Estudantes alemães ocupam ruas em protesto contra obrigatoriedade do serviço militar

A aprovação de uma reforma do serviço militar na Alemanha desencadeou uma onda de manifestações em todo o país, com estudantes a faltar às aulas para expressar a sua oposição.

Pedro Gonçalves
Dezembro 5, 2025
15:55

Estudantes em todo o território alemão decidiram faltar às aulas na sexta-feira para protestar contra a recente reforma do serviço militar, aprovada pelo parlamento. A nova lei obriga todos os homens de 18 anos a preencher um questionário sobre a sua aptidão física e disponibilidade para servir nas forças armadas, enquanto para as mulheres o preenchimento do documento permanece voluntário.

Além disso, a reforma prevê a reinstalação de exames médicos obrigatórios para homens nascidos a partir de 2008. Caso o recrutamento voluntário não atinja as metas definidas, uma parte dos examinados poderá ser chamada a servir após aprovação do Bundestag, num processo que visa reforçar a capacidade militar alemã diante das crescentes ameaças, nomeadamente da Rússia.

As manifestações ocorreram em cerca de 90 cidades e vilas do país. Em Berlim, a polícia indicou que cerca de 800 pessoas se concentraram durante a manhã, com a expectativa de que milhares se juntassem até ao final do dia. A iniciativa por detrás dos protestos, conhecida como Schulstreik gegen Wehrpflicht (greve escolar contra a conscrição), afirmou que políticos e a Bundeswehr discutem a reintrodução do serviço militar obrigatório sem consultar os jovens sobre a sua opinião.

Martin, um estudante do ensino secundário de 16 anos, natural de Brandenburg, explicou ao Politico que se opõe à medida porque acredita que resolver conflitos através da militarização repete erros históricos, semelhantes aos que conduziram às duas guerras mundiais. O jovem contou que já considerava formas de contornar a convocatória, como recorrer a um psicólogo ou ser declarado inapto, e acrescentou que não quer dedicar tempo a um treino que considera inútil para a vida quotidiana, servindo apenas para aprender a matar.

Outro estudante, Nils, de 17 anos, esclareceu que não é contra a decisão de alguns jovens escolherem a carreira militar, mas que a obrigatoriedade da lei o motivou a participar da manifestação. Ele defendeu que ninguém deveria ser forçado a ingressar nas forças armadas e sugeriu que a profissão de militar se torne mais atrativa para quem realmente deseja segui-la.

O ministro da Defesa, Boris Pistorius, dirigiu-se aos estudantes através de uma mensagem em vídeo no Instagram, lembrando que a liberdade de expressão é uma das grandes conquistas da democracia e que é fundamental que os cidadãos estejam dispostos a defender os valores do país. Segundo o governante, nem a democracia nem o Estado podem proteger-se sozinhos, sendo necessário o envolvimento da população.

A reforma do serviço militar surge num contexto de reforço das forças armadas alemãs, que planeiam aumentar o efetivo ativo de 180 mil para 260 mil soldados e os reservistas de 55 mil para 200 mil, cumprindo metas de prontidão da NATO. A aprovação da lei foi o resultado de meses de negociações entre o bloco conservador e os sociais-democratas, culminando num acordo final em novembro.

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