Da tempestade “imperfeita” à “task force” para atrair investimento: Executivos desmontam os desafios e oportunidades em vários setores
Gonçalo Lobo Xavier, Diretor-Geral da APED, José Pedro Dias Pinheiro, CEO do Group M, José Galamba de Oliveira, Presidente da APS e Sílvia Barata, Presidente da BP Portugal, reuniram-se em palco um Museu do Oriente para debater os desafios e oportunidades em diversos setores de atividade.
No painel “É agora! Os desafios que temos pela frente, os caminhos, os rumos, as prioridades de ação”, Sílvia Barata começou por sublinhar um dos principais desafios das empresas e da sociedade nos dias de hoje, a grande volatilidade de mercado que dificulta uma previsão dos custos energéticos.
A executiva sublinhou que os preços da energia não aumentaram só por causa do conflito na Ucrânia, sublinhando o aumento do gás natural em 2021 por causa das discussões entre a Rússia e Alemanha por causa do gasoduto Nord Stream 2.
Para Sílvia Barata há muitas condicionantes, mas o que se pode fazer para mitigar esta realidade? “O que o Estado tem vindo a fazer, com a redução da carga fiscal, na sustentação dos custos a energia por parte da UE”, bem como perceber que não devemos depender de países como a China ou a Rússia.
Já do ponto de vista do retalho, Gonçalo Lobo Xavier sublinha que estamos a assistir a um crescimento nos fatores de produção que não se via há décadas, uma verdadeira tempestade que não tem nada de perfeito, que é sim “imperfeita”.
Há ainda outros fatores nomeados pelo Diretor-Geral da APED, como por exemplo a seca, a escassez de fertilizantes que vêm da Ucrânia, da Bielorrússia, e de outras geografias que fazem com que a produção agrícola nacional esteja a gastar mais dinheiro e tem que espelhar esse aumento ao consumidor final. Paralelamente produtos como o plástico e o vidro estão mais caros.
O estado deve pensar em soluções como a redução do IVA em bens essenciais, porque “o que vem aí nos próximos meses não é bom”.
Digitalização e outras estratégias de crescimento
Para José Pedro Dias Pinheiro, o mundo não existe sem e-commerce. O executivo explicou que se analisarmos os mercados asiáticos, a representação dos canais digitais para bens de consumo representa 8 vezes do que representa em Portugal e na Europa representa 40% dos valores de Portugal.
O CEO do Group M explica que as empresas foram criadas num contexto local, mas isso já não existe, o contexto agora é global. “É preciso mudar a mentalidade para que as pessoas forcem os políticos a tomar uma ação mais concretizada para apoiar as empresas” neste âmbito, sublinha.
Já para Gonçalo Lobo Xavier, são necessárias políticas públicas que promovam que as empresas ganhem escala através de, por exemplo, processos de fusões. O Diretor-Geral da APED acredita que estamos bem posicionados, temos boas condições de gerar energias limpas com parques solares ou energia das ondas e, como tal, devíamos estar a fazer um esforço para captar os investimentos que estão a ser feitos na Europa para o desenvolvimento do negócio da eletrificação da mobilidade.
A captação de investimento estrangeiro é fundamental, como tal, “Portugal devia ter uma “task force” para perceber onde podemos trazer investimento”, defende Lobo Xavier.
No seguimento de estratégias de crescimento, Sílvia Barata destaca a importância da aceleração da digitalização para o desenvolvimento de projetos de transição energética. No entanto, alerta, esta não pode ser feita sem o contributo do gás natural e do combustível fóssil, porque as empresas não podem ser viáveis sem que isso aconteça.
A Presidente da BP Portugal lançou um desafio ao consumidor. “O perfil do consumidor deve mudar, não podemos ser hipócritas”, disse, e Lobo Xavier corroborou. No entanto, o Diretor-Geral da APED alerta que o consumidor diz estar está motivado, mas quando chega o que quer é que o produto seja mais barato, o que mostra que, afinal, não está tão disponível.
Impacto da inflação
Para José Pedro Dias Pinheiro, um dos fatores que têm mostrado uma maior inflação é no talento, “não podemos abandonar a procura de talento”.
O CEO do Group M sublinhou ainda que muitos gestores em Portugal nunca geriu a inflação e vamos vê-la durante algum tempo, “mais do que o discurso politico o faz crer”, e quanto mais depressa se ajustarem a este cenário melhor conseguem cumprir os seus projetos de investimento e a retenção de talento.
Já no que respeita à sustentabilidade da Segurança Social, José Galamba de Oliveira diz que o paradigma de que o Estado estará cá no fim da nossa vida para nos apoiar tem que alterar.
O Presidente da APS sublinha que temos que criar condições em Portugal, através de incentivos fiscais, para a poupança a longo prazo, como por exemplo a criação de um novo produto que serviria como uma ancora para ajudar a criar poupança. Uma das ideias deixadas em cima da mesa foi a possibilidade de parte dos aumentos salarias serem automaticamente aplicados a um produto destas características.