“Eu matei crianças com as minhas próprias mãos”: Comandantes do grupo Wagner confessam horrores cometidos na guerra na Ucrânia

Dois comandantes do grupo russo de mercenários Wagner surgem num vídeo, divulgado por uma organização de direitos humanos, a admitir terem assassinado mais de 20 crianças e jovens na guerra na Ucrânia, em Bakhmut e Donetsk.

Pedro Gonçalves
Abril 18, 2023
17:38

Dois comandantes do grupo russo de mercenários Wagner surgem num vídeo, divulgado por uma organização de direitos humanos, a admitir terem assassinado mais de 20 crianças e jovens na guerra na Ucrânia, em Bakhmut e Donetsk.

No vídeo de uma hora, Azmat Uldarov e Alexey Savichev, que saíram entretanto do grupo Wagner, conhecido por recrutar criminosos nas prisões, descrevem os detalhes das alegadas mortes e horrores cometidos, incluído usar explosivos para rebentar com poços onde estavam mais de 50 prisioneiros feridos ou matar colegas das forças russas que recusassem continuar com a invasão.

Segundo o Político, os episódios relatados ocorreram em Soledar e Bakhmut, em fevereiro deste anos, mas a informação ainda não foi confirmada de forma independente.

Na confissão, divulgada pela organização humanitária russa Gulagu.net, os dois mercenários explicaram como mataram dezenas de civis quando estavam a “limpar edifícios residenciais” naquelas cidades, e asseguram que o líder do grupo, Yevgeny Prigozhin, dava ordens diretas sobre como deviam ser mortos os prisioneiros ou a que torturas deviam ser sujeitos.

Segundo relatam os russos, decidiram sair do grupo devido às condições desumanas que testemunharam e a tortura a que foram sujeitos, querendo agora “contar a verdade sobre os crimes” do grupo Wagner na Ucrânia, contra ucranianos e contra os próprios recrutas.

“Eu matei crianças com as minhas próprias mãos. Quando entrámos em Soledar e Bakhmut, recebemos ordens para matarmos e destruirmos tudo: homens, mulheres, crianças, idosos. Uma menina pequena gritava. Não sei se teria uns cinco ou seis anos de idade. Gritava e eu dei-lhe um tiro. E foi um tiro controlado e pensado, na cabeça”, conta o ex-comandante do grupo em entrevista.

Os testemunhos surgem numa altura em que Yevgeny Prigozhin volta a tentar cair nas ‘boas-graças’ de Putin, depois de ter criticado o Kremlin e o Governo russo por algumas opções tomadas durante o decorrer do conflito com a Ucrânia.

Prigozhin já recusou que quaisquer membros do grupo alguma vez tenham matado crianças ou civis, mas certo é que os denunciantes começaram a receber ameaças de morte depois de virem a público com a sua história.

Os dois ex-comandantes contam ter sido recrutados pelo grupo Wagner na prisão, no ‘Projeto K’, de articulação do Kremlin com o grupo  para perdoar as penas aos reclusos, caso aceitassem ir combater na guerra.

O Ministério Público da Ucrânia já anunciou ter aberto uma investigação aos casos, com base nos testemunhos dos dois denunciantes russos.

Recorde-se que, na semana passada, tornou-se viral o vídeo de um mercenário do grupo Wagner a alegadamente decapitar um prisioneiro de guerra ucraniano.

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