Espanha está por estes dias a braços com a onda de calor, gerada pelo anticiclone Caronte, e associado às altas temperaturas do fenómeno El Niño, que promete o efeito para o qual muitos especialistas já tinham alertado: um agravamento da situação de seca extrema, que afeta praticamente metade do país.
Os dados de junho mostram que as principais reservas reservas e de água e albufeiras espanholas estão a menos de metade da capacidade, algumas em valores próximos dos 30%, e outras como a de Guadalete-Barbate ou a do rio Guadalquivir, abaixo disso, pouco acima de 20% da sua capacidade máxima.
Perante a ameaça e as previsões de que a situação de agravará num futuro não muito distante, e enquanto as soluções ‘modernas’ não colhem efeitos e dividem opiniões, agricultores, voluntários e investigadores espanhóis viraram-se para a sabedoria antiga e estão a reabilitar os ‘acéquias’, canais de irrigação criados há mais de 1000 anos pelos mouros e que, no sul de Espanha, das zonas mais secas do país, permitiram o abastecimento e transformaram a região da Andaluzia numa potência agrícola.
As acéquias caíram em desuso na década de 1960, passando a privilegiar-se o modelo de reservatórios e barragens, mas agora são vistas como uma solução eficaz, e de baixo custo, para mitigar os efeitos da seca que se sentem com grande intensidade nesta região.
Os trabalhos decorrem a todo gás, uma acéquia de cada vez. É preciso escavações, levantar pedras, limpar terrenos e matas.
“As acéquias conseguiram resistir a pelo menos mil anos de mudanças climáticas, sociais e políticas”, indica ao New York Times José María Martín Civantos, arqueólogo e historiador que coordena um dos projetos de restauração deste sistemas.
Este sistema, explica, permite desacelerar o fluxo de água das montanhas para as planícies, e desta forma obter melhor retenção de água, bem como uma distribuição mais eficiente deste precioso recurso.
Até agora, a equipa de Civantos já conseguiu recuperar mais de 200 quilómetros de canais de irrigação, com a ajuda de muitos locais, agricultores e voluntários. A iniciativa já de está a espalhar também pelo norte e leste de Espanha.
O investigador admite que “é difícil mudar mentalidades”, mas que, perante os efeitos que a seca devastadora tem tido nas culturas e no rendimento dos agricultores, não se pode desperdiçar “a oportunidade de usar a sabedoria ancestral para combater as alterações climáticas”.














