Acordar às 5 da manhã: estratégia para o sucesso ou privilégio inalcançável?
O conceito de “O clube das 5 da manhã”, popularizado pelo escritor e coach Robin Sharma, tem vindo a conquistar seguidores pelo mundo fora, prometendo transformar rotinas e melhorar a produtividade. Inspirado por celebridades e reforçado por métodos do autor, este hábito tem gerado tanto elogios como críticas. Afinal, será este estilo de vida realmente eficaz ou está reservado para uma elite com mais recursos e liberdade de agenda?
A fórmula do sucesso: acordar cedo e a regra 20/20/20
“Vencer começa pela forma como começamos o dia. É nas primeiras horas que se fazem os grandes heróis. Domine as suas manhãs e será o mestre da sua vida.” É assim que Robin Sharma, conhecido por ter trabalhado com empresas como a NASA, Microsoft e Nike, resume a sua filosofia em O clube das 5 da manhã, o livro mais vendido da sua carreira.
O enredo da obra apresenta uma empreendedora exausta e prestes a entrar em colapso, mas que encontra equilíbrio e felicidade ao incorporar uma mudança crucial: acordar todos os dias às 5h da manhã. Sharma defende que começar o dia cedo permite reduzir o stress, aumentar a criatividade e a concentração, melhorar o desempenho e, em última análise, alcançar uma vida mais feliz e produtiva.
Contudo, acordar cedo é apenas o início. A fórmula 20/20/20, desenvolvida e testada nos workshops de Sharma, é fundamental. A regra propõe que a primeira hora do dia seja dividida em três blocos de 20 minutos: exercício físico vigoroso, meditação ou reflexão, e estudo ou aprendizagem. Para o autor, esta rotina diária representa o que chama de “empilhamento de dias”, onde pequenos progressos acumulados levam a grandes resultados.
O método ganhou popularidade não só entre os leitores do livro, mas também devido às rotinas de figuras públicas como Michelle Obama, Jennifer Aniston, Jennifer Lopez, Tim Cook e Mark Zuckerberg. Muitos adeptos afirmam que acordar antes do mundo lhes dá tempo para se concentrarem em atividades como leitura, corrida, meditação ou até dança, promovendo um início de dia mais tranquilo e produtivo.
Além disso, estudos científicos têm associado o hábito de acordar cedo a níveis mais elevados de felicidade, maior produtividade e melhores hábitos alimentares. Contudo, há um detalhe frequentemente ignorado: a que horas estas pessoas vão para a cama?
O lado menos glamoroso: limitações e críticas
Embora acordar às 5h da manhã possa parecer a solução perfeita para a produtividade, nem todos conseguem implementá-lo sem sacrifícios. Para garantir um descanso adequado, seria necessário deitar-se às 21h, o que é impraticável para a maioria das pessoas devido a compromissos familiares, sociais ou profissionais.
O neurocientista e especialista em sono Russell Foster, citado pelo The Guardian, levanta questões sobre a aplicabilidade desta rotina no quotidiano da maioria das pessoas. “Esses gurus da produtividade e empresários têm dinheiro para pagar a outros para fazerem tudo. Impor este horário a outras pessoas é punitivo e presunçoso: ‘Ah, não sou uma grande pessoa? Porque é que não se torna mais parecido comigo?’ A verdade é que a maioria de nós não se pode dar ao luxo de o fazer, de ir dormir tão cedo.”
Além disso, dormir menos do que o recomendado pode ter consequências graves para a saúde física e mental. A privação de sono está associada a problemas como irritabilidade, dificuldades de concentração, enfraquecimento do sistema imunitário e maior risco de doenças crónicas.
A filosofia de Robin Sharma, embora inspiradora, parece mais ajustada a pessoas com maior controlo sobre os seus horários e recursos. Para a maioria, a rigidez da rotina e a exigência de um horário de descanso tão antecipado podem ser barreiras intransponíveis.
Acordar às 5h da manhã pode, de facto, ser uma estratégia eficaz para alguns, mas, como tantas outras tendências de produtividade, não é uma solução universal. Antes de tentar implementar esta rotina, talvez o mais importante seja considerar o que funciona melhor para o estilo de vida e necessidades de cada um. Afinal, o sucesso não está apenas no relógio, mas na capacidade de encontrar equilíbrio e propósito no dia a dia.