A possibilidade de uma mudança de regime ou até de uma eventual invasão terrestre por parte dos Estados Unidos tem deixado a comunidade portuguesa na Venezuela e os venezuelanos residentes em Portugal em alerta. O recente agravamento das relações entre Caracas e Washington preocupa quem pretende viajar durante a época natalícia, devido à redução de voos e ao aumento dos custos das viagens.
Fernando Campos, conselheiro da comunidade portuguesa na Venezuela, descreveu, em declarações à ‘Euronews’, um cenário de “alguma ansiedade”, mas esclarece que esta não levou a pedidos de auxílio nos consulados. Apenas numa situação de ataque direto, invasão ou bombardeamentos, acrescenta, seria necessário recorrer à proteção das autoridades portuguesas. “A comunidade já está habituada a situações anormais”, sublinha, referindo-se à experiência adquirida ao longo de décadas de instabilidade no país.
Nos últimos dias, Washington retomou ações contra embarcações suspeitas de narcotráfico e chegou a apreender um petroleiro junto à costa venezuelana. Apesar disso, Fernando Campos acredita que uma invasão americana é improvável, considerando Donald Trump “um homem imprevisível” e apontando que a atual tensão serve, em parte, para provocar eventuais erros por parte do regime venezuelano.
Do lado dos venezuelanos em Portugal, Christian Höhn, presidente da associação Venexos, confirmou que a situação gera preocupação constante. A possibilidade de intervenção militar é real, mas não desejada. O acesso generalizado a armas no país e o treino de milícias comunitárias aumentam o risco de violência caso os EUA entrem em território venezuelano.
A situação política mantém-se instável. Fontes indicam que Nicolás Maduro terá mostrado alguma abertura para negociar a sua saída, mediante amnistia para si e familiares, levantamento de sanções e encerramento de processos no Tribunal Penal Internacional. Tanto a comunidade portuguesa quanto a venezuelana veem nesta possibilidade uma oportunidade de mudança, que poderia trazer mais segurança e melhores condições de vida.
As dificuldades económicas e logísticas acentuam a tensão. O impacto na mobilidade durante as festividades é notável: voos reduzidos, encerramento de espaço aéreo e preços elevados dificultam a vinda de cidadãos para Portugal. Atualmente, muitos portugueses e luso-descendentes mantêm negócios ativos, trazendo dinheiro do estrangeiro para sustentar as suas atividades, enquanto enfrentam uma economia marcada por pobreza generalizada e carência de bens essenciais.
Fernando Campos elogiou a postura do Governo português, que tem procurado proteger a comunidade e manter diálogo com as autoridades venezuelanas, embora reconheça os limites do que pode ser feito. O Estado português mantém atenção especial aos luso-descendentes detidos por motivos políticos, garantindo acompanhamento e apoio, mas não consegue substituir o papel das autoridades locais.














