Vamos falar de um nome que em Portugal é quase da família, o Renault Clio. Pelo menos na minha temos um!
Quase toda a gente tem uma história com o Clio, mas hoje a ideia é esquecer tudo o que achamos que sabemos sobre ele, porque o novo Clio 6 veio para ser disruptor
Este não é de todo o Clio a que estávamos habituados. E o interessante é que temos os dois lados da história. Por um lado, a versão oficial da Renault. com os seus objetivos, os dados técnicos e, por outro, a a minha opinião, usando uma metodologia que, para mim, como pessoa ligado a tecnologia, aviação e academia é rigorosa e … não brinca nas AI (exceto para o Podcast mas que utiliza somente os meus dados).
Desta vez a Renault baralhou os jornalistas. Dá-nos os automóveis com um pequeno briefing e lança-nos na estrada. À noite, dá-nos todos os detalhes. Bom, então vamos confrontar as promessas da marca e na estrada ver o que era real e o que era marketing.
A minha “missão” não é só descobrir as novidades, mas perceber como é que se avalia um carro de forma autêntica hoje em dia e perceber se a Renault conseguiu mesmo criar um automóvel pequeno que se sente adulto, sofisticado, sem perder a agilidade.
Comecemos pelo mais óbvio, que é o impacto visual, porque convenhamos, este novo design não deixa ninguém indiferente: esta é a geração mais arrojada e bonita de sempre. E curiosamente depois vi que a Renault quis criar o Clio mais sexy de sempre: amor à primeira vista.
Ok, mas existe substância por trás dessa estética?
Sim, há uma ciência nas proporções. O carro cresceu 7 cm em comprimento. Parece pouco, mas visualmente com as outras mudanças dá-lhe uma presença em estrada totalmente diferente.
O capot está 4 cm mais longo, o que lhe dá um nariz mais imponente, aponta para a grelha com o logótipo da marca e principalmente para as luzes verticais diurnas, que dão a sensação de que o carro é mais largo, mais plantado na estrada.
Mas isso leva-me a uma dúvida no ensaio. OK, a Renault queria um carro sexy, mas o Clio vendeu quase 17 milhões de unidades por ser fiável e acessível. Ao torná-lo tão assertivo, não há aqui um risco de afastar os clientes de sempre?
E a resposta parece-em simples: este é o novo consumidor da marca; é isto que ele pretende atualmente … e não é nada humilde no pedido!
Este mercado está a mudar. As pessoas querem mais carro pelo seu dinheiro. Querem que o seu automóvel tenha “coisas” de um segmento acima; um toque mais premium.
E a Renault apostou nisso. Há até um pormenor de qualidade que passa despercebido: na linha de cintura, a chapa agora cobre as borrachas das janelas. É a nova tendência nos segmentos superiores. E está lá!!!
E como se honra um legado de mais de 526.000 unidades só em Portugal? Faz sentido. Portanto, o exterior diz que é premium (adoro a traseira deste modelo!!!) mas e o interior?
A experiência a bordo costuma ser o teste do algodão. Será que o Clio acompanha essa promessa?
Existe saldo qualitativo enorme. E o curioso é que o que mais me impressionou não foi uma revolução no design do tablier. Foi a atenção aos pontos de contacto, às “coisas” que o condutor realmente sente no dia-a-dia. A começar pelos bancos envolventes com a espuma correta; trata-se daquele equilíbrio perfeito entre o conforto para uma viagem longa e o apoio para uma estrada com mais curvas. E ainda são aquecidos e até o volante. Ou é da idade, ou do conforto. Seja como for, adoro, e já teve algumas consequências nalgumas estações de carregamento: uma sesta 🙂
O volante possui um formato novo, mais quadrado, ergonomicamente bem conseguido. São estes detalhes que faz fazem a diferença. Depois possui umas lâminas iluminadas nas portas que fazem parte do sistema Safe Exit Assist – imaginemos que estamos estacionados e vamos abrir a porta. Se o carro detetar que vem um ciclista ou outro veículo, essa lâmina na porta pisca a vermelho e ouve-se um aviso. É uma coisa simples que pode mesmo evitar um acidente.
Como dizem os nossos amigos da Skoda, “simply clever”. Possui dois ecrãs de 10 polegadas com o sistema da Google – impensável num Clio há uns anos.
Um outro detalhe que se destacou – sim, porque testei o automóvel em cidade, estrada e autoestrada – não é só a tecnologia que se vê. Por exemplo, o trabalho de insonorização foi muito bom e depois percebi o motivo. Nalguns modelos utilizam sistemas de som e sensores para resolver o problema (bastante oneroso para o segmento); aqui puseram espuma nos pilares junto ao para-brisas para criar um efeito casulo
Na bagageira também houve mudanças. Nesta geração rebaixaram a soleira de carga em 4 cm. Pode não parecer muito, mas para quem está a colocar umas malas pesadas faz toda a diferença.
Eu não gosto de dar uma volta ao quarteirão. Existe um respeito e profissionalismo que tenho com qualquer marca, independentemente de qualquer relacionamento com os elementos da marca: ser factual, objetivo, profissional, ético e “científico”. Seria bem mais fácil o uso de AI, colocar umas generalidades. Mas não. Eu tenho de ler o press da marca, o que a marca inovou (exemplo dos retrovisores, ou da grelha toda ela personalizada com o logotipo da marca). Devemos isso à marca e a nós mesmos!
A abordagem dele, e isto é a base da sua análise, é testar o carro em todos os cenários possíveis.
Ora bem e isso leva-me ao pára-arranca da cidade para ver a resposta do motor, às estradas nacionais com curvas e mau piso para avaliar a agilidade e à autoestrada para ouvir (não medir OK?) o ruído, a estabilidade. Só assim fico com a “big picture” e, quando amigos, colegas, alunos me perguntam eu respondo com factos e não “achismos”.
O veredicto é inequívoco. O Clio 6 é muito mais ágil e preciso que o anterior, por exemplo na forma como a traseira acompanha a dianteira nas curvas; o chassis está muito bem afinado e as fontes técnicas da Renault explicam porquê: alargaram as vias dianteiras em 39 mm. Parece um número pequeno, mas em termos de dinâmica, o impacto na estabilidade; a forma como o Clio se agarra à estrada é muito melhor!
E surgiu uma novidade no briefing – Smart Mode. O Clio supostamente adapta-se sozinho, mas estes sistemas automáticos muitas vezes são frustrantes. Às vezes atrapalham mais do que ajudam, mas sistema é surpreendentemente intuitivo: o segredo não é só ele passar para o modo sport quando se pisa a fundo mas a rapidez com que volta ao normal – modo eco – assim que a condução acalma. Não é intrusivo, pois tanto me dá a potência quando preciso e depois retorna para poupar combustível. Novamente, Skoda que me desculpe mas “simply clever”.
E as opções de motores para o nosso mercado. Como é que a gama de motores se apresenta para a realidade portuguesa?
- Temos o híbrido de 160 cavalos com uma autonomia que pode passar dos 1000 km.
- Temos uma versão a gasolina de 115 cavalos
- e depois temos o fenómeno – a versão a GPL
E tenho mesmo de falar do GPL e depois da versão de topo.
Começemos pelo GPL, porque os números são inacreditáveis. Na geração anterior, 69% das vendas do Clio em Portugal foram da versão a GPL
Trata-se de uma mudança de mentalidade gigante. Durante anos fruto de um sistema, de uma comunicação errada, sob qualquer perspetiva – principalmente técnica pois os GPL podiam ser até 7 vezes mais seguros do que os de combustão, desde que montados por empresas credenciadas, existia o estigma do GP. Essa perceção mudou completamente.
Com os preços dos combustíveis (o GPL ainda é mais barato) e as novas leis que já permitem estacionar em parques subterrâneos, por exemplo, o consumidor passou a ver o GPL como uma escolha inteligente e segura. A nova versão tem um depósito de 50 L, o que lhe dá uma autonomia combinada de quase 1.500 km.
Mas isto leva-me a um paradoxo, uma contradição. Ora temos uma versão híbrida super-eficiente, topo de gama e paga mais impostos. O modelo híbrido, que é o mais avançado e emite menos emissões, paga um imposto sobre veículos de quase 4.000 €, mais precisamente 3.838 €.
Na prática, o legislador está a dizer ao consumidor:
- “Olha, tens aqui este automóvel, mais amigo do ambiente, mas vai ter de pagar um prémio fiscal por ele. O preço começa nos 28.990 € e uma boa fatia disso é imposto”
É um caso clássico em que a política não acompanha a tecnologia. A Renault investe milhões para desenvolver um carro mais clean e o legislador, na prática, desincentiva a sua compra. É um paradoxo.
Em resumo, o Clio 6 é um manifesto de como um carro compacto pode evoluir. É mais arrojado no design, possui uma qualidade interior de segmento superior, tecnologia útil e o mais importante, é mais envolvente de conduzir.
Deixo um pensamento final, para o futuro que vem diretamente deste novo Clio: este integra tecnologias como o sistema Google e a partir de 2026 vai ter o assistente de inteligência artificial Gemini. Sistemas que há pouquíssimo tempo estavam reservadas a carros de luxo. Num futuro em que os automóveis são cada vez mais computadores sobre rodas, o que é que vai ser mais decisivo na hora da compra? O motor que está debaixo do capot ou o sistema operativo que está por trás do ecrã?
Quero ouvir o Spotify do Renault Clio 6 https://open.spotify.com/episode/7o5ZJMaR3L84gSADZSytUD?si=bf44ea8de54d456e
Quero ver a apresentação em vídeo: https://youtu.be/1NbubuzthOk





























