Distribuição atenta ao bloqueio em França descarta “neste momento” problemas de abastecimento

A Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED) descarta neste momento “problemas de abastecimento de qualquer produto” devido ao bloqueio dos agricultores franceses, mas garante estar “atenta à evolução” da situação no terreno.

“Portugal não tem uma dependência significativa de produtos que vêm daquela região, para além do retalho alimentar privilegiar sempre a produção nacional, e, neste momento, não estamos a ter problemas de abastecimento de qualquer produto”, afirmou o diretor-geral da APED, Gonçalo Lobo Xavier, numa resposta escrita enviada à agência Lusa.

Segundo a associação, em cima da mesa pode estar, contudo, um eventual impacto do bloqueio nas exportações da agricultura portuguesa, mas, por enquanto, tal “parece não estar a acontecer, pois os camiões com produtos nacionais estão a ser poupados no protesto, embora existam atrasos nos trajetos”.

Ainda assim, a APED garante que “está atenta à evolução do que se passa no terreno e às consequências na organização do mercado”, notando que o protesto “tem, sobretudo, a ver com a perda de competitividade dos agricultores franceses em relação aos de Itália e Espanha, por exemplo, e aos apoios que outros Estados-membros têm”.

Na segunda-feira, em declarações à Lusa, o porta-voz da Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias (Antram) afirmou que vários camiões portugueses estão retidos em toda a França, há uma semana, devido aos bloqueios de agricultores franceses.

“Não conseguimos quantificar, mas há muitos camionistas portugueses retidos devido ao bloqueio dos agricultores em França. Neste momento a situação é muito preocupante, não apenas por ser uma situação que se arrasta há vários dias, mas porque não há visibilidade sobre quando poderá terminar”, disse André Matias de Almeida.

Os agricultores franceses estão a bloquear várias estradas no país para denunciar, sobretudo, a queda de rendimentos, as pensões baixas, a complexidade administrativa, a inflação dos padrões e a concorrência estrangeira.

“A afetação quer das vias na sua circulação quer nas entradas para outras vias que poderiam ser alternativas às autoestradas encontram-se bloqueadas. Hoje (…) temos cerca de 20 autoestradas bloqueadas em toda a França, o que tem afetado muito a importação e exportação das empresas portuguesas”, contou o porta-voz da Antram.

Há dias que os agricultores franceses utilizam os seus tratores para bloquear as estradas e abrandar o trânsito em toda a França, em busca de uma melhor remuneração para os seus produtos, menos burocracia e proteção contra as importações.

Na sexta-feira, o Governo anunciou uma série de medidas que, segundo os agricultores, não satisfazem plenamente as suas reivindicações, que incluem a “simplificação drástica” de certos procedimentos técnicos e o fim progressivo dos impostos sobre o gasóleo para os veículos agrícolas.

Entretanto, o Governo francês prometeu hoje apresentar, no prazo de 48 horas, novas medidas a favor dos agricultores e anunciou que pretende renegociar o fim do pousio obrigatório na cimeira da União Europeia (UE) marcada para quinta-feira.