos agentes antinarcóticos americanos.

“Os ‘Chapitos’ foram os pioneiros no fabrico e no tráfico da droga mais letal que o nosso país já enfrentou”, referiu Anne Milgram, chefe da Administração Antidrogas dos Estados Unidos (DEA), em entrevista coletiva em Washington a 14 de abril. “Eles herdaram um império global de drogas e tornaram-no mais cruel, mais violento e mais mortal.”

“Los Chapitos”, pela primeira vez na história, divulgaram recentemente uma carta pública na qual negavam as alegações de que eles traficam fentanil e refutaram as alegações feitas por autoridades americanas. “Nunca produzimos, fabricámos ou comercializámos fentanil ou qualquer um dos seus derivados. Somos vítimas de perseguições e fizeram-nos um bode expiatório”, escreveram os irmãos na carta. Por último, os irmãos garantiram que os narcotraficantes e os media exploraram a fama do pai para envolvê-los em crimes dos quais são inocentes.

“El Chapo” está a cumprir prisão perpétua numa prisão ‘Supermax’ no Colorado.

Os quatro irmãos, dois dos quais filhos da primeira esposa de “El Chapo”, têm idades entre 33 e 40 anos, segundo o Departamento de Justiça dos Estados Unidos. Chefiados por Iván, o mais velho, os irmãos emergiram como figuras-chave no Cartel de Sinaloa, segundo relataram as autoridades antinarcóticos dos Estados Unidos e do México.

“Esta nova geração é mais violenta. Antes, eles interrogavam e depois matavam. Agora matam e perguntam depois”, relatou uma testemunha à agência ‘Reuters’.

Os jovens “Chapos” não se dedicam só à violência: construíram uma reputação de empresários perspicazes. Ajudaram a transformar o México num país de trânsito do fentanil produzido na China num importante centro de produção, tendo para isso construído uma rede de laboratórios clandestinos em Sinaloa e intensificado o contrabando de elementos químicos da China.

Os ganhos têm sido astronómicos. O cartel pode transformar 800 dólares de produtos químicos em comprimidos ou pó de fentanil, que podem gerar lucros de até 640 mil dólares. O impacto nas ruas dos Estados Unidos foi devastador. Um americano morre de overdose de fentanil quase a cada 8 minutos, revelou a vice-procuradora-geral dos EUA, Lisa O. Monaco. As mortes por overdose nos EUA, a maior parte devido ao fentanil, aumentaram para quase 107 mil em 2021.

Os laços de segurança EUA-México desgastaram. O presidente López Obrador chamou as recentes acusações dos EUA contra os quatro irmãos de “interferência abusiva e arrogante que não deve ser aceite sob nenhuma circunstância”.

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