“EUA dividiram o átomo”: Nova Zelândia em choque com gaffe de Trump no discurso de tomada de posse

A Nova Zelândia não costuma levantar ondas no panorama internacional, mas quando se trata de dividir o átomo é melhor ter os factos em ordem – sobretudo se acabou de se tornar o 47º presidente dos Estados Unidos.

No seu discurso na tomada de posse, Donald Tump elencou várias conquistas americanas, incluindo a afirmação de que os cientistas americanos tinham dividido o átomo. No entanto, essa honra pertence ao reverenciado físico Sir Ernest Rutherford, um neozelandês que conseguiu o feito histórico em 1917 na Victoria University of Manchester, em Inglaterra. O elemento rutherfórdio foi nomeado em sua homenagem em 1997.

Nick Smith, autarca da cidade de Nelson, perto de onde Rutherford cresceu, já garantiu que convidaria o embaixador americano na Nova Zelândia – assim que Trump nomeie um – para “visitar o memorial de Lord Rutherford em Brightwater para que possamos manter o registo histórico de quem dividiu o átomo primeiro preciso”.

“Fiquei um pouco surpreendido com o novo presidente Donald Trump, no seu discurso de posse, sobre a grandeza dos EUA, alegando que os americanos dividem o átomo, quando essa honra pertence ao filho mais famoso e favorito de Nelson, Sir Ernest Rutherford”, apontou Smith.

“Os americanos avançaram milhares de quilómetros por uma terra acidentada de natureza selvagem indomável, cruzaram desertos, escalaram montanhas, enfrentaram perigos incalculáveis, venceram o oeste selvagem, acabaram com a escravidão, resgataram milhões da tirania, tiraram bilhões da pobreza, aproveitaram a eletricidade, dividiram o átomo, lançaram a humanidade aos céus e colocaram o universo do conhecimento humano na palma da mão humana”, referiu Trump no discurso.

No entanto, não é a primeira vez que Trump afirma erroneamente que os EUA dividiram o átomo, nem a primeira vez que isso atrai a ira dos neozelandeses. Num discurso em 2020, feito no Monte Rushmore, disse: “Os americanos aproveitaram a eletricidade, dividiram o átomo e deram ao mundo o telefone e a internet. Nós colonizámos o oeste selvagem, vencemos duas guerras mundiais, colocámos astronautas americanos na lua – e um dia, em breve, plantaremos nossa bandeira em Marte!”

Rutherford, que às vezes é chamado de pai da física nuclear, descobriu a ideia da meia-vida radioativa e mostrou que a radioatividade envolvia a transmutação de um elemento químico em outro. Recebeu o Prémio Nobel de química em 1908 “pelas suas investigações sobre a desintegração dos elementos”.

Mais tarde, Rutherford viria a tornar-se diretor do laboratório Cavendish na Universidade de Cambridge, onde, sob a sua liderança, foi descoberto o neutrão por James Chadwick em 1932 e a primeira experiência para dividir o núcleo foi realizado por John Cockcroft e Ernest Walton.