Especialistas alertam para aumento do enterovírus D68, que pode causar paralisia em crianças

Os casos de infeção pelo enterovírus D68, um vírus respiratório comum, estão a aumentar nos Estados Unidos, de acordo com o WastewaterSCAN, uma rede de monitorização de águas residuais. Esta infeção, que muitas vezes causa sintomas ligeiros semelhantes aos de uma constipação, pode evoluir para uma complicação rara mas grave conhecida como mielite flácida aguda, que pode levar à paralisia, especialmente em crianças.

O enterovírus D68 é um dos mais de 100 tipos de enterovírus não relacionados com a poliomielite. Muitas pessoas infetadas não apresentam sintomas ou manifestam apenas sintomas leves semelhantes a uma constipação, como nariz a pingar, febre e tosse. De acordo com a Dr.ª Leana Wen, especialista médica e professora associada de clínica na Universidade George Washington, a infeção por este vírus é muitas vezes assintomática, o que dificulta o seu rastreio, segundo explicou à CNN Internacional.

A transmissão do enterovírus D68 ocorre através de gotículas respiratórias expelidas por uma pessoa infetada ao espirrar ou tossir. Estas gotículas podem entrar em contacto com o nariz, boca ou olhos de outra pessoa, ou permanecer em superfícies ou objetos que, ao serem tocados e posteriormente levados à cara, transmitem o vírus. Segundo a Dr.ª Wen, as crianças são mais propensas a contrair e desenvolver sintomas devido à proximidade em que se encontram nas escolas e creches e ao facto de nem sempre cumprirem práticas adequadas de higiene.

Monitorização e aumento de casos
A deteção de casos de enterovírus D68 é frequentemente realizada através da análise de águas residuais, uma técnica que permite identificar a presença do vírus numa área específica, mesmo quando muitas infeções são assintomáticas ou não são testadas. Dados recentes indicam que a atividade do enterovírus D68 se encontra em níveis “médios” e tem vindo a aumentar desde julho.

Complicações: a mielite flácida aguda
Uma das complicações mais preocupantes associadas ao enterovírus D68 é a mielite flácida aguda, uma condição semelhante à poliomielite que foi identificada pela primeira vez em 2014. A Dr.ª Wen explica que esta condição pode desenvolver-se algumas semanas após a infeção inicial, causando fraqueza súbita nos braços ou nas pernas, perda de tónus muscular, reflexos diminuídos, queda facial e fala arrastada.

Esta condição pode ser potencialmente fatal se os músculos respiratórios forem afetados, podendo requerer o uso de máquinas de respiração assistida. Outras complicações incluem problemas na regulação da pressão arterial, temperatura corporal e ritmo cardíaco. Não existe um tratamento específico para a mielite flácida aguda, sendo o foco no cuidado de suporte, que inclui hospitalização, administração de líquidos, medicamentos anti-inflamatórios, terapia física e ocupacional e apoio respiratório, quando necessário.

A gravidade da mielite flácida aguda varia, com algumas pessoas a recuperarem completamente, enquanto a maioria apresenta sintomas persistentes e algum grau de incapacidade.

A infeção pelo enterovírus D68 é comum, mas a evolução para mielite flácida aguda é rara. Desde 2014, foram confirmados 758 casos nos Estados Unidos, e em 2023, até 3 de setembro, houve apenas 13 casos confirmados em 10 estados, de acordo com os Centros de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA. Ainda assim, os pais ficam naturalmente preocupados devido à gravidade e à ausência de uma cura para esta complicação.

Recomendações para prevenir a infeção
A Dr.ª Wen recomenda várias medidas para reduzir o risco de contrair o enterovírus D68, destacando a importância da higiene. Lavar as mãos com regularidade e eficácia, especialmente após o regresso da escola ou de atividades com outras crianças, é essencial. Se o acesso a água e sabão não for possível, o uso de desinfetante para as mãos é uma alternativa eficaz. Crianças mais velhas devem ser ensinadas a evitar tocar no rosto com as mãos não lavadas e a cobrir a boca e o nariz ao espirrar ou tossir.

Adicionalmente, a Dr.ª Wen sublinha a importância de estar atento a sintomas que possam indicar a presença de mielite flácida aguda, como fraqueza súbita nos braços ou pernas, queda das pálpebras, dificuldade em engolir e dores novas no pescoço, braços ou costas. Estes sinais devem ser motivo de procura imediata de assistência médica.

Vacinação e proteção
Embora não exista uma vacina específica para o enterovírus D68, a especialista incentiva os pais e cuidadores a garantir que as crianças estão em dia com as vacinas disponíveis para outras doenças. Estas medidas preventivas podem ajudar a proteger as crianças contra outras infeções e reforçar a sua saúde geral.

O aumento do enterovírus D68 reforça a necessidade de medidas de higiene adequadas e a monitorização dos sintomas em crianças, especialmente porque a maioria das infeções são assintomáticas ou apresentam apenas sintomas ligeiros. As autoridades de saúde continuam a acompanhar a situação e recomendam que os pais estejam atentos e informados sobre as melhores práticas para proteger os seus filhos.

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