Adão e Eva existiram mesmo? Sim, e há evidências científicas que apontam para um Jardim do Edén na Síria, Turquia e Iraque
A história de Adão e Eva, figuras centrais no cristianismo, pode ser mais do que um mero conto bíblico. Recentemente, cientistas têm revelado evidências que sugerem que parte desta narrativa poderia ter raízes na realidade. De acordo com o relato bíblico, Adão e Eva foram os primeiros humanos na Terra, criados a partir do pó e vivendo no Jardim do Éden. Este conceito, tradicionalmente visto como metafórico, começa agora a ser reinterpretado à luz de descobertas arqueológicas e genéticas.
O relato bíblico descreve o Jardim do Éden como um paraíso de abundância, atravessado por um rio que se divide em quatro braços: Pishon, Gihon, Tigre e Eufrates. Embora o Tigre e o Eufrates sejam rios bem conhecidos, as localizações de Pishon e Gihon permanecem obscuras. Diversas teorias tentam localizar o Éden, com sugestões que vão desde o Irão até ao Missouri. No entanto, a hipótese mais promissora situa o Éden na Mesopotâmia, região entre os rios Tigre e Eufrates, abrangendo partes da Síria, Turquia e Iraque.
O arqueólogo bíblico Professor Eric Cline, da Universidade George Washington, argumenta que esta localização faz sentido tanto do ponto de vista textual quanto arqueológico. Em seu livro From Eden to Exile, Cline afirma que a descrição bíblica alinha-se com a geografia da Mesopotâmia, uma área conhecida como Crescente Fértil, onde se acredita terem sido domesticadas as primeiras plantas e animais, marcando o início da revolução neolítica.
Há semelhanças intrigantes entre o relato da criação em Génesis e mitos antigos da região. O mito sumério Enuma Elish, por exemplo, descreve a criação do céu e da Terra a partir de um corpo de água primordial, semelhante ao relato bíblico. Alguns arqueólogos sugerem que esta narrativa pode ter sido transmitida através dos séculos até ser incorporada pelos israelitas.
A ligação genética a um “Adão e Eva” real
Do ponto de vista biológico, todos os humanos vivos compartilham um ancestral comum, conhecido como “Eva Mitocondrial”. Esta mulher, cujo DNA mitocondrial é o antecessor de todos os humanos modernos, viveu há cerca de 200.000 anos em África. Um estudo de 1987 revelou que, ao analisar o DNA mitocondrial de diversas populações, os cientistas puderam estimar a época em que este ancestral comum viveu. Da mesma forma, o “Adão do Cromossoma Y” refere-se ao ancestral masculino comum de todos os homens vivos, datado de cerca de 180.000 a 200.000 anos atrás.
No entanto, estes ancestrais não foram os únicos humanos da sua época. A designação de “Adão e Eva” como os ancestrais comuns é um resultado estatístico, não uma indicação de que a humanidade descende de um único par de indivíduos.
A interpretação científica da narrativa bíblica
O biólogo Dr. Joshua Swamidass, da Universidade de Washington, sugere que não há barreiras científicas para a existência de um casal ancestral comum. Num artigo publicado na Perspectives on Science and Christian Faith, Swamidass argumenta que, embora o conceito de um único casal ancestral seja compatível com a ciência, isso não significa que este casal seja o único ancestral de todos os humanos.
O filósofo Professor William Lane Craig propõe que Adão e Eva poderiam ter sido membros do Homo heidelbergensis, espécie que viveu entre 1 milhão e 750.000 anos atrás, antes do surgimento do Homo sapiens. Craig sugere que este casal poderia ter sido o primeiro a exibir características humanas modernas, como pensamento abstrato e uso de símbolos.
Embora a ideia de um casal ancestral comum seja intrigante, ela enfrenta críticas significativas. A noção de “humanidade” como uma característica binária, com um ponto de partida claro, é questionada por muitos cientistas. Além disso, a sugestão de que Adão e Eva poderiam não ser Homo sapiens pode ser controversa para algumas interpretações religiosas mais conservadoras.
Apesar destas controvérsias, a investigação contínua sobre as origens humanas e a interseção entre ciência e religião oferece novas perspetivas sobre uma história que tem sido central para a fé cristã por milénios.